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A sensação de que o ambiente corporativo está sempre um passo atrás na questão de gênero não tira a certeza de que o movimento por um mercado mais justo e igualitário é irrefreável


8 de março de 2021 - 15h56

(Crédito: Nadezda Grapes/ iStock)

Em 2013, ano em que Meio & Mensagem deu início ao projeto Women to Watch no Brasil, o elemento que permeava grande parte das reportagens sobre lideranças femininas era o questionamento sobre como as profissionais haviam conseguido trilhar uma carreira de sucesso conciliando as planilhas e reuniões do trabalho com os compromissos da vida doméstica. Longe de ser anacrônica — afinal, essa necessidade de equilibrar diversas responsabilidades não saiu do cotidiano ao longo desses oito anos —, tal consideração se tornou rasa aos olhos da evolução da pauta da equidade de gênero.

Já não é mais razoável, hoje, enxergar essa suposta capacidade de execução de múltiplas tarefas sem percebê-la como fruto de um arranjo social que, por séculos, atribuiu às mulheres o papel de esteio doméstico. A ocupação de espaços no mercado de trabalho apenas se sobrepunha como mais uma — e árdua — responsabilidade. Da mesma forma, tornou-se inconcebível para as marcas não levarem as discussões sobre diversidade, representatividade e inclusão para o centro de sua engrenagem de negócios.

Acompanhar o processo de maturação do ambiente corporativo nos últimos anos traz a sensação de que a capacidade do mercado de perceber e corrigir as profundas feridas estruturais da equidade de gênero sempre está em um ritmo mais lento do que a urgência com a qual novas e complexas questões irrompem na sociedade.

Se, há alguns anos, foi gritante a percepção da discrepância entre homens e mulheres nos mais altos cargos das corporações, hoje já é igualmente ruidoso — e incômodo — o alerta do quão esses ambientes ainda são pouco acessíveis a pretas, pardas, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. Como pontuou a filósofa e escritora Djamila Ribeiro, entrevistada na reportagem especial da edição semanal de Meio & Mensagem, que aborda justamente como a questão feminina se torna ainda mais sensível quando vista pelo recorte racial: “É preciso considerar a intersecção dessas opressões para pensar a equidade de gênero”.

A análise do tema marca o primeiro capítulo da jornada de 2021 do Women to Watch, projeto de Meio & Mensagem que se propõe a jogar luz nos gargalos que ainda prejudicam as trajetórias das mulheres no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que celebra e destaca as vozes femininas cujas trajetórias simbolizam a pavimentação de uma indústria e sociedade menos desiguais.

Além da reportagem especial publicada na edição semanal, o Women to Watch estreia nesta semana, na qual o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher, a segunda temporada de sua série de podcasts mensais, desta vez entrevistando CEOs e líderes de empresas. O primeiro episódio desta nova safra traz o olhar analítico e empreendedor de Camila Farani, presidente da G2 Capital e uma das maiores investidoras-anjo do Brasil. E, em agosto, assim como o projeto original criado pelo Advertising Age, nos Estados Unidos, na década de 1990, o Women to Watch mais uma vez destacará mulheres da indústria brasileira de comunicação, marketing e mídia cujos trabalhos geram impactos positivos para suas organizações e para o mercado.

A constante transformação do debate de equidade de gênero certamente torna mais desafiador seu acompanhamento. A sensação de estar sempre um passo atrás da evolução social, no entanto, não tira a certeza de que o movimento de questionar e refletir sobre os padrões e premissas que nos formaram como sociedade é irrefreável. Quando enfrenta-se o problema, o atraso pode até ser tolerado. A inação não será.

*Crédito da foto no topo: Audioundwerbung/ iStock

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