Delivery e receitas caseiras pautam reinvenção da indústria alimentícia

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Opinião

Delivery e receitas caseiras pautam reinvenção da indústria alimentícia

Ir a um restaurante ou supermercado, pedir por serviço de entrega ou preparar receita online nunca mais será como antes


18 de agosto de 2020 - 20h29

Vídeos de receitas (Crédito: Golubovy/iStock)

Os impactos da pandemia na economia mundial certamente vão pautar inúmeros estudos nos próximos anos para um dia, quem sabe, se ter a real dimensão de prejuízos, mudanças, reinvenções e legados desse período tão marcante na vida desta geração. A indústria de alimentos pode não ter sofrido o mesmo estrago de outras, como turismo e transporte aéreo, mas certamente afetou profundamente o modus operandis de alguns players, especialmente restaurantes, em função dos novos hábitos forçados aos consumidores pelo isolamento social. Além do incremento da demanda por serviços de entrega, os donos de restaurantes viram seus próprios consumidores começarem a dedicar mais tempo para preparar comida caseira. Os sites de receita em todo mundo tiveram um significativo aumento em seu tráfego, com o Google indicando um aumento de 10% nas pesquisas pelos termos “receita” e “gourmet”.

Esse novo cenário fez com que as marcas, supermercados, restaurantes e toda a cadeia da indústria alimentícia buscasse melhorias e reinvenções de seus próprios negócios. Dentre esses movimentos, podemos destacar os seguintes:

• Restaurantes – A qualidade do serviço, principalmente os restaurantes renomados, teve que ser repensada na experiência de delivery para justificar o preço. As embalagens mudaram, enquanto umas mais robustas se adequaram à intensa demanda; outras aproveitaram o momento para mostrar o seu “eco conscious” com embalagens recicláveis. Alguns decidiram criar o seu próprio serviço de delivery para atender os seus clientes em vez de trabalhar com aplicativo já existentes. Outros também acrescentaram um bilhete no pedido, uma porção a mais e até máscaras para mostrar solidariedade na pandemia. A competição foi tensa, com muita pressão sobre os restaurantes que estavam tentando sobreviver, enquanto alguns tiveram que fechar definitivamente.

• Apps de delivery – Houve quase nove milhões de downloads em apps de delivery durante o mês de março, segundo a pesquisa Decode/Similar Web. Algumas marcas criaram delivery com tempo de entrega reduzido (no mesmo dia), entendendo que os brasileiros estavam em casa querendo cozinhar na hora. As dark kitchens, cozinhas desenvolvidas especialmente para agilizar delivery, se proliferam como nunca e passaram a atender diversas marcas em espaços maiores. Supermercados – Vimos muitos estabelecimentos oferecendo descontos e fazendo promoção ativa na televisão, que voltou a ser o principal meio de comunicação para atingir o máximo de pessoas. O maior tempo em frente à TV e dentro da própria cozinha intensificou a comunicação de varejo das principais redes nesse período também nas plataformas digitais. E mesmo quando a fase mais aguda de isolamento arrefecer, a tendência é que esse período caseiro se estenda por mais algum tempo. O Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) indica que 46% dos entrevistados pretendem reduzir a frequência a bares e restaurantes após a retomada das atividades e 45% afirmam pretender frequentar menos os shoppings centers.

• Sites de receitas – Criaram formas para se aproximar ainda mais dos consumidores, mas sobretudo dos usuários que buscavam receita fáceis, rápidas e práticas para o dia a dia. Os homens têm se arriscado mais nas receitas, assim como os jovens de 18/24 anos precisando “se virar” sozinhos em casa, às vezes longe da família. Receitas com o termo caseiro, como “pão caseiro”, tiveram até 215% mais acessos durante o isolamento. Muitos formatos foram adaptados, com receitas em vídeo gravadas em estúdios e lives remotas com chefs em casa ajudaram a trazer ainda mais proximidade com o usuário, que entraram na intimidade dos chefs e dos cozinheiros, cujos canais se popularizaram ainda mais durante o isolamento.

• Redes sociais – Os publishers de sites de receita e influenciadores de gastronomia em geral investiram também nos vídeos mais curtos das redes sociais. O formato Stories do IG, os vídeos virais do TikTok e o Reels, mais novo formato de vídeos do Instagram, que permite gravar e editar vídeos de até 15 segundos com vários cortes, efeitos e áudios, se posicionaram como o formato amigável e divertido que precisamos durante uma pandemia. Os produtores de conteúdo tiveram que reorganizar a sua estrutura de vídeo e adaptar todo o seu discurso, posicionamento pró-mercado, mais próximos do varejo e das marcas de alimentos. Diversos chefs famosos lançaram cursos online. Os esforços e investimentos maiores em marketing tinham um objetivo claro: não ser deixado de lado nessa competição feroz.

O grande desafio para a indústria da alimentação é a partir de agora saber diferenciar as mudanças circunstanciais das oportunidades de inovação que foram aproveitadas. A pandemia e o isolamento social trazem lições valiosas sobre o futuro dessa indústria e sobre como reagir em emergências, como a possibilidade de um novo confinamento por conta de novas ondas da Covid-19 ou até mesmo novas enfermidades. Nenhum planejamento em qualquer segmento poderá ser feito sem ter um modus-confinamento já devidamente projetado. De qualquer forma, ir a um restaurante, supermercado, pedir delivery ou preparar uma receita online nunca mais será como antes.

**Crédito da imagem no topo: Pixabay/Pexels

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