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Drica Lara: a criativa por trás do show da Ludmilla no Rock in Rio

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Drica Lara: a criativa por trás do show da Ludmilla no Rock in Rio

A criadora de experiências, gestora de talentos e professora de tendências curitibana mostrou na apresentação milionária da cantora no festival o potencial de sua criatividade, técnica e estratégia


20 de outubro de 2022 - 15h50

Drica Lara é gestora de talentos, professora de tendências, e no dia 11 de setembro mostrou a que veio na direção criativa do show da cantora Ludmilla no Rock in Rio (Crédito: Arthur Nobre)

Drica Lara diz que é a fusão dos pais. Adotada por um casal que não podia ter filhos, ela conta ter acreditado por muito tempo que a adoção não interferia em sua personalidade até perceber que isso faz, sim, muita diferença sobre quem é. “Sempre me doei muito ao outro, e isso é um pouco de quem sou.” 

Mas, depois do dia 11 de setembro deste ano, ela precisou aprender a estar em evidência. Naquele momento, no Rio de Janeiro, Drica exibia para todo o Brasil, entre público e mercado, o resultado do maior projeto de sua carreira até então: a direção criativa do show comemorativo de 10 anos de atividade da cantora Ludmilla, apresentado no Palco Sunset do Rock in Rio. Eram aproximadamente 100 mil pessoas ao vivo e outras milhares remotamente que assistiam ao espetáculo exclusivo, que representava uma nova era na carreira da cantora, o marco de seu posicionamento como artista brasileira no mundo. 

A direção do “show de milhões” também significou uma virada na vida profissional de Drica. A expressão foi usada repetidamente nas redes sociais, mas nada parece mais pertinente para se referir a um espetáculo que custou impressionantes R$ 2 milhões. Embora atue na indústria musical desde o início dos anos 2000, quando começou como designer de flyers e depois tornou-se produtora executiva de shows e festivais de rap em Curitiba – ela levou para a capital paranaense artistas no começo de carreira como Emicida, Criolo, Rincon Sapiência, Projota e Flora Matos –, foi a concretização do trabalho na Cidade do Rock que a posicionou como uma diretora de entrega com “padrão internacional”, como diz. 

Ela foi indicada para a função na apresentação de Ludmilla pelo amigo Kaique Brasileiro, head de marketing da artista, e atribui a indicação à sorte. “Minha expertise não era exatamente de palco e grandes eventos. Sou muito competente nisso, mas acho que tudo aconteceu pela sincronicidade da vida. Quando ele me indica entre tantos nomes, acredito que tenha a ver com a forma com que conduzo projetos. Tudo o que vivi na minha vida me preparou para aquele momento. Todas as pessoas que passaram por mim e trouxeram dor, amor e tudo o que aprendi. Externei quem eu sou naquele show”, explica. 

O resultado foi mesmo surpreendente. A apresentação virou o assunto mais comentado do mundo no Twitter e Roberto Medina, criador do Rock in Rio, ligou para Ludmilla em seguida para dizer que o show havia sido um dos melhores da história do festival. “Todo esforço valeu à pena”, a cantora publicou em suas redes sociais ao tornar pública a ligação. 

POR TRÁS DOS BASTIDORES 

Drica conta que a criação e a produção do show foram feitas por várias mãos, e que sua função foi pegar todas as informações e montar o espetáculo com um propósito em mente: ele deveria ser icônico, inesquecível e tocar o público como uma experiência religiosa. Alguns detalhes já estavam definidos. “A Ludmilla queria uma pantera na entrada, e a mesa foi idealizada pelo Kaique. A ideia era trazer rotatividade de artistas femininas para o show, pois é muito difícil para elas estarem no mercado musical. Então a Ludmilla teria sua mesa no palco e daria espaço para quem ela quisesse, porque nunca deram espaço para ela nas mesas alheias”, explica. 

Com os direcionamentos fechados, a diretora se empenhou em estudar referências e colocou a mão na massa. “Estudei todos os palcos do Coachella e desenhei tudo com as arquitetas. Também nos preocupamos em trazer iconografia para o show e passar mensagens em alguns momentos-chave da apresentação. Queríamos mostrar como a Ludmilla está entre as melhores cantoras do Brasil sem precisar falar diretamente isso. Trabalhamos com cores também, cada momento tinha uma principal.” 

O show da cantora trazia mesmo cores bem definidas em cada bloco da apresentação. Na abertura, a ideia era posicionar Ludmilla como a “Rainha da Favela” e mostrar a que veio e sua força no Brasil. Por isso, a cor para representar o momento foi o vermelho. “Foi a artista que mais pediu flames no festival. Tínhamos uma razão”, conta Drica. Para o segundo bloco, eles trouxeram o roxo neon, com o objetivo de provocar um alívio visual num tom de divindade. Já o momento em que ela beija a esposa, Brunna Gonçalves, ao som de “Maldivas”, é ambientado em azul, para parecer que estão no fundo do mar. No bloco final do espetáculo, o “Fervo da Lud”, ela retoma a camiseta da seleção brasileira na pegada do brasilcore, com fotos projetadas da fotógrafa Salem, da favela da Rocinha, também conhecida como “Fotogracria”. 

Na abertura do show de Ludmilla, a ideia era posicionar a cantora como “Rainha da Favela”, diz Drica (Crédito: Reprodução/Instagram)

“Fechamos com o bom e velho funkão. Todos dançaram, aproveitaram e saíram sorrindo, tocados. Era isso que queríamos”, diz Drica, que comenta também como a estratégia para cada momento do show foi feita e alimentada em todos os canais de Ludmilla, sobretudo nas redes sociais, para que o público não tivesse dúvida das mensagens passadas na apresentação. 

DE DESIGNER DE FLYERS À EMPRESÁRIA DE RAPPERS 

Drica conta que sua infância foi marcada por um mundo muito lúdico, infantil e cheio de propagandas. “Formou meu olhar para o design gráfico”, diz a criativa, que se graduou anos depois no curso da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Seu talento, aliado à técnica, a levou à ilustração e aos flyers culturais. “Fazia para veículos como a Capricho, então me especializei em desenhar especialmente por isso.” Depois, ela fez pós-graduação em cool hunting na mesma instituição.  

Curiosamente, foi com os flyers de festivais que ela enxergou uma oportunidade de pensar mais alto. “Um investidor de shows me chamou para fazer os flyers deles. Era uma boa graninha. Depois, me chamaram para um festival de rap. Eu já tinha contato com alguns artistas e produtores, pois meu marido é produtor musical e já havia muita movimentação da cena brasileira na minha casa.”

Drica é casada com Nave Beatz, vencedor do Grammy Latino natural de Santa Catarina que se mudou para Curitiba ainda na adolescência e, hoje, faz sucesso na produção de batidas para Emicida, Marcelo D2, Flora Matos, entre tantos outros artistas. Ela começou, então, a criar eventos de rap na cidade, que ainda carecia de uma cena estruturada do movimento na época. “A ideia era mais do que fazer eventos, mas criar experiências. Antes, havia no máximo festas de rap. Profissionalizamos isso na cidade. Tudo começou ali”, lembra. Era o início da Sallve, produtora do casal que fez muitos eventos em Curitiba. 

Drica e seu marido, Nave Beatz, fomentaram a cena de rap em Curitiba nos anos 2000. Era o começo do empresariado de artistas brasileiros como Karol Conká e Bivolt (Crédito: Arthur Nobre)

Em pouco tempo, Drica iria empresariar rappers independentes de todo o Brasil em um movimento que aconteceu naturalmente. “No começo, éramos eu e o Nave produzindo e trazendo o rap para Curitiba. Não tínhamos dinheiro e outras pessoas para fazer e cuidar das coisas. Na sequência, veio a Karol Conká, em 2010, um divisor de águas na carreira de todos os envolvidos. Passei a cuidar dela enquanto entendia como tudo funcionava. Na MPB e em outros movimentos, estava mais avançado.” 

KAROL CONKÁ, BIVOLT E SONHOS CONCRETIZADOS 

Aos poucos, Drica desenhou uma trajetória profissional muito forte nos bastidores das carreiras de artistas de diferentes regiões do país. Como ela disse, uma das mais conhecidas é a rapper curitibana Karol Conká, com quem lançou, ao lado de Nave, o álbum Batuk Freak (2013), vencedor no mesmo ano do prêmio do Multishow “Aposta”. A obra abriu portas para Conká e a posicionou como um dos principais nomes do rap da sua geração.  

Em 2018, a profissional assumiu a rapper paulista Bivolt, com quem foi indicada ao Latin Grammy, em 2020, na categoria internacional “Melhor Vídeo Musical Versão Curta” pelo clipe de “Cubana”, faixa que integra o álbum Bivolt (2020). Em 2022, fez três shows no South By Southwest (SXSW) e, em seguida, estreou no Lollapalooza no tributo a Taylor Hawkins, dividindo o palco com nomes como Racionais MCs, Djonga, Criolo, Rael e Drik Barbosa. 

“Sempre orientei os artistas do ponto de vista estratégico e criativo. Além de gerenciar carreiras, crio atmosferas, e isso sempre esteve intrínseco nas minhas entregas. Meu trabalho consiste muito em organizar e ler o mercado para entender como lidar e potencializar talentos em determinados cenários”, conta Drica, que aos poucos passou a integrar mais pessoas para desenvolver projetos ainda mais ambiciosos. Um deles foi Kaique Brasileiro, profissional que depois viria a produzir o show da Lud com ela. “Chegamos a sonhar em trabalhar com a Ludmilla juntos”, lembra. 

O PRÓXIMO SHOW 

Drica deu esta entrevista em meio a reuniões com emissoras e produtoras, mas não revelou seus passos seguintes na carreira. “Sucesso é o que estou vivendo agora, com projetos incríveis em que trabalho com direção criativa, algo de que gosto muito. Mas também amo dar aula, que apareceu como uma mágica para mim. Esse é um grande momento da minha vida”, diz a diretora, que é ainda professora de pós-graduação em Tendência e Coolhunting na PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). 

“Sempre orientei os artistas do ponto de vista estratégico e criativo. Além de gerenciar carreiras, crio atmosferas”, conta Drica (Crédito: Arthur Nobre)

Quando fala sobre a fórmula para artistas talentosos, ela é direta: “É preciso estar obstinado no seu propósito de sucesso. Tem que seguir. Há potenciais e talentos que não acontecem por preguiça. Hoje, depois de quase 15 anos no mercado, sei que o diferencial de um artista é a obstinação no propósito. E a sorte, claro”. 

Ao pensar nos próximos projetos que pode compartilhar, ela apenas comenta: “quero colaborar mais com projetos como o do Rock in Rio. Gostei da brincadeira e quero brincar mais um pouquinho. Também desejo fazer um mestrado de tecnologia e neurociência”.  

Que Drica siga obstinada no propósito de sucesso dela. Talentosa, ela acaba de mostrar a todos os brasileiros do que é capaz.  

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