Para onde a mobilidade pode nos levar?

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Opinião

Para onde a mobilidade pode nos levar?

Elon Musk sozinho não vai conseguir fazer voltar a magia toda da indústria automotiva


20 de julho de 2021 - 13h34

 (Crédito: Johny Greig/iStock)

Falar de mobilidade (Mobility as a Service – MaaS) hoje, pensando no amanhã, é falar de algo que eleva o transporte a outro patamar. Já não é mais sobre como você vai se locomover – apesar das alternativas só crescerem –, mas também, como você vai locomover os serviços que você precisa, locomover suas compras, sua comida e até, por conta da pandemia, sua moradia e seu trabalho.

A R/GA fez o estudo “The Future of Mobility” com mais de cinco mil pessoas em 10 países que trouxe a força desta evolução da mobilidade e o impacto que ela vai provocar na vida das pessoas e nos negócios.

Quando penso nos conteúdos que consumia na infância, logo me vem à cabeça: Speed Racer, filmes como Se Meu Fusca Falasse, Dias de Trovão, A Corrida Maluca, Super Máquina, Magnum, os clássicos de 007… o que havia em comum com todos eles era o quanto eles alimentavam uma paixão e uma indústria inteira: a automobilística. Essa era uma pequena ponta de um ecossistema completo feito de lançamentos anuais, o braço esportivo, com Fórmula 3, Fórmula 1 e seus respectivos ídolos campeões; Indy, Nascar, Stock Car, os kartódromos, roupas, brinquedos que iam do Super Trunfo ao autorama, até a chegada dos videogames a começar pelo Enduro, no Atari.

O ponto aqui é o quanto tudo isso se completava e retroalimentava no nosso imaginário até chegar ao nosso consumo. E, no Brasil, o carro ainda significava uma segurança financeira, um patrimônio que se as coisas apertassem, garantia renda para a família, como uma espécie de poupança motorizada.

O tempo passou e passamos a falar mais sobre mobilidade, nossa capacidade de deslocamento com rapidez, conveniência. A capacidade de movimentarmos coisas e cargas também.

Mais e mais o nosso tempo foi virando o nosso ouro, o nosso luxo. Ter tempo passou a ser aspiracional, o novo objeto de desejo. A tecnologia, então, chegou forte, juntando o ganho de tempo com a mobilidade e isso foi uma explosão. Poder me locomover e fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, não me preocupar onde estacionar e poder me programar minimamente. Isso chegou para ficar. E para completar o cenário, as pessoas começaram a fazer a conta na ponta do lápis (ou na calculadora do celular mesmo): o preço do carro, a depreciação, o seguro, as revisões, a gasolina, as multas, os estacionamentos, os pedágios… essa soma passou a ser comparada com a quantidade de vezes que você poderia utilizar o transporte pelo aplicativo sem se preocupar com multa, podendo adiantar sua vida nos caminhos, sem perrengue para estacionar nem gastar com estacionamento. Ou ainda, a possibilidade de alugar um carro e esquecer depreciação, seguro e revisões.

A questão é que nossos jovens passaram a se interessar mais por essa facilidade e isso está refletido em dados: quando olhamos o número de CNHs feitas de 2013 para cá, vemos uma queda de mais de 35%. E aqui eu acho que o ecossistema que eu citei, com filmes, desenhos, eventos, produtos e brinquedos que construíram o imaginário em torno do carro, perdeu sua tração e sua força. Ainda temos bons exemplos de pilares nesse ecossistema, mas são isolados. Elon Musk sozinho não vai conseguir fazer voltar a magia toda.

E vamos lá: Velozes e Furiosos 9 é a mais pura prova da falta de algo novo e aspiracional. E para onde vamos? Literalmente para onde quisermos. A mobilidade se expandiu para seu supermercado estar a caminho de casa enquanto você está voltando do trabalho. Para que o seu documento tenha firma reconhecida no cartório sem que você precise ir até lá, pois algum serviço de aplicativo pode fazer isso por você enquanto você vai ao dentista. Com o trabalho remoto, que evoluiu no último ano e virou realidade, permitindo que você se mude para qualquer cidade. E mudando de cidade, muda a economia, os empregos, as escolas, os hospitais dessas cidades que antes não contavam com a grande concentração urbana que a gente sempre viveu e entendeu como parte normal das nossas vidas.

Para o mundo dos negócios ficam algumas lições. A primeira é a que quando uma indústria alimenta o desejo, a emoção de seus consumidores, ela alimenta uma cadeia gigante de empresas, produtos e serviços, pois ela alimenta o imaginário das pessoas. E isso tem que ser atualizado constantemente. Outra lição é agir com rapidez e antever os movimentos. As montadoras hoje já oferecem a opção de aluguel, criaram empresas ou um braço disso em suas operações. Mas demoraram muito. Demoraram a entender com quem concorriam de verdade. Não era contra outra montadora, mas sim, com o tempo, a conveniência e as necessidades de seus consumidores. O carro autônomo pode concorrer com o We Work, por exemplo.

Ainda no mundo dos negócios, temos que lembrar que o nosso país possui, ainda hoje, 15 milhões de desempregados e a mobilidade está dando muita oportunidade para essas pessoas conduzirem outras pessoas ou entregarem mercadorias, prestarem serviços de entrega.

Quando a montadora entende que está no mercado da mobilidade e não no da venda de carros, com certeza, ela vai trazer ofertas, serviços e produtos muito mais interessantes ao consumidor. E de repente, voltar aos desenhos, filmes e games de toda uma geração.

*Crédito da foto no topo: Gremlin/Getty Images

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