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Representatividade feminina na Paralimpíada cresce

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Representatividade feminina na Paralimpíada cresce

Apesar de mudança do cenário, acesso a tecnologias assistivas, falta de apoio e visibilidade ainda são obstáculos para a igualdade


11 de março de 2024 - 15h37

De Atenas, em 2004, até a última edição em Tóquio, 2021, o crescimento de atletas mulheres foi de 400% na delegação brasileira, de 23 representantes para 95. O maior número de participação feminina que alcançamos foi na edição de 2016, no Rio de Janeiro, com 102 atletas. Na última contagem, elas representavam 40% dos atletas paralímpicos brasileiros, a maior porcentagem até então. 

Competir em alto nível e trazer medalhas ao País fazem parte da rotina de Sabrina Custódia, do ciclismo, e Mariana Gesteira, da natação. Paratletas que representam o Brasil em competições internacionais, as duas integram um grupo que cresce, mas ainda é menor do que o masculino. Mesmo assim, as duas reconhecem o aumento da representatividade. 

Mariana e Sabrina treinam diariamente para fazer parte do seleto grupo de competidoras dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, que acontecem entre final de agosto e início de setembro deste ano. O Brasil tem aumentado o número de mulheres a cada edição do evento esportivo. Em 1972, na primeira participação do País nas competições, nenhuma atleta mulher participou.  

Mariana Gesteira nasceu com Síndrome de Arnold-Chiari, uma má-formação do sistema nervoso central que afeta a coordenação e o equilíbrio. Por isso, utiliza uma cadeira de rodas e uma scooter para se locomover até o local de treinos. A nadadora começou no esporte desde pequena, aos 3 anos de idade. Sua mãe a colocou na natação para que ela aprendesse a nadar e não tivesse o perigo de se afogar, mas o que começou como necessidade se tornou paixão. Até que, aos 14 anos, sua síndrome começou a se manifestar, levando-a a ter crises de desmaio.  

“Eu já tinha o sonho de ser atleta olímpica, mas quando descobri a doença aos 14 anos, isso tudo mudou”, conta Mariana. “Viver esse sonho hoje, de ser uma atleta paralímpica, é a realização daquela menininha”. A nadadora é medalhista de bronze nas paralimpíadas e campeã mundial da modalidade. 

Mariana Gesteira, atleta paralímpica da natação (Crédito: Douglas Magno – CPB)

“Eu tenho uma doença rara. Não existe ninguém de alto rendimento que faz o que eu faço com a minha doença. Estamos sempre descobrindo como lidar com isso da melhor forma. Não existe receita de bolo, como tem para a grande parte dos atletas olímpicos. Então, estou constantemente me reinventando em busca da minha melhor versão. Esse é o meu maior desafio”, reflete Mariana.  

A história de Sabrina Custódia é diferente. Aos 18 anos, ao subir na lage para mexer na antena de televisão, a jovem levou um choque com um fio de alta tensão. Após três meses de internação, suas duas mãos, o pé direito e os dedos do pé esquerdo foram amputados. Sabrina sempre gostou de esportes, mas foi em 2012 que ela vislumbrou a possibilidade de se tornar uma atleta. Ao visitar a feira Reatech, evento do setor de inclusão, acessibilidade e reabilitação, ela entrou em contato com diferentes esportes de modo acessível e com outros atletas. 

“Depois que me tornei deficiente física, vi que também era possível me tornar atleta. Ali, percebi que havia próteses adequadas para mim, para poder correr e andar melhor”, lembra Sabrina. “Tive a oportunidade de experimentar alguns esportes. Quando ganhei uma prótese de corrida da Ottobock e comecei a correr, me despertou o desejo de ser uma atleta paralímpica.”

Sobre os desafios de ser uma atleta paralímpica, Sabrina destaca a dificuldade de conseguir apoio e divulgação. “No meu esporte, o ciclismo, preciso de uma prótese para poder pedalar. Vejo muitas pessoas amputadas que precisam desse apoio e de equipamentos adequados para as bicicletas, que são muito caros. Além disso, também precisamos de mais visibilidade para poder divulgar, incentivar e mostrar que é possível”, reforça. 

Representatividade Feminina

Para Mariana, a evolução tem acontecido, mas a jornada das mulheres por igualdade continua. “Sinto que temos cada vez mais espaço, que a gente vem crescendo e se mostrando mais forte, mais presente, batendo recordes e conquistando medalhas. Temos lutado por isso, mas ainda precisamos ser vistas da mesma forma, como iguais. É um processo, uma construção. Acredito que estamos caminhando para isso e que as novas gerações estão buscando esse lugar”, afirma a nadadora. 

Sabrina acredita que o trabalho do Comitê Paralímpico Brasileiro no incentivo à participação das atletas tem ajudado nesse crescimento. Ainda assim, reforça que a união das competidoras para trazerem mais representatividade é fundamental. “Nós também pegamos essa responsabilidade e chamamos mais meninas. Porque é isso que a gente quer: ver mais mulheres envolvidas no esporte. Uma pessoa com deficiência participar do esporte faz bem para a autoestima, para nossa saúde”, ressalta. 

Sabrina Custódio, atleta paralímpica do ciclismo (Crédito: Divulgação)

Maria Laura Pucciarelli, Coordenadora de Fisioterapia da Ottobock na América Latina, empresa que trabalha com o desenvolvimento e estudos sobre produtos com tecnologia assistiva, destaca a importância da participação feminina no resultado em competições. “Nos Jogos Parapan-Americanos de 2023, realizado em Santiago, a delegação do Brasil contava com 134 mulheres, o que corresponde a 41 % da equipe, e o Brasil alcançou um recorde de medalhas, somando 343 pódios, dos quais 150 foram conquistados por mulheres”, celebra. 

Tecnologia pela inclusão

Da mesma maneira que o trabalho conjunto das mulheres e das instituições é essencial para que a representatividade feminina aumente, o acesso a tecnologias assistivas para pessoas com deficiência também permite que as elas busquem mais igualdade.

“A tecnologia assistiva tem proporcionado ferramentas para garantir representatividade feminina em todas as modalidades esportivas. Por meio de próteses, órteses e cadeiras de rodas, que oferecem estabilidade, velocidade de deslocamento, segurança e conforto com acessórios projetados para mulheres, vemos cada vez mais atletas femininas ganhando espaço em modalidades esportivas.”, diz Maria Laura. 

“Com certeza, a tecnologia possibilita à mulher estar mais presente no mundo e na vida profissional, como é o caso do esporte. Ser ouvida e recebida da mesma forma já é uma outra questão. Ainda precisa de mais, de pessoas abertas, mas com certeza o fato de ter mais espaço ajuda em posicionamento”, complementa Mariana. 

A liderança da Ottobock também ressalta a importância de criar produtos personalizados para as mulheres, pensando em questões importantes da vida e da anatomia feminina. “Atualmente, os dispositivos oferecem acessórios especialmente indicados para mulheres, como cintos em cadeiras de rodas com desenhos e apoios para conforto no tórax, e encaixes de próteses com possibilidade de ajustes para situações como a gravidez, por exemplo”, explica. 

Logo, parte do papel das empresas no setor é desenvolver estudos e pesquisas para compreender as especificidades femininas, a fim de promover maior eficiência e desempenho para as modalidades esportivas. Além disso, a coordenadora de fisioterapia também destaca a necessidade de se discutir o custo e o acesso dessas tecnologias para as mulheres, em especial no esporte. 

“Outro papel das empresas é trabalhar o empoderamento por meio da educação, difundindo o conhecimento em eventos voltados para mulheres, e trazer para esses debates figuras femininas do esporte paralímpico, para inspirar meninas e mulheres a se envolverem nesse mundo”, destaca Maria Laura. 

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