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Comunicação

Como agências trabalham a inclusão em programas de diversidade?

Inclusão nas agências é desafio para consolidar programas de diversidade e garantir segurança e conforto a talentos no cotidiano


11 de setembro de 2023 - 6h00

Programas voltados para a diversidade e vagas afirmativas funcionam como portas de entrada para que indivíduos de determinados grupos tenham oportunidade de inserção no mercado publicitário. Contudo, a missão de trazer inclusão para as agências vai além da contratação: esbarra no desafio da retenção de talentos.

inclusão nas agências

Inclusão nas agências: João Pedro Silva, Assistente de Arte na WMcCann, durante encontro com mentoria (Crédito: Divulgação)

João Pedro Silva ingressou na WMcCann no ano passado como jovem aprendiz por meio de uma vaga afirmativa com foco em diversidade e, atualmente, é assistente de arte. Ele relembra o processo seletivo por ter sido recebido por pessoas solícitas, mesmo com entrevistas feitas à distância.

O assistente atribui parte de seu desenvolvimento na agência ao Goma, hub criado em prol da diversidade e inclusão de pessoas negras dentro da WMcCann, que oferece mentoria para colaboradores também em soft skills. “Eu fui aprendendo mais com ela [sua mentora], vendo o que eu podia fazer dentro da agência, em que eu podia melhorar, e hoje me sinto bem mais à vontade de ir na mesa do atendimento ou mídia – que são áreas que não falo diariamente – para tirar alguma dúvida”, exemplifica.

O poder do coletivo

A jornada de inclusão da WMcCann perpassa pelo processo de Portas de Entrada, Conscientização e Sensibilização e Aceleração de Carreira. Além disso, a mentoria não aborda apenas o âmbito profissional da vida do colaborador, mas abraça também o lado pessoal. O Publicis Groupe Brasil segue um preceito semelhante com seu coletivo de pessoas negras, o Power World Revolution (PWR).

Victória Santos e Edivânia Coimbra participaram do Entre, curso de formação de criativas da agência da Publicis Brasil. Foi por meio dele que ocupam, hoje, os cargos de estagiária de RTV e assistente de produção da agência, respectivamente. Ambas participam dos encontros semanais do coletivo, o qual Victória descreve como “acolhedor”. “Tem dia que nos encontramos para falar de problemas, e mesmo falando de problemas da vida, ficamos mais leves. Isso faz uma diferença muito grande”, declara a estagiária. “É um lugar onde nossas dores e problemas se encontram”, complementa.

Do mesmo modo, Edivânia salienta a segurança do ambiente para o compartilhamento de experiências, sentimentos e opiniões. “É um ambiente diverso, mas não é todo mundo que entende situações específicas que passamos”, declara.

Lideranças inclusivas

Outro fator que garante a permanência e desenvolvimento sadio de profissionais negros no mercado de trabalho são líderes inclusivos. A consultoria Korn Ferry aponta que algumas das disciplinas de líderes inclusivos são a construção de confiança interpessoal, integram diferentes perspectivas e otimização de talentos. As habilidades são ainda mais potencializadas quando há intersecção com a diversidade.

O valor de lideranças do tipo é notório para a inclusão cotidiana dos talentos nas agências. “É muito importante que tenhamos gestores diversos, porque eles sabem a dificuldade que é chegar onde estamos”, conta a assistente de produção da Publicis Brasil. “Minha gestora também é uma pessoa preta e entende tudo o que eu passo. Não temos essa diferença de profissional e pessoal”, complementa, endossando que trazer mais pessoas para perto é essencial.

A teoria da inclusão na prática

O tema vem sendo tratado de perto no mercado publicitário. De acordo com Marina Lima, especialista em diversidade & inclusão da WMcCann, o acompanhamento de talentos com as lideranças é parte do planejamento em DEI. Ademais, os próprios mentores e lideranças participam de letramentos antirracistas e de mentorias. Ela celebra a evolução da temática, sobretudo do ponto de vista de recursos humanos, mas reconhece que ainda há espaço para expansão a nível de proporção de colabores pretos com a população brasileiro.

“Não só o mercado publicitário, como o mercado de trabalho ensaiou e está ensaiando muito bem o primeiro passo para termos equidade de raça e gênero nesse País”, concorda Daniele Jesus, head de recursos humanos da Wieden+Kennedy São Paulo. A W+K implementa o Kennedys, programa de formação em publicidade para jovens talentos, de 18 a 24 anos, das periferias de São Paulo. A metodologia do projeto também prevê mentorias, aulas e prática.

A partir da representatividade, é preciso abordar e intensificar a discussão sobre o conforto dos funcionários dentro do ambiente de trabalho a qualquer nível hierárquico. “É sobre segurança psicológica, sobre eu poder discordar e dar a minha opinião. Sobre eu não precisar esconder que eu sou, sim, uma mulher preta, periférica e que vim aproveitando as brechas que o mercado de trabalho me deu”, complementa a head.

Apesar dos avanços, Daniele critica a falta de colaboração e coletividade entre as agências no País para dar, assim, capilaridade aos programas e ampliar a inclusão, visibilidade e até o intercâmbio desses talentos. “A próxima revolução do trabalho é a sensibilidade. Não temos como ficarmos inertes ao que está acontecendo”, alerta. Ela ressalta, ainda, a importância da governança neste processo, sendo necessário a implementação de políticas, de inclusão transversal no planejamento de recursos humanos, bem como a equidade salarial, maior representatividade em todos os cargos, entre outros.

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