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Nem oito nem oitenta

O trabalho híbrido é o meio do caminho que veio para ficar


17 de setembro de 2021 - 15h30

Muito tem se falado que a pandemia da Covid-19 trará mudanças drásticas e irreversíveis na forma com que nos relacionamos com o trabalho. Depois de mais de um ano de confinamento, empresas e colaboradores discutem qual será o modelo de trabalho do futuro. Em um dos extremos está o modelo tradicional, o presencial. No outro, equipes distribuídas trabalhando 100% remotamente.

Mas existe um outro cenário que explora as potencialidades de ambos os modelos. É para lá que Ford, Microsoft e Google estão mirando: o modelo de trabalho híbrido.

Sob medida: como o modelo Tailor Made da Leo Burnett reverbera nos negócios dos clientes

Futuro é flexível, segundo executivos como Sundar Pichai, CEO do Google e da Alphabet (Crédito: Shutterstock)

Na Ford, todos os colaboradores que estiveram em home office durante a pandemia da Covid-19 poderão escolher entre seguir trabalhando de casa ou de um dos escritórios da empresa. A decisão é do trabalhador e precisa apenas da aprovação do gerente direto. Ela pode colocar cerca de 30 mil colaboradores em trabalho híbrido. Na Microsoft, a decisão pelo modelo híbrido foi amparada por uma pesquisa encomendada pela empresa sobre o futuro do trabalho. A companhia está adotando um formato em que o colaborador poderá trabalhar até 50% do tempo em sua casa – ou em qualquer outro lugar fora do escritório. Já o Google planeja que seus colaboradores estejam três dias da semana nos escritórios.

Mas o que o caminho que estas gigantes estão trilhando dizem para nós? Primeiramente, são empresas líderes e que ditam sobre o futuro do trabalho. Mas, além disso, reflete o sentimento de dúvida que permeia todo executivo.

O trabalho híbrido, como o nome já diz, é uma mescla de modelos, do tradicional com o officeless, totalmente distribuído. Seria difícil de imaginar uma migração completa e total do modelo de trabalho tradicional, dentro de escritórios, para um em que o escritório não existe. Logo, o hibridismo é um caminho um tanto natural.

Porém, não acredito que a opção pelo modelo híbrido seja apenas uma etapa do trajeto rumando para a ausência dos escritórios. Acredito que esse modelo permite explorar vantagens dos dois e driblar as desvantagens que cada um carrega consigo.

As vantagens do modelo home office, apontadas em pesquisa da IDC Brasil encomendada pelo Google, estão muito conectadas ao bem-estar do colaborador, como a redução de tempo de deslocamento, flexibilidade em horários e mais tempo para si. No entanto, também existem vantagens para as empresas, que pode reduzir seus custos prediais e, na maioria dos casos, ter ganho de produtividade. Segundo essa mesma pesquisa, 82% das pessoas se sentiram produtivas ou muito produtivas durante o período de trabalho em casa.

Mas nem tudo são flores. O modelo home-office traz consigo consequências que podem ser nocivas para a retenção de colaboradores e para a sustentação de uma cultura organizacional. Os papos descontraídos nos corredores, o cafezinho ou o almoço com o pessoal da firma são momentos em que colegas fortalecem seus vínculos e se tornam um time, um colaborando e ajudando o outro. Isso auxilia tanto na retenção de talentos como potencializa a cocriação.

Um outro ponto apontado pelo CVP da Microsoft 365, Jared Spataro, é que as conversas informais também têm papel fundamental para que os líderes entendam como suas equipes estão. “Esses encontros improvisados no escritório ajudam a manter os líderes honestos. Com o trabalho remoto, há menos chances de perguntar aos funcionários: ‘Ei, como vai você?’ e captar pistas importantes conforme suas respostas.”

O home office também provocou uma estafa na força de trabalho. Na mesma pesquisa do Google, 62% dos profissionais afirmam ter trabalhado mais do que antes. A estafa digital também está afetando boa parte dos trabalhadores, principalmente causada pela exposição contínua, durante toda jornada, às telas do computador ou do celular.

Trabalhar em casa também se torna difícil para aqueles que não têm uma infraestrutura adequada ou ainda pessoas que tenham que dividir o espaço com outras, ainda mais se forem crianças pequenas. Um ponto menos perceptível, mas igualmente importante, é a queda na criatividade gerada pela ausência de momentos informais com o time.

Nossa experiência de trabalho no último ano revelou que o modelo em que estávamos habituados a trabalhar não faz mais sentido. Mas, ao mesmo tempo, uma opção totalmente remota priva nossa capacidade de cocriar e de fortalecer laços com a empresa e com os colegas. Como disse Sundar Pichai, CEO do Google e da Alphabet, em e-mail enviado a todos colaboradores da companhia em maio deste ano: “o futuro do trabalho é a flexibilidade”.

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