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Opinião

Como fica o mercado numa economia ainda mais aberta?

A economia brasileira, no que tange ao setor, em algum momento, viverá a quebra de suas aparentes defesa legais, dos paradigmas de remuneração, das origens de receita, tudo, será revisado e recolocado sob uma nova ordem


3 de setembro de 2019 - 9h21

(Crédito: Fat/iStock)

O presidente Jair Bolsonaro, já em sua primeira fala de posse, deu logo uma petarda no BV (bonificação por volume).

Caramba, com todo um país em frangalhos para peitar, ele resolveu peitar justo a indústria da comunicação? Doido, mas foi o que aconteceu.

Havia ali já um primeiro sinal de que algumas coisas novas para o nosso negócio poderiam se apresentar sob o novo governo.

A ameaça feita então ficou na ameaça (até o momento, ao menos). Representantes do nosso setor voaram para Brasília para mostrar que nossa indústria é porreta (e é) e contribui para o desenvolvimento do País (e, indiscutivelmente, contribui mesmo), e boas. Amansou-se a fera.

Agora, no bojo das novas medidas desenhadas pela equipe de Paulo Guedes para destravar liberalmente o capitalismo que há em nós, encontramos aqui e ali indicações de que leis que protejam determinados setores possam vir a ser revistas. Isso pode vir a incluir a lei que limita a 30% a participação do capital estrangeiro em nossas empresas de mídia e comunicação.

A lei vigente busca proteger os interesses do País em área crítica da opinião e da democracia, além de objetivar também o fortalecimento do investimento de grupos nacionais nesse negócio tão vital para a informação e o jornalismo brasileiros.

A intenção segue sendo louvável, mas a realidade tem sido muito dura com os grupos de comunicação do Brasil. Boa parte deles enfrenta queda em suas receitas, muitos amargando situação de caixa crítica, com sinais de que teremos baixas, além das que já tivemos, no futuro próximo à frente.

Há quem defenda que a abertura da lei dos 30% seria a grande saída para muitos desses grupos, enquanto outros ainda entendem que a presença mais aberta do capital internacional nesse negócio traria riscos a identidade nacional e autonomia do capital local.

Comento que há empresas de comunicação e empresas de comunicação, jornalismos e jornalismos, interesses políticos e interesses políticos. Há órgãos da nossa imprensa que me enchem de vergonha como jornalista, enquanto um tanto importante deles corre o risco de, em nome da defesa de mercado, não estarem vivos para se beneficiar de mercado nenhum.

E há, correndo inevitavelmente em paralelo, sem dar bola para nada disso, o fenômeno da disseminação global da informação digital, que quebra todas as barreiras nacionais e as fronteiras geográficas físicas entre os países, em muitos casos tornando todas essas delimitações geográficas como que meras representações cartográficas para aprendermos no primário, na escola. E só.

Isso para o bem ou para o mal, já que vem tudo junto no mesmo mapa sem mapa da informação sem pátria atual. E do lixo que gera.

A receita da maior parte desses órgãos e empresas nacionais advém ainda, majoritariamente, da publicidade, mas essa origem de receita vem se mostrando instável e, por vezes, incerta. Recentemente, publiquei um post no site ProXXIma em que registrava a revelação de uma das grandes agências de propaganda do País de que, em breve, não dependerá mais de receitas de mídia para sobreviver. Nem do BV.

Ora, se a moda pega, como ficarão então os veículos de mídia e os grupos de comunicação editorial se as agências deixarem de ser, em alguma medida, geradoras e/ou intermediadoras de suas receitas, o que sempre aconteceu ao longo de décadas?

Algumas das operações internacionais de tecnologia e mídia operando no Brasil são já maiores do que a esmagadora maioria dos grupos de comunicação editorial nacionais. A defesa econômica da lei dos 30%, aparentemente, não vem lhes assegurando nem saudabilidade financeira, nem praticamente nada, entendo eu na minha santa ingenuidade.

O novo governo, de viés econômico francamente liberal, tem um roadmap de elevação da abertura da economia para um patamar que talvez ainda não tenhamos conhecido nem vivenciado, até agora em nossa história. Se é bom ou ruim, discutimos ali na mesa de bar, uma hora dessas.

Mas o importante que quero destacar aqui é que, bom ou ruim, será inevitável. Se não for o Paulo Guedes, será o Zé das Couves. A economia brasileira, no que tange ao setor, em algum momento, viverá a quebra de suas aparentes defesa legais, dos paradigmas de remuneração, das origens de receita, das práticas do jornalismo, tudo, tudo, tudo, será revisado e recolocado sob uma nova ordem.

Estar preparado para essa inevitabilidade me parece ser a única forma sensata de se planejar para o futuro. Isso se quisermos estar prontos para viver — e sobreviver — nele.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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