Humanos, estamos “tomando a boca”

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Opinião

Humanos, estamos “tomando a boca”

Até pela histórica necessidade de aprovação pelo outro, a tecnologia torna consumidores cada vez mais dependentes


17 de janeiro de 2022 - 14h15

CES 2022 (Crédito: Consumer Technology Association)

Neste início de 2022, acompanhamos remotamente a CES (Consumer Electronics Show), uma das maiores feiras de tecnologia e inovação do mundo. Como um entusiasta do assunto, ao mesmo tempo em que esses eventos me assustam, eles me fascinam – apesar de o medo estar vencendo ultimamente.

Usando sempre a cortina mágica, “mais tecnologias para deixar aspectos de suas vidas fáceis e práticos”, como os produtos smart, desde os que deixam a casa inteligente (armários, geladeiras, TVs, lâmpadas) até coleiras para pets e pincéis para aplicar tintura no cabelo, por exemplo, a tecnologia vai nos tornando cada vez mais dependentes.

Steve Koenig, VP e Research da Consumer Technology Association, apresentou dados interessantes sobre o comportamento dos consumidores. Além de um maior uso da tecnologia, eles estão optando por mais marcas premium. Já vimos esse filme antes: personalização, companheiros virtuais, exclusividade. E o mantra não muda: as pessoas, segundo o chefe de pesquisa, estão dispostas a pagar mais caro por um produto que ofereça uma experiência diferenciada.

O entusiasmo em relação aos serviços se reflete nos altos números de inscritos nas plataformas de streaming. A Netflix já chegou a 240 milhões de inscritos; o Prime Video, a 175 milhões, e já são 118 milhões acompanhando o Disney +. E isso não se limita apenas a assinaturas de streaming, mas de música, livros, fitness, alimentação, entre outros.

Outro ponto é que consumidores estão mais abertos a soluções tecnológicas para melhorar a saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo McCann Worldgroup, “The Truth About a Well World”, evidencia esse fato, já que 86% dos entrevistados no mundo e 91% dos brasileiros acreditam que o maior desafio do século 21 é criar um mundo bom e saudável. Aparelhos e sensores que previnem e diagnosticam doenças mais cedo também foram apresentados na feira. Segundo eles, o futuro da saúde está em “abscense of disease”: em vez de tratarmos os sintomas, devemos focar primeiramente em prevenir as doenças.

A home health hub é outra tendência em discussão, um misto de smart homes e preocupação com a saúde. As pessoas buscam vivenciar suas casas para além do lar, como um centro de saúde e bem-estar. Para isso, o consumo de equipamentos fitness para casa, assinatura de serviços saudáveis, monitoramento da saúde e telemedicina estão alinhados com essa nova tendência.

E, claro, tem a evolução do 5G, que, diferentemente das conexões anteriores (4G, 3G etc.), terá implementações significantes para a evolução das empresas e indústrias, pois permitirá o funcionamento de tecnologia industrial real time. O foco incluirá todas as outras tecnologias que podem aumentar a produtividade e eficiência de companhias, como clouding data centers, digital transformation, automação, entre outros.

Além disso, Metaverso e os tão falados NFTs, assunto que abordei em artigo em setembro do ano passado, não poderiam ficar de fora da feira. Várias celebridades e marcas já entraram no espaço para promover suas artes ou para apoiar artistas do meio. Um exemplo é a L’Oréal, que comissionou artistas para criarem NFTs para a marca, deixou-os manterem 100% do valor da primeira venda e, em seguida, 50% do arrecadado na segunda venda foi direcionado para instituições de caridade. Essa tecnologia já chegou, inclusive, ao torneio Australian Open 2022. Liz Bacelar, fundadora da Decoded Fashion, série de eventos globais que conecta tomadores de decisão da indústria da moda e varejo a novas tecnologias, deixou uma provocação: “Não subestime o quanto as pessoas estão curiosas em relação aos NFTs”.

Subestimar? Eu jamais farei isso. O reconhecimento pelo outro como necessidade humana fundamental foi teorizado por um filósofo como Hegel e por um psicanalista como Freud. Faz parte da matriz psicológica da espécie. Segundo eles, drogas pesadas e redes sociais se apoiam em fraquezas humanas. No caso do mundo virtual, digital etc., essa necessidade primal de aprovação de um ser humano por outras pessoas continua, mas em escalas jamais imaginadas.

E a tecnologia, que não é boba nem nada, já percebeu que estamos cada vez mais dependentes e dispostos a dar tudo em troca de um carinho, mesmo que ele seja ilusório.

*Crédito da foto no topo: iStock 

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