Entre o Pix e o Pudo, a favela reinventou o e-commerce
A Black Friday está chegando e, com ela, uma oportunidade que o varejo não pode mais ignorar

(Crédito: Nós/Divulgação)
A Black Friday está chegando e, com ela, uma oportunidade que o varejo não pode mais ignorar: 18 milhões de moradores com um potencial de consumo de R$ 167 bilhões por ano. Isso mesmo. Estou falando das favelas brasileiras, que hoje representam uma das maiores e mais pulsantes fronteiras de crescimento para o varejo popular.
Nos últimos cinco anos, para ser bem exata, essas comunidades passaram por uma verdadeira revolução no comportamento de consumo. A digitalização acelerada, impulsionada pelo acesso à internet móvel, popularização dos smartphones e adoção massiva do Pix, mudou radicalmente o cenário de compra nas periferias.
Mas não se trata apenas de avanço tecnológico. É também sobre infraestrutura, inteligência e logística, nascidas dentro da própria favela. Diante das lacunas deixadas pelos grandes players de delivery e marketplaces, como a ausência de CEPs funcionais e os altos custos do last mile, surgiram soluções criadas por empreendedores locais.
Trago aqui dois bons exemplos e bastante pioneiros: o Carteiro Amigo e o Na Porta. Ambas as empresas organizam entregas em vielas e áreas de difícil acesso, atendendo marcas como C&A, Centauro, Magalu, Shein, Renner, Reserva, Mercado Livre e Amazon.
Além da entrega porta a porta, criaram hubs comunitários de retirada e envio de produtos e começaram a operar com a lógica do modelo Pudo (Pick-Up Drop-Off), em que o cliente pode buscar ou deixar seu pedido em pontos de coleta próximos de casa.
Mais do que resolver a entrega, essas soluções oferecem o pilar mais estratégico do varejo digital: conveniência.
E conveniência, ao contrário do que muitos pensam, não é luxo: é serviço. É uma necessidade básica. Quem resolve a dor da espera, da fila, do transporte precário e da insegurança, entrega muito mais do que uma compra. Entrega confiança. Conquista repetição.
Quem trabalha com marcas, sabe: fidelizar é o verdadeiro pulo do gato. O custo de aquisição de cliente (CAC) é alto e, cada experiência frustrada, representa uma venda a menos e um ruído a mais na reputação.
Hoje, o ticket médio de compra nas favelas pode variar entre R$180 e R$450. Marcas que garantem uma jornada fluida — do clique à entrega – constroem presença, preferência e lealdade. Em tempos de excesso de oferta e escassez de atenção, fidelidade é o novo luxo do marketing.
Segundo dados do Tracking das Favelas, estudo mensal da Nós – Inteligência e Inovação Social, mais de 70% dos consumidores das comunidades já realizaram compras online. E esse número não para de crescer, porque a favela já resolveu os dois principais entraves para entrar no e-commerce: logística e pagamento digital.
Diante de mais uma Black Friday, fica a dica, e o convite: olhar para as favelas não é mais uma questão de inclusão, mas de inteligência de mercado.