Saavedra: “Existe um movimento de voltar para os clipes”
Diretor de filmes da Landia fala sobre o valor da volta do videoclipe para artistas e marcas
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Isabella Lessa
21 de fevereiro de 2020 - 6h00
Após o término da era de ouro da MTV Brasil (o canal, que foi um dos protagonistas de uma fase de efervescência de produção de videoclipes no País, deixou de existir em 2013, dando lugar à uma nova versão licenciada da marca MTV, operada pela Viacom) e com a ascensão da internet, a música passou a “viajar mais” e, entre as tantas alterações na dinâmica da indústria de consumo de música, o videoclipe deixou de ser interessante – tanto sob o ponto de vista comercial, quanto sob o de visibilidade quem os faziam. Mais de uma geração de diretores publicitários foi amplamente influenciada pela estética e linguagem do clipe e muitos transitaram entre os dois universos.
Rodrigo Saavredra, que começou a carreira como diretor de criação em agências (passou por agências como Africa, Mother London e W+K Amsterdã), pegou a fase derradeira da Music Television enquanto influência. E hoje é um dos profissionais de produtoras que estão retomando a produção de videoclipes no País. É dele a direção de Corpocontinente, uma das músicas de Apká!, quinto álbum da cantora e compositora Céu. O projeto para a cantora teve início no ano passado, porém, com outra diretora da Landia, Aline Lata, que dirigiu o clipe de Coreto (assista abaixo):
Antes de fazer o clipe da Céu, Saavedra fez Coconut Kiss para a banda Niki & The Dove. Além de funcionar como clipe da música, o vídeo promove a marca de pijamas sueca Nufferton. Nesta entrevista, Saavedra fala um pouco mais sobre as possibilidades da produção de clipes no mercado brasileiro – com e sem marcas envolvidas:
M&M – Existe um movimento de retomada dos videoclipes no Brasil?
Saavedra – Existe uma espécie de movimento nosso como produtora – no Brasil e no mundo – de voltar para o mundo dos clipes por alguns motivos. Do ponto de vista financeiro, o clipe está voltando porque existe mídia dedicada, plataformas dentro do YouTube como a Vevo. As agências estão começando a olhar mais para isso. Durante muito tempo, as agências brasileiras ficaram muito obcecadas em ganhar prêmios de publicidade, criativos se inspirando na publicidade para fazer publicidade. E isso não é tão saudável: é bom usar cinema, teatro, fotografia de arte. E o clipe agora está chamando mais atenção. A nova geração de criativos da publicidade são mais cínicos em relação a publicidade. E millenials e Geração Z também são. Temos de encontrar novas formas de vender. E com isso vem uma geração mais ligada em outras coisas e percebendo que dá para usar a linguagem de clipe para publicidade, fazer uma publicidade que é um clipe.
M&M – Houve um hiato de clipes após o encerramento da operação da antiga MTV Brasil. A falta de clipes impactou os criativos e os diretores de publicidade de alguma forma?
Rodrigo Saavedra – Peguei o finalzinho da MTV e lembro que isso ainda impactava muito os criativos. Teve um momento em que o clipe basicamente morreu, quando os melhores diretores de publicidade do mundo não faziam clipes. Antes tinha Spike Jonze, Michel Gondry, Mark Romanek, eram os caras que a gente almejava trabalhar. Depois veio uma geração que eram Dougal Wilson, Fredrik Bond que não faziam clipes. Eles eram os mais cool do mundo – sem clipes. O clipe virou uma coisa para o diretor que estava realmente começando, para depois ele pegar um trabalho de publicidade.
M&M – Nos clipes da Landia para a Céu não houve envolvimento de marcas, porém. É algo em que a produtora tende a investir mais?
Saavedra – No caso da Céu fizemos propositalmente unbranded porque queremos mostrar que também estamos interessados nisso. O artista como produto, simplesmente. A gente já provou que faz branded. As Magnólias fizeram um filme da Nike com Karol Conka, por exemplo. Sem marcas, há menos restrições, então quisemos mostrar como lidamos com esse território totalmente livre.
M&M – Quais oportunidades podem surgir para se trabalhar com artistas?
Saavedra – Percebo um movimento global de pessoas interessadas em coisas que não sejam norte-americanas. A Rosalia é uma artista que canta em espanhol e explodiu de uma maneira que não se conseguia imaginar. Ganhou Grammys. Talvez devêssemos tentar reproduzir algo parecido com um artista brasileiro. A Landia, em Madri, fez quatro clipes no ano passado: um para o C Tangana, dois para artistas produzidos por ele e um projeto para Samsung com a cantora argentina Nathy Peluso. Esses projetos dão legitimidade para a gente.
M&M – Como você percebe o interesse do público em outros formatos de conteúdo que não os micro-contents?
Saavedra – Hoje se produz muito conteúdo descartável e é muito fácil a gente, com base em big data, falar que as pessoas não estão interessadas em conteúdo mais longo. Não estão interessadas em conteúdo que está claramente vender uma coisa para ela no momento errado e da maneira errada. Se vem com linguagem que encaixa naquilo, antes do clipe, o cara não vai dar o skip ad. Na contrapartida do que dizem sobre o millennial e o Z terem déficit de atenção e por isso os conteúdos precisarem ser mais curtos, não é verdade isso. Se pegar Netflix, HBO e Hulu, as pessoas estão fazendo maratonas de série com episódios que duram uma hora cada um. Também existe demanda para conteúdos mais longos e mais longos do que o longa-metragem tradicional. O The National fez um clipe do álbum inteiro deles e tem 20 minutos. É uma das coisas mais geniais que já vi. Tem espaço para pílula de 6 segundos ou menos, mas é preciso saber fazer. O clipe tem uma campanha também. Para a Céu tinha chamada de dez segundos, por exemplo.
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