O mundo pertence às pessoas emocionadas
O mundo anda frio demais. E, não, não estou falando de mudança climática. Estou falando das relações humanas, mesmo
O mundo anda frio demais. E, não, não estou falando de mudança climática. Estou falando das relações humanas, mesmo
13 de janeiro de 2023 - 6h32
Essa época de início de ano é muito propícia para a gente fazer mil resoluções, estabelecer metas e investir no desenvolvimento pessoal. E, aproveitando essa época em que todo mundo está escolhendo qual vai ser a sua personalidade de 2023, eu queria usar essa coluna para falar das vantagens de ser uma pessoa emocionada. Eu realmente acho que o mundo pertence aos emocionados e que a gente pode fazer a diferença.
Na volta do recesso, passei longas horas dentro de um ônibus interestadual e aproveitei o momento de ócio para refletir sobre isso. Foi então que me veio à cabeça que o mundo anda frio demais. E, não, não estou falando de mudança climática. Estou falando das relações humanas, mesmo.
Acho que a gente está vivendo um tempo muito conturbado e incerto, principalmente aqui no Brasil. Isso, somado ao estresse da vida profissional, à correria do dia a dia e aos desafios sempre presentes na rotina dos profissionais de propaganda, está deixando as pessoas mais frias, mais duras, mais impassíveis. Indiferentes, até.
Isso não é bom de um modo geral, mas é especialmente ruim para quem trabalha com propaganda, comunicação e marketing. Afinal, a gente, mais do que todo mundo, precisa entrar em contato com as dores e os desejos das pessoas. E, como fazer isso sem ser minimamente maleável? Sem se deixar tocar pela vida?
Mais do que entender, acho que a gente precisa sentir. Caso contrário, o trabalho fica mecânico, frio, vazio de qualquer significado. Não toca as pessoas. Não alcança o público. Não cumpre seu papel.
Do momento em que se tem uma ideia numa sala de brainstorming até ela de fato ver a luz do dia, existe um longo processo de vai e volta e de aprovações. Para colocar um projeto na rua, é preciso ser um emocionado. É preciso acreditar, e acreditar mais um pouco.
O dia a dia do publicitário envolve uma emoção constante, um sentimento de acreditar na ideia e imaginar que vai dar certo. Na propaganda, todos os dias precisamos insistir muito até que uma ideia esteja perfeita para, só então, sentir aquele friozinho gostoso na barriga quando a ideia finalmente vai pra rua.
Na coluna em que falei sobre a proliferação de lideranças femininas na área de planejamento, comentei que, na minha opinião, uma das razões para essa tendência é que as mulheres são treinadas desde pequenas a serem empáticas e sensíveis, e que a sensibilidade é fundamental para o planejamento estratégico.
Nesse sentido, acho que reprimir as emoções e agir de forma totalmente racional é extremamente prejudicial na nossa área. Quem tem a criatividade como ganha-pão não pode se dar ao luxo de ser 100% técnica e racional. Tem que ter uma dose generosa de emoção, se não a receita desanda.
É preciso de uma pitada de razão, também. Mas ela não deve jamais nos paralisar, nem funcionar como um filtro que retém as melhores ideias porque pareciam bobas demais, banais demais, sentimentais demais.
Na minha humilde opinião, é importante se deixar permear pelas coisas que acontecem e que, muitas vezes, a gente nem presta atenção. É preciso se comover com a história entreouvida no metrô, se surpreender ao conversar com o feirante numa manhã de domingo, ter um momento nostálgico ao sentir um cheiro que lembra a infância, se emocionar ao ouvir uma música bonita num comercial.
É preciso, até mesmo, poder se afogar num pote de sorvete enquanto assiste a uma série, porque às vezes essa é a única maneira de lidar com uma situação complicada. A gente não devia ter medo nem vergonha de expor nossos sentimentos e demonstrar vulnerabilidade.
É por essas e outras que, mesmo sendo uma grande entusiasta da inteligência artificial e da tecnologia, eu duvido muito que as máquinas um dia vão substituir totalmente o nosso trabalho. Ainda acredito na sensibilidade e nas emoções humanas sobre as coisas, e isso não pode ser simplesmente programado. Porque os robôs não vivem essas coisas. Eles não passam por experiências marcantes. Eles não riem até a barriga doer, nem choram depois de tomar um pé na bunda. Eles podem até aprender como simular uma sensação, mas não podem sentir na pele, de fato.
Quando eu estava começando a trabalhar em agência, eu descobri um KPI interno de sucesso pessoal, que era o frio na barriga. Toda vez que eu entrava num job que me empolgava, quando começava um emprego novo que me deixava animada, quando lia alguma coisa que me dava uma ideia ou quando ouvia alguma música que me inspirava em algum projeto, eu sentia frio na barriga. De novo, é a emoção mostrando quando a gente está no caminho certo.
Então, decidi que minha meta de ano novo é ser cada vez menos parecida com um robô e cada vez mais com uma pessoa cheia de emoções caóticas e de sentimentos transbordantes. E, é claro, de frio na barriga.
É sobre ser mais emocionada e não ter vergonha disso.
Vamos?
Compartilhe
Veja também
Como as mulheres estão moldando o mercado dos games
Lideranças femininas de diferentes players falam sobre suas trajetórias profissionais na indústria
Como Rita Lobo fez do Panelinha um negócio multiplataforma
Prestes a completar 25 anos à frente do projeto e com nova ação no TikTok, a chef, autora e empresária revela os desafios de levar comida de verdade dos livros de receitas para outros espaços