A inveja pode nos salvar

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Opinião

A inveja pode nos salvar

Na Coreia do Sul, 100% das crianças terminam o “high school” e agora o país quer melhorar a qualidade do ensino e aumentar o número de pessoas nas universidades


9 de setembro de 2019 - 15h32

(Crédito: divulgação Facebook)

Gente, quem estiver precisando de uma lufada de otimismo na vida vai gostar de ler. Eu estava precisando muito quando veio o convite para ser presidente do júri do Ad Stars, um festival de propaganda que acontece há 12 anos em Busan, na Coreia. Coreia do Sul. Aquele país que se reinventou por meio da educação? Vou com o maior prazer.

O Ad Stars é um dos poucos festivais de publicidade global que mais cresce. E, vejam que interessante: é promovido e financiado pelo governo da Coreia. Sim, para trazer conhecimento de grandes profissionais de todo o mundo, para que esses profissionais espalhem o que viram ali e ainda para aquecer o turismo em Busan. Um terço do festival é financiado pelo Ministério da Cultura da Coreia. Um terço é financiado pela Secretaria de Turismo de Busan. E um terço é financiado por grandes marcas coreanas: Samsung, Hyundai e LG. Isso possibilita um festival com inscrições totalmente gratuitas que podem vir de qualquer lugar; agências, startups, incubadoras, clientes, quem quiser, de qualquer lugar do mundo.

E não para aí. Além de medalhar em diversas categorias, o Ad Stars premia com dinheiro. São US$ 10 mil para o Grand Prix Best of the Year e mais US$ 10 mil para o Grand Prix Best of the Year para ongs. Tudo isso ajuda a explicar as mais de 30 mil inscrições vindas de mais de 60 países.

Mas ainda existem outras razões para gostar do Ad Stars. Você chega e vê estandes de outros grandes festivais de criatividade. É que, para fazer um festival melhor e maior, o Ad Stars faz parceria com os outros festivais que podem garantir know-how e experiência. Estão lá o The One Show, o D&AD, além de professores e voluntários de universidades locais, que trabalham no evento muitas vezes só para praticar o inglês e conhecer estrangeiros.

Busan, cidade onde acontece o festival, significa “morning come” (vem a manhã), nos disseram. Ali, como em toda a Coreia do Sul, eles contam com orgulho que 100% das crianças terminam o “high school”. E que agora o país quer melhorar a qualidade do ensino e aumentar o número de pessoas nas universidades. O inglês ainda é dominado por muito poucos. Até nos hotéis 5 estrelas. Pouca gente mesmo, como no Brasil. Mas a geração que hoje ganha o mundo com o K-pop, K-wave e BTS está correndo atrás. Com nível de escolaridade tão alto e para todos, os coreanos precisam encontrar outras formas de se diferenciar, o que muitas vezes se dá por meio da mudança física.

Não por acaso, Seul é conhecida como a capital mundial da cirurgia plástica. Na Coreia, a aparência e a primeira impressão são tão importantes que adolescentes ganham a cirurgia de presente dos pais antes de irem para a universidade. A aparência da praia também é interessante: muitas boias coloridas são espalhadas pela orla para as pessoas usarem até a hora de a praia fechar: 6 horas da tarde no verão. E é 6 horas sem choro nem vela. Coreanos são extremamente pontuais. Não espere que haverá tolerância nem de 1 minuto para um palestrante do festival ou para o shuttle que nos leva a cada 15 minutos do hotel para o centro de convenções Bexco. Que, aliás, impressiona pelo tamanho.

Descobri que, na Coreia, tanto na comida quanto nas compras, o consumidor sempre ganha mais do que pede. A gente pede um prato e ele vem com mil outros em volta (para mim, já seria o almoço e o jantar). Se comprar um creme, ganha mais umas cinco pequenas amostras. Imagino que quem comprar um Hyundai leva junto uma bike, uma moto e uns cupons de combustível.

Aliás, a indústria de carros, navios, de produtos eletrônicos, é enorme, mas nada se parece com a indústria cosmética, especificamente a de máscaras para pele. Máscara de rosto para fechar poros, para abrir os olhos, tirar pé de galinha, rejuvenescer, para quem fumou, quem enfiou o pé na jaca na noite anterior e até para os pés mesmo. Fizemos a festa, afinal éramos três mulheres presidentes de júri e dois homens.

Em uma cultura em que as mulheres devem ser uma figura meiga e delicada para casar e ficar em casa — entre as nações mais desenvolvidas do mundo, a Coreia aparece em último lugar no ranking de “mulheres que trabalham fora” —, essa inovação e atrevimento do Ad Stars foi notícia na cidade! Houve muitas meninas perguntando sobre nós, mulheres, sobre como conseguir ter equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, claramente tentando encontrar exemplos que as ajudem a ganhar espaço e liderança em suas carreiras. O fato é que eles estão andando para a frente, e bem rápido. Invejável, né?

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