Para Monique Evelle dinheiro e impacto social não são palavras rivais
Integrante do Conselho do Pacto Global da ONU chama a atenção para investimentos nas regiões Norte e Nordeste
Para Monique Evelle dinheiro e impacto social não são palavras rivais
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Marina Vergueiro
21 de agosto de 2023 - 9h22
Monique Evelle diz que sempre sonhou que aos 50 anos seria uma grande investidora. “Sabia que ia trilhar esse caminho, mas coloquei um prazo maior porque não tinha pessoas que se pareciam comigo fazendo isso. Mas, quando fiz meu primeiro investimento, aos 24 anos, pensei que talvez adiantasse em 25 anos essa possibilidade”, conta a executiva, que este ano participa do elenco de investidores da oitava temporada do programa Shark Tank Brasil, do Sony Channel.
Baiana da periferia de Salvador, Monique foi reconhecida como uma das 500 Pessoas Mais Influentes da América Latina (2022) e uma das 100 Empreendedoras do Ano (2021) pela Bloomberg Línea. Ela iniciou sua trajetória profissional aos 16 anos, em 2011, quando empreendeu pela primeira vez criando o Desabafo Social, um laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação. Passados cinco anos, criou a Kumasi, primeiro marketplace para afro empreendedores de moda e acessórios no Brasil. Monique também teve uma passagem pelo jornalismo da TV Globo, em 2017, quando aceitou o desafio de integrar a equipe do programa Profissão Repórter.
Ao lado de Lucas Santana, é cofundadora da Inventivos, plataforma de formação, conexão e investimento na nova geração de empreendedores do Brasil e, mais recentemente, tomou à frente da Inventivos Angels para investimento em startups. Como consultora de inovação e criatividade para o NuBank (2021-2022), contribuiu para a criação de iniciativas de inclusão e diversidade, como o Fundo Semente Preta, de fomento para startups fundadas por pessoas pretas, além de novos produtos financeiros para pessoas jurídicas. “Realizei muitas coisas muito cedo. Não tive escolha a não ser a primeira em muitas coisas, considerando o meu contexto como jovem e mulher negra. Sinto felicidade por ter conseguido conquistar e realizar as coisas que eu queria, mas, ao mesmo tempo, sei que é uma responsabilidade e fico pensando todos os dias, quando durmo e acordo, como não transformar essa responsabilidade e esses momentos de felicidade em fardo”, afirma.
Em 2022, Monique tornou-se conselheira da Reprograma, organização social para a capacitação profissional de mulheres, além de membro do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), que propõe às empresas alinharem suas estratégias e operações aos dez princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Desde o início da carreira, Monique promove investimentos no eixo Norte e Nordeste, em contraposição à concentração de dinheiro no Sudeste. “Partimos do pressuposto, como investidores anjos, que além do dinheiro precisamos oferecer capital social, intelectual, rede de contatos e possibilidades para fazer a empresa chegar mais rápido onde ela quer.
Meio & Mensagem – O que faz uma ideia se tornar um bom empreendimento?
Monique Evelle – Inovação é fazer funcionar. Às vezes, as pessoas chegam até mim falando que têm uma ideia genial, só falta dinheiro. Toda ideia precisa ser testada e não necessariamente precisa de dinheiro para testá-la. Para mim, ideia boa é quando ela está na rua, em ação e funciona. E quando falo em funcionar, não significa que toda ideia precisa se transformar em uma startup e virar um unicórnio. Às vezes, o funcionar acontece em um bairro, na cidade, na região. Ou seja, se tem clientes pagando por aquilo. Você não vive de doações e nem apenas de aperto de mão e visibilidade, a não ser que saiba transformar a visibilidade em dinheiro. Fora isso, não funciona. Então, uma ideia boa é quando você testa e funciona e não fica no campo do planejamento, porque é muito melhor ter 1% de ideia executada do que 99% de algo planejado.
M&M – Qual é o seu papel como membro do Conselho Consultivo do Pacto Global da ONU?
Monique – Tem uma coisa de utilizar o poder que a ONU tem para convencer as empresas da importância das pautas necessárias para a humanidade. Estou falando de sustentabilidade, de diversidade e inclusão e questões de gênero. Como já trabalho com pequenas e grandes empresas, e o Pacto Global oferece às empresas jornadas de aprendizado, fazendo com que possam se comprometer publicamente com essas bandeiras e movimentos, como a questão da água e movimento racial, o meu papel é decodificar a importância de fazer parte da construção de uma sociedade justa e ambientalmente viável.
M&M – O que você diria que é imprescindível para se criar um negócio de impacto social?
Monique – Pensar desde o dia um o impacto e entender que dinheiro e impacto social não são palavras rivais, de jeito nenhum. Existe um modelo chamado negócio de impacto, onde você consegue pensar como vai ganhar dinheiro e impactar as pessoas positivamente ao mesmo tempo. A diferença é que o lucro desse negócio você não vai colocar no bolso e vai dividir com seus acionistas, investidores e com seus sócios. Vai reinvestir na empresa, mas o dinheiro está ali. Temos muito receio de criar negócios de impacto, pois sempre se fala de criar um coletivo ou uma ONG, porque acreditamos que o dinheiro não tem que estar envolvido. Mas, se você está falando de impacto, provavelmente terá de contratar pessoas e remunerá-las de forma justa. Se você quer sair de dez pessoas para cem pessoas impactadas socialmente, vai precisar de dinheiro. De cem pessoas para 1 milhão, vai precisar de dinheiro.
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