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Opinião

Sala de emergência

Covid-19, potencial da terceira guerra mundial e síndrome de burnout bombando. Desculpa, mas preciso dar a notícia de que o seu escritório virou a sala de emergência?


24 de março de 2022 - 13h29

(Crédito: Shutterstock)

Recentemente, passei por uma situação bem complicada ao acompanhar a busca pelo prognóstico e a descoberta de uma doença grave do filho de uma pessoa muito próxima. 

É uma daquelas situações que, quando acontecem, parece mais uma cena de ficção do que realidade, em que você, com o tempo correndo e a sensação de impotência latente, busca soluções em um momento de grande vulnerabilidade.  

Durante toda a espera, entre a busca no Google das complicadas palavras do resultado do exame às conversas implacáveis com os médicos, o maior desafio foi encontrar em meu repertório uma maneira de materializar as informações em palavras de conforto para uma família em desespero.  

E é sobre isso que quero falar neste artigo.  

Eu fiquei muito surpresa com a falta de habilidades emocionais de parte dos profissionais que conheci neste contexto, e não pude deixar de notar uma grande coincidência entre eles: a gritante maioria eram homens.  

Muita experiência e conhecimento técnico inquestionável, mas que não conseguiam resolver a questão. Já sabíamos que o problema não era resolvível, se tratava de um quadro grave e potencialmente irreversível, mas aqui neste lugar é o “como” que faz toda diferença. 

Não existiu um acolhimento, um abraço ou uma parceria, algo que qualquer ser humano esperava naquele momento. O PHD era tão importante quanto a capacidade de mostrar também um pouco o estado de presença, empatia e até uma dose de vulnerabilidade. 

Do outro lado, no meu pequeno CENSO, percebi que das poucas profissionais mulheres presentes ali, 80% estavam muito mais preparadas para lidar com a situação, sendo mais empáticas, disponíveis e acolhedoras. O olho no olho, o abaixar para falar com aquela mãe sentada apavorada, dando as mãos e simbolizando que estava próxima e disponível, isto sim era eficiência. 

Entendo que isto seja mais um dos frutos do patriarcado, que ensinou aos homens que emoção e trabalho não podem se misturar. Mas e quando o seu contexto exige justamente o contrário? 

Covid-19, potencial da terceira guerra mundial e síndrome de burnout bombando. Desculpa, mas preciso dar a notícia de que o seu escritório virou a sala de emergência? E como estamos conduzindo nosso trabalho e nossas equipes diante disso, mesmo? Impossível não fazer um paralelo com o que estamos enxergando hoje na cultura das agências e empresas.  

Nunca foi tão importante desenvolver competências emocionais e inter-relacionais no ambiente profissional, enxergar além da cadeira técnica e conseguir conduzir o desenvolvimento de uma pessoa a partir do que ela apresenta na integridade, suas vivências, emoções e recorte identitário. 

Faz parte da responsabilidade dos líderes formar profissionais que estejam mais aptos para desenvolver suas potências, levando em conta o outro e conseguindo fazer uma leitura do problema não apenas pelo viés técnico, mas também pela demanda humana das relações de trabalho que construímos.  

Fico orgulhosa em dizer que as mulheres estão muito mais treinadas e aptas para esta tarefa e entendemos que temos um papel fundamental na construção das novas competências. Trata-se de adotar o olhar feminino e desconstruir padrões limitantes para desenvolver profissionais mais completos e preparados para os desafios do futuro. 

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