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Qual é o significado de sucesso para lideranças femininas?

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Qual é o significado de sucesso para lideranças femininas?

Segundo executivas, alcançar objetivos, cargos e prêmios é importante, mas o sucesso vai além


29 de abril de 2024 - 17h11

Você já se perguntou qual o significado de sucesso na sua carreira? Alcançar uma posição de liderança, ter um salário X, trabalhar na empresa Y, ganhar o prêmio Z. Ou, ainda, o sucesso seria ter estabilidade financeira, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e impactar positivamente o mercado. Você já parou para se questionar sobre isso? Na experiência de Claudia Colaferro, coach de desenvolvimento de carreiras e fundadora da AngelUs, muitas mulheres não sabem aonde querem chegar. 

“Muitas brasileiras não sabem o que querem ser, qual é o propósito delas no mundo, que metas querem alcançar, nem fazem planos ou reconhecem seus talentos”, afirma a fundadora da plataforma que prepara as mulheres para assumirem posições de liderança. “Na prática, isso significa que muitas não planejam suas carreiras e, por isso, podem não alcançar tanto sucesso quanto poderiam”, complementa. 

O que quero fazer quando crescer?

A dúvida sobre “o que fazer quando crescer?” nos rodeia desde a infância. Alguns têm a possibilidade de escolher seu curso na faculdade, outros seguem um caminho diferente devido aos imperativos da vida. Na verdade, a questão chega a ter um significado existencial e, por isso, pode nos encontrar em qualquer momento da nossa jornada, seja no início, no meio ou no final. 

A família pode ser um grande influenciador deste caminho, seja no sentido de seguir o destino sugerido pelos pais ou de se rebelar contra ele. Agatha Kim, CSO da WMcCann, escolheu a segunda opção. “Na minha família, de origem coreana, as expectativas tradicionais incluíam casamento e filhos, mas eu segui um caminho mais voltado para minha carreira. Isso gerou uma certa dicotomia na minha vida”, conta. 

Agatha Kim, CSO da WMcCann: “Segui um caminho mais voltado para minha carreira, e isso gerou uma certa dicotomia na minha vida” (Crédito: Divulgação)

Na vida das mulheres, principalmente de gerações mais antigas, parecia não haver espaço para as duas coisas. “Venho de uma geração em que mulheres líderes eram raras. Eu mesma nunca tive uma chefe mulher, e as poucas que existiam não eram o que eu considerava um modelo do feminino”, reflete Colaferro. Hoje, em teoria, existe um leque maior de possibilidades, ainda que com muitos desafios e obstáculos.  

“Com a pauta feminina ganhando espaço, surgem exemplos de mulheres que conseguem conciliar carreira e maternidade. Eu mesma sou um desses exemplos: sou casada há 30 anos e mãe de dois filhos”, afirma Claudia. “É importante que as novas gerações vejam esses exemplos para entenderem que é possível encontrar seu próprio caminho de equilíbrio. Sempre digo que não se trata de abrir mão, mas de conciliar”, continua. 

O importante, segundo a coach, é descobrir sua própria rota. “Gosto de enfatizar isso: sucesso é se conhecer”, diz. “É importante orientar as pessoas a definirem oeu próprio sucesso, com base no que é importante para elas, e não apenas seguindo modelos pré-estabelecidos”. Um desafio grande, especialmente para as mulheres que sofrem diferentes pressões sobre quem elas podem ser e os espaços que podem ocupar. 

A realização de um sonho

Juliana Oliveira, hoje, é CEO e fundadora da Oliver Press, agência de comunicação especializada em estratégia corporativa e relações públicas, mas esta jornada não foi livre de percalços. “Desde pequena, sempre me vi seguindo os passos de mulheres inspiradoras como Glória Maria na televisão. No entanto, precisei trabalhar em outra área para pagar a faculdade durante meu último semestre”, lembra a empreendedora. “Estava em um ponto em que nem sabia se participaria da formatura, questionando se conseguiria realizar meu sonho de ser jornalista.” 

“Desde pequena, sempre me vi seguindo os passos de mulheres inspiradoras como Glória Maria. No entanto, precisei trabalhar em outra área para pagar a faculdade durante meu último semestre”, diz Juliana Oliveira, CEO e fundadora da Oliver Press (Crédito: Divulgação)

Ela não só conseguiu entrar na área, como traçou uma carreira de 17 anos e empreendeu seu próprio negócio. Quando questionada se considera ter alcançado sucesso, ela citou um momento significativo de sua carreira: quando recebeu o 17º prêmio Troféu Mulher Imprensa, na categoria Agência. “Apesar das dúvidas iniciais, alcançar esse reconhecimento após tanto tempo é incrível, especialmente considerando que havia momentos em que nem acreditava que obteria meu diploma”, celebra. 

Diferentemente de Juliana, que sempre soube que seria jornalista, muitas mulheres não encontram essa vocação logo de início. “Autoconhecimento não é algo fácil. Não é simples acertar e manter-se fiel a esse caminho”, afirma Claudia. “As referências externas podem nos distrair e nos fazer esquecer do que realmente queremos para nós mesmos”. 

A régua dos outros

“Houve um tempo em que eu media o sucesso principalmente pela validação externa, como uma carreira internacional, por exemplo”, lembra Agatha Kim. No começo da carreira, Agatha, que nasceu de uma família de classe média baixa, se sentia muito insegura por não ter o mesmo repertório que os outros publicitários. “Sentia que havia pessoas mais talentosas e inteligentes do que eu. Isso me levou a trabalhar mais e me preparar mais do que os outros, porque achava que não estava à altura do que os outros entregavam”, recorda.  

“Mas houve um momento decisivo na minha carreira, quando eu estava pensando em deixar a agência onde trabalhava. A liderança na época me perguntou: ‘Pelo que você quer ser reconhecida daqui a cinco anos?’. Eu não soube o que responder de imediato”, reflete a publicitária. “Era ser jurada de um festival? Era ganhar um Cannes ou um Caboré?”, questionou sua líder. 

A resposta para este tipo de pergunta nem sempre vem com facilidade. Na verdade, ela requer um processo de mergulho profundo em si. “Muitas vezes, estamos sempre olhando para o sucesso dos outros, como se fosse o nosso próprio. O maior desafio, eu diria, é exatamente esse: parar de comparar nosso sucesso com o dos outros”, reflete Claudia. 

Claudia Colaferro, coach de desenvolvimento de carreiras e fundadora da AngelUs: “O maior desafio, eu diria, é parar de comparar nosso sucesso com o dos outros” (Crédito: Divulgação)

“Após refletir, percebi que mais do que prêmios, eu queria ser reconhecida por impactar positivamente as pessoas ao meu redor e contribuir, mesmo que modestamente, para a sociedade”, completa Agatha. 

Na direção da carreira

Não há nada de errado em almejar uma posição de executiva, um prêmio de reconhecimento ou um salário maior. Na verdade, no caso das mulheres, elas também precisam sonhar em conquistar voos mais altos. “Não tenho problema nenhum em falar que o meu objetivo de vida é que a Oliver se torne uma das maiores agências de relações públicas do Brasil. Porque precisamos normalizar nossos sonhos, sabe? Senão, podemos limitar o potencial do empreendedorismo da mulher negra àquele lugar da sobrevivência”, contesta Juliana. 

Alcançar o topo pode ser diferente para cada uma, e pode até mudar de forma conforme o tempo. Certamente foi assim para Claudia. “Eu tinha o objetivo de ser CEO, e quando alcancei, me perguntei ‘E agora?’. Isso me fez querer mudar de direção”, afirma a coach. “Afinal, não é apenas sobre o destino final, mas sobre se a direção que estamos seguindo nos faz feliz”, reflete.  

Para Flávia Molina, CMO da Pernambucanas, a vida é como uma corrida de táxi: “se você não sabe para onde quer ir, o motorista não poderá te levar”. É importante ter clareza sobre o destino, mesmo que o caminho mude e os obstáculos apareçam. “Na minha trajetória, sempre estabeleci e alcancei metas, mas reconheço que nem sempre é um processo contínuo”, afirma a executiva. “À medida que a jornada evolui, é essencial ser flexível para ajustar e redefinir essas metas.” 

Significados de sucesso

Hoje, ter sucesso para Claudia Colaferro é ter mais dias felizes e de motivação do que o contrário. Ela ainda alerta: felicidade plena não existe. Sempre encontraremos desafios e momentos difíceis em qualquer caminho escolhido. “Mas o importante é o resultado final do dia: conseguir promover mais mulheres no mercado”, complementa. 

Assim como Claudia, Agatha Kim também passou pelo momento de recalcular a rota e encontrar um significado mais profundo de sucesso. “Para mim, sucesso significa não trair meus valores. É sobre fazer o que acredito e agir conforme essas crenças, podendo dormir em paz à noite”, reflete. 

Para Flávia Molina, os objetivos também são importantes, mas o sucesso mora além. “O que realmente importa é como você chega lá e quem está com você nessa jornada. Para mim, o sucesso verdadeiro é compartilhado”, afirma a CMO. “Vejo minha carreira como uma corrida de revezamento, onde o apoio e o crescimento da minha família e da minha equipe são fundamentais. Todos nós crescemos juntos, e o sucesso de um é o sucesso de todos.”

Flávia Molina, CMO da Pernambucanas: “Na minha trajetória, sempre estabeleci e alcancei metas, mas reconheço que nem sempre é um processo contínuo” (Crédito: Divulgação)

Nesse mesmo sentido, o equilíbrio entre carreira e vida pessoal também é um fator importante para a executiva da Pernambucanas. “Sucesso é sobre encontrar um equilíbrio entre todas essas áreas da vida. Ele deve ser algo compartilhado e equilibrado, refletindo não apenas conquistas profissionais, mas também o bem-estar pessoal e coletivo”, complementa. 

Respeito, confiança e autonomia

Mesmo para as lideranças que veem o sucesso como um processo contínuo e subjetivo, existem valores que elas colocam na conta na hora de avaliar o quão satisfeitas estão. Assim como Flávia, Juliana também coloca a saúde e o bem-estar como prioridade. “Equilibrar minha saúde mental e física não é apenas um discurso, é essencial”, destaca a jornalista. “Lidar com emoções e situações diversas faz parte do dia a dia de um líder, e aprender a se desconectar é fundamental para manter o equilíbrio”, afirma. 

Já para Agatha Kim, além de buscar manter sua integridade no trabalho, a publicitária reforça a importância do respeito nas relações. “Trabalhei em ambientes onde, apesar de não ter sofrido tanto, percebia a reprodução de alguns estereótipos por ser uma mulher jovem e asiática em meio a homens mais velhos e brancos. É essencial estar em ambientes que me respeitem, que reconheçam minha individualidade sem me tratar de maneira diferente por conta disso”, pontua. 

Da mesma forma, o respeito deve acompanhar a confiança e a autonomia, segundo Flávia Molina. “Para mim, o mais importante é estar em um ambiente onde há confiança no meu trabalho e onde me dão autonomia para executá-lo”, reforça.  

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