Censo aponta falta de diversidade entre líderes de agências
Observatório da Diversidade na Publicidade e Gestão Kairós assinam Censo Demográfico das Agências Brasileiras, que escancara a falta de inclusão no mercado
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Caio Fulgêncio
10 de abril de 2023 - 6h03
Quanto mais alto o cargo, menor o nível de diversidade na publicidade. É o que mostra o Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023. O estudo é assinado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), entidade setorial fruto da união de agências para construção de metas para acelerar a inclusão de grupos sub-representados no setor, em parceria com a Gestão Kairós.
Os dados demonstram a composição das empresas do setor desde o quadro geral de funcionários, com ênfase em lideranças, incluindo gerências e presidências. Para isso, o diagnóstico contou com um público total de 28 agências, entre as fundadoras e apoiadores que compõem o observatório. Assim, a amostragem de participação chegou a cerca de 6.266 funcionários.
Ao pesquisar os postos de decisão, o censo demonstrou um cenário com acentuada disparidade de gênero. Conforme o estudo, homens representam 85% dos cargos de CEO e as mulheres são apenas15%. Ao todo, participaram da pesquisa 13 profissionais.
Os postos de trabalho de gerência e acima, por outro lado, possuem um equilíbrio maior, com 50,2% de homens e 49,8% de mulheres. Já na macrovisão demográfica, que inclui todos os funcionários nas mais diferentes funções, mulheres são maioria no setor publicitário, correspondendo a 57% do número.
No recorte de raça, os autodeclarados brancos ocupam 92% dos cargos de CEO e os negros correspondem somente a 8% das presidências. Entre pesquisadas, nenhuma agência tinha uma mulher negra no comando mais alto.
Além disso, segundo o diagnóstico, brancos também são maioria na gerência e acima, chegando a 88%. Nesse ambiente de hierarquia, os negros são 10,3% – ou seja, oito vezes menor do que de brancos. As mulheres negras possuem somente 4,6% de representatividade nesses cargos.
Na visão geral, por sua vez, o censo mostrou que brancos representam 68% do quadro e negros 30% – dentro desse grupo, as mulheres negras têm 21% de percentual. Além disso, amarelos e indígenas correspondem a aproximadamente 1%.
Entre os CEOs, o estudo apontou que não existia nenhuma representatividade de pessoas com deficiência (PCDs). A ausência de pessoas com deficiência também é grande na gerência das agências, com apenas 0,7% das autodeclarações.
A macrovisão demográfica mostrou que o cenário é preocupante e desafiador, tendo em vista que as agências contabilizam 1,6% de colaboradores PCDs. No entanto, o dado conflita com a legislação brasileira, que determina, na Lei Nº 8.213/91, que empresas com 100 ou mais empregados é obrigada a preencher, proporcionalmente, de 2% a 5% dos cargos com pessoas que deficiência.
O censo também comprovou a baixa participação da comunidade LGBTQIAP+ no comando das agências de propaganda – com 8% os CEOs se declarando homossexuais. Porém, o levantamento não trouxe camadas de interseccionalidade.
Por falta de dados específicos nas bases das empresas, as informações sobre lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgênero foram calculados sem separação metodológica. Logo, o censo não conseguiu apontar “os desafios da diversidade sexual no setor publicitário, principalmente quanto às pessoas transgênero (travestis e transexuais)”.
Entre as posições de gerência e acima, os profissionais LGBTQIAP+ correspondem a 16,2%. Já no quadro geral de funcionários, o percentual chega 24%.
Por fim, do que diz respeito à diversidade geracional, um ponto também levantado pelo censo, 23% dos CEOs têm 50 anos ou mais. Na gerência, as pessoas dessa faixa etária ocupam 6% dos cargos, o que, de acordo com a análise, representa uma inversão ao que, normalmente, ocorre em outras áreas, em que essas posições são ocupadas por pessoas mais experientes. Além disso, na macrovisão geral, o percentual cai para 5%, percentual que se relaciona diretamente com a sinalização da liderança sobre o etarismo presente no setor, conforme o texto.
Resultado do processo de entrevistas em profundidade, o diagnóstico apontou que existe transparência da liderança em falar sobre os números das suas respectivas agências, sendo um “bom diagnóstico de que diversidade e inclusão são temas essenciais para o discurso e prática de executivos e executivas do setor”.
Ao contrário disso, o levantamento mostrou que há também uma recorrência de críticas sobre o perfil da publicidade como um todo. O setor ainda tende a reter informações e melhores práticas, principalmente aquelas relacionadas à diversidade e inclusão. De acordo com o texto, esses fatores um entrave no fortalecimento e engajamento das agências.
“Um dos principais resultados deste trabalho é a autopercepção das principais lideranças de agências como sendo – em suas próprias palavras – ‘historicamente regionalista, etarista e que tem uma dívida com a inclusão racial’, pois exportam serviços de comunicação do eixo Sudeste/Sul para todo o País sem, de fato, representar a diversidade do País em suas estruturas”, afirma o censo.
O Observatório da Diversidade na Publicidade (ODP) é formado por dois grupos de agências. As fundadoras são Accenture Song, CP+B Brasil, Dentsu, Droga5, IPG Mediabrands, Gana, Grey, Leo Burnett, Mooc, Mutato, P3k, Publicis, Soko e Suno. Já as apoiadoras são AKQA, Almap BBDO, Artplan, B&Partners, BETC HAVAS, DM9, DPZ, Dale, Fbiz, FCB Brasil, Ogilvy, The Juju, VMLY&R, WMcCann.
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