Maioria das empreendedoras brasileiras faturam até R$ 2.500 por mês

Buscar
Publicidade

Women to Watch

Maioria das empreendedoras brasileiras faturam até R$ 2.500 por mês

Pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2023”, do Instituto Rede Mulher Empreendedora, revela os principais desafios das empresárias femininas


14 de novembro de 2023 - 14h07

(Crédito: Seventyfour/Adobe Stock)

A Pesquisa IRME 2023, também conhecida como “Empreendedoras e Seus Negócios 2023”, conduzida pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) e executada pelo Instituto Locomotiva, acaba de ser divulgada. O estudo destaca que o perfil das empresárias brasileiras é caracterizado pelo baixo faturamento, sendo 82% delas mulheres negras, das classes DE (98%) e com negócio por necessidade (83%). 

Segundo Ana Fontes, empreendedora social, fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora (RME), o Instituto RME realiza essa pesquisa há oito anos e traz pontos de reflexão e discussão atualizados sobre o cenário da mulher empreendedora brasileira, tanto positivos quanto negativos. “A 8ª edição da pesquisa ‘Empreendedoras e Seus Negócios’ é fundamental não apenas para direcionar as ações da RME (Rede Mulher Empreendedora) e do Instituto RME, mas também para influenciar e pautar as políticas públicas de apoio às mulheres. Elas representam quase metade dos pequenos negócios em nosso país”, diz. 

Perfil 

As empreendedoras entrevistadas são predominantemente negras, da região Sudeste, de 30 a 45 anos e de baixa renda. Sobre a composição familiar, 70% são mães e mais da metade têm filhos acima dos 18 anos. Sete em cada dez cursaram até o ensino médio. 

Alimentação e bebidas, beleza e cosméticos, artesanato e vestuário são os principais ramos de atuação dessas mulheres. Em comparação aos homens, existe uma grande diferença entre os setores, uma vez que os principais ramos de atividade deles são alimentação e bebidas, tecnologia e informação, transporte e veículos e vestuário e acessórios. 

Empreendedorismo por necessidade 

A maioria das entrevistadas (55%) afirmaram ter iniciado seus negócios por necessidade, resultado do perfil de baixa escolaridade e baixo faturamento. As empreendedoras são predominantemente da classe D e E, com ensino fundamental completo, negras, com negócios de até dois anos de existência. Mais da metade começaram seus empreendimentos após a maternidade. 

Entre as que empreendem por oportunidade (40%), a maioria é das classes A e B, com ensino superior completo, e começaram seus negócios também depois da maternidade. Além disso, a maioria não é negra e tem empreendimentos há mais de cinco anos. 

Esses dados demonstram como há uma grande diferença entre as empreendedoras negras e não negras: 65% das empresárias negras são da região Norte, das classes C, D e E, com menor faturamento, e começaram a empreender por necessidade. 

Desafios, sobrecarga e saúde mental

Grande parte dessas empreendedoras (92%) afirmaram que seus negócios são muito importantes e fazem parte de suas identidades, por isso os mantêm funcionando. Um grande desafio e, ao mesmo tempo, um motivador que as levaram ao empreendedorismo foi a necessidade de conciliar os trabalhos de cuidado da casa e família com o trabalho.  

Mesmo assim, 60% delas se sentem sobrecarregadas pelo acúmulo de tarefas domésticas, e 85% concordam que a sobrecarga dos cuidados com a casa e família atrapalham mais a elas do que aos homens em suas jornadas empreendedoras. 

A pesquisa também abrange os motivos que levaram algumas mulheres ao fechamento de suas empresas, sendo problemas financeiros a principal razão. Entre os motivadores destacados estão a falta de crédito para investir e pagar as despesas, dificuldades de arcar com os custos de estrutura e transporte e problemas para manter uma renda fixa mensal. 

Entre outros motivos estão a falta de flexibilidade (13%), que incluem falta de apoio de familiares, companheiro(a) e amigos, e conflito com tarefas domésticas e estudos. Em terceiro lugar está a falta de capacitação (3%). 

Visto os grandes desafios que estas empreendedoras passam, 7 em cada 10 já sofreram alguma crise de ansiedade, depressão ou outro problema de saúde mental. Ainda que a maioria considere que seus parceiros são incentivadores, elas acreditam que poderia haver maior divisão nas tarefas domésticas. 

Formalidade 

Sobre questões de estrutura do negócio, existe uma grande diferença quanto à formalidade dos empreendimentos entre empreendedoras de diferentes regiões do país. Enquanto a maioria das mulheres com CNPJ se concentram nas regiões do Sul e Sudeste, a maioria dos negócios informais estão concentrados nas regiões do Norte e Nordeste. De modo geral, 52% não têm CNPJ. 

Entre as que estão informais, 50% justificam não terem um CNPJ por falta de dinheiro para pagar os custos inerentes, principalmente mulheres mais jovens, das classes D e E, e com tempo de negócio de até dois anos. 

Rentabilidade 

Como já destacado, a maioria das empreendedoras mulheres no Brasil, 6 em cada 10, faturam até R$ 2.500 mensais. Apenas 17% conseguem ultrapassar a marca dos R$ 5.000 por mês. Dessas, 50% pertencem às classes A e B. Quando essas mulheres têm lucro, a maioria opta por reinvestir no próprio negócio ou guardar como poupança. Em contraste, homens que lucram tendem a direcionar esses recursos para investimentos no negócio, lazer e viagens. 

4 em cada 10 empreendedoras ainda não têm faturamento suficiente para cobrir os custos da empresa. Apenas 10% conseguem ganhar dinheiro suficiente para investir em outras coisas além das despesas básicas empresariais e contas pessoais. 

Nesse contexto, mais de 70% das empreendedoras têm dívidas, sendo que 43% estão com parcelas atrasadas. As mulheres que se enquadram nessa estatística são predominantemente negras, das classes D e E, com faturamento de até R$ 2.500 e que empreendem por necessidade. Os motivos para o alto endividamento são a falta de planejamento financeiro, a perda inesperada de emprego e gastos com saúde que não foram previstos. 

Outros dados apontam que 25% das mulheres empreendedoras buscaram crédito ou empréstimo para seus negócios, principalmente junto a bancos, usando recursos para capital de giro, aumento de estoque e aquisição de equipamentos. Dessas, 19% pediram como pessoa física, e apenas 6% como pessoa jurídica. 

A Pesquisa IRME 2023 foi conduzida online, por meio de entrevistas com 4.180 pessoas de todo o país, maiores de 18 anos, que têm negócio próprio ou trabalham por conta própria, no período de 6 a 30 de julho de 2023.

Publicidade

Compartilhe

Veja também