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Opinião

Conectividade sustentável

Ao se aprofundar em temas como nuvem pública, conectividade global e exclusão digital, MWC debate implicações do avanço tecnológico nas relações humanas


5 de julho de 2021 - 13h36

Elon Musk no MWC 2021 (Crédito: Reprodução)

Dos óculos de sol com telas internas para assistir a vídeos, apresentados como uma espécie de cinema vestível, aos novos relógios inteligentes que unem Samsung e Google, os devices exibidos em feiras de tecnologia e comunicações sempre chamam atenção. Mais ainda quando há, como agora, uma carência por apresentações presenciais e contato físico com tais novidades. Na semana passada, o Mobile World Congress (MWC) saciou parte dessa demanda reprimida ao realizar sua edição de 2021 com a presença de público em Barcelona. Assim, quebrou os longos jejuns de vinte e oito meses após o último congresso, realizado em fevereiro de 2019, e de dezessete meses sem praticamente nenhum evento presencial da indústria, desde a CES de 2020, em Las Vegas.

Entretanto, na primeira versão híbrida de sua história, o MWC recebeu um menor número de pessoas presentes, submetidas aos protocolos de segurança, e sofreu com a ausência de expositores importantes, como Ericsson, Google, Qualcomm, Samsung e Sony, que optaram por participar apenas virtualmente. Assim como algumas das estrelas dos seminários deste ano, como o empresário Elon Musk, fundador da Tesla e CEO da SpaceX, e o historiador Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers Sapiens e Homo Deus, que falaram por videoconferência.

Como mostra a cobertura de Meio & Mensagem, detalhada no mwc.meioemensagem.com.br e consolidada em reportagem, na edição semanal, o foco principal do evento não esteve na apresentação de novos devices e experimentações, mas sim nos debates sobre infraestrutura, combate à exclusão digital e implicações do avanço tecnológico para o futuro das relações humanas. Um futuro baseado no digital como força motriz da economia, turbinada pelos novos hábitos impostos pelo combate à pandemia — que, para muitos analistas, não serão descartados quando a Covid-19 estiver sob controle.

Os maiores obstáculos para a sedimentação global desses novos comportamentos estão na infraestrutura que sustenta a tecnologia da comunicação e informação, cuja disseminação é cara, lenta e aponta para a nuvem — ou as nuvens, privadas e públicas. O impulsionador dessa engrenagem é o 5G, que embora ainda seja um ponto distante no horizonte para boa parte da população do mundo, como a brasileira, já cedeu espaço no palco do MWC para o sucessor. O 6G promete velocidade 50 vezes mais rápida e cobertura global, capaz de integrar as comunicações sem fio e por satélite. Por outro lado, em alguns debates, especialistas reconheceram atrasos e se renderam à constatação realista de que melhorias antes esperadas para o 5G devem ficar para o 6G, previsto para aterrissar na realidade do mundo entre 2028 e 2030. O descompasso na implementação das redes mais velozes impacta o crescimento econômico das nações, com países que aderiram ao 5G mais rapidamente apresentando melhores indicadores, como China, Coreia do Sul, Estados Unidos e partes da Europa.

O sonho da conectividade massiva ainda precisa vencer a dura realidade da exclusão digital, mal que, na avaliação de técnicos participantes do MWC, não está regredindo em nenhuma de suas duas frentes: a de pessoas que vivem em áreas sem infraestrutura móvel e a da população que habita locais com cobertura tecnológica, mas que, por alguma razão, não usufrui dos serviços de telecomunicações. O índice de exclusão estimado para esse segundo grupo é de 65%.

Outra face complexa a ser considerada na equação é a dos aspectos humanos que suscitaram debates sobre comportamento na internet — internet of behavior (IoB) — e a problemática da transparência na atuação das empresas, das políticas de privacidade e do uso responsável dos dados, que fizeram surgir em várias sessões o tema da agenda ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance). Nas esferas governamentais, o assunto avançou sobre a regulamentação no uso de tecnologias de inteligência artificial, sobretudo as mais sensíveis, como o reconhecimento facial.

Como são questões controversas, cujos encaminhamentos podem gerar aplicações benéficas ou prejudiciais, fóruns como o MWC cumprem os papeis de manter as reflexões constantemente atualizadas, de ajudar a coibir o uso inapropriado da tecnologia e de apontar caminhos para que a conectividade contribua, de fato, para a construção de um mundo mais sustentável, no qual os abismos digitais não reproduzam ou mesmo aprofundem as desigualdades sociais e econômicas.

*Crédito da foto no topo: Gremlin/Getty Images

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