Homens controlam US$ 105 trilhões a mais do que mulheres
Estudo da Oxfam aponta que desigualdade social e econômica cresceu nos últimos anos e ampliou as disparidades de gênero no mundo
Homens controlam US$ 105 trilhões a mais do que mulheres
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Meio & Mensagem
2 de fevereiro de 2024 - 14h35
Um relatório divulgado recentemente pela Oxfam, chamado “Desigualdade S.A.” revelou que, em termos globais, os homens detêm um patrimônio de US$ 105 trilhões a mais do que as mulheres, uma disparidade que equivale a mais de quatro vezes a economia dos Estados Unidos. Essa diferença, amplamente atribuída à desigualdade de gênero, tornou-se ainda mais evidente durante a última década, que foi marcada por desafios globais e crescente disparidade econômica.
De acordo com o relatório, 4,8 bilhões de pessoas enfrentaram uma queda em seu padrão comparado a 2019. As mulheres, em particular, foram impactadas de maneira ainda mais severa, visto que são amplamente sobrerrepresentadas nos empregos mais mal pagos e precários, ganhando apenas US$ 0,51 para cada dólar recebido por homens em 2019.
De modo geral, a desigualdade global cresceu pela primeira vez em 25 anos. Os governos estão lutando para manter a estabilidade financeira diante da crescente dívida e do aumento nos custos de importação de combustíveis, alimentos e medicamentos. Prevê-se que os países de baixa e média-baixa renda enfrentem um ônus financeiro significativo, pagando quase meio bilhão de dólares por dia em juros e dívidas até 2029. Infelizmente, esses cortes orçamentários impactam de maneira desproporcional as mulheres, que já enfrentam disparidades salariais e condições de trabalho precárias, de acordo com o texto.
As grandes empresas também são apontadas como contribuintes para o aumento da desigualdade, ao utilizar seu poder para reduzir salários e direcionar lucros para a elite. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou em 2022 sobre o declínio histórico dos salários reais. A análise do relatório da Oxfam destaca que o resultado foi a perda de US$ 1,5 trilhão para 791 milhões de trabalhadores nos últimos dois anos. As trabalhadoras femininas também sofreram impactos econômicos mais graves devido à pandemia e perderam coletivamente US$ 800 bilhões em renda em 2020.
“As mulheres e pessoas discriminadas e excluídas por raça e etnia recebem salários de fome e enfrentam desrespeito generalizado a seus direitos e péssimas condições de trabalho, enquanto as empresas usam sua influência para garantir políticas trabalhistas favoráveis”, aponta o relatório da Oxfam.
A disparidade de gênero também se reflete nas estruturas de propriedade empresarial, onde apenas uma em cada três empresas é de propriedade de mulheres globalmente. Outra pesquisa destacou que empresas com acionistas mulheres têm maior probabilidade de ter mulheres em cargos executivos. “Esses dados sugerem que as estruturas de propriedade dos ‘clubes dos meninos’ podem dificultar o empoderamento das mulheres nas empresas”, aponta o texto.
Os baixos salários condicionam muitos trabalhadores a longas jornadas de trabalho e pouca mobilidade social, perpetuando o ciclo da pobreza. Além disso, as disparidades salariais entre os gêneros e as pesadas cargas de cuidado não remunerado refletem uma economia global que se baseia na exploração sistemática das mulheres. O trabalho de cuidado não pago às mulheres subsidia US$ 10,8 trilhões por ano à economia global, valor três vezes maior do que a indústria tech mundial.
“Em vez de investir em salários mais elevados e melhores condições de trabalho (como políticas que dariam apoio mais eficaz às responsabilidades de cuidado), empresas poderosas optaram por enriquecer seus proprietários, um grupo que, como mostra este relatório, é desproporcionalmente ultra rico e vive no Norte Global”, aponta a organização.
Das quase 2 mil maiores empresas do mundo, apenas 24% afirmam ter um compromisso público com a igualdade de gênero e 2,6% divulgam informações sobre a proporção de salários entre mulheres e homens. “Os cuidados e o trabalho doméstico feitos pelas mulheres, desproporcionalmente não remunerados e mal pagos, sustentam os lucros das empresas, com mulheres e meninas subsidiando efetivamente a economia ao realizar mais de três quartos do trabalho de cuidado não remunerado em todo o mundo”, informa o texto.
Em conclusão, o estudo chamou a atenção para a necessidade de combater a desigualdade de gênero, reforçar as estruturas democráticas nas empresas e promover mudanças sistêmicas para alcançar justiça econômica e social, como a garantia de salários dignos, comprometimento com a justiça climática e apoio aos sindicatos. Além disso, apela por ações governamentais vinculantes para proteger os direitos das mulheres e grupos discriminados. A organização destaca que a urgência de ações globais coordenadas é evidente para reverter as tendências preocupantes e construir um futuro mais igualitário e justo para todos.
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