Boa Esporte causou efeito avesso ao da Chapecoense
Segundo Eduardo Muniz, sócio diretor da Top Brands, estratégia do clube mineiro deve gerar perdas financeiras e rejeição em âmbito nacional
15 de março de 2017 - 11h21
Bruno foi apresentado oficialmente pelo clube na terça-feira, 14 (crédito: reprodução)
Perdas financeiras, rejeição e falta de credibilidade. Esses são os passivos que o Boa Esporte Clube conseguiu ao anunciar oficialmente a contratação de Bruno Fernandes das Dores de Souza para sua equipe nesta terça-feira, 14. A análise é de Eduardo Muniz, sócio-diretor da Top Brands, que acredita que, ao se envolver em uma contratação que, inevitavelmente, geraria polêmica, o clube deveria estar ciente dos riscos e problemas que sua postura poderiam acarretar.
Antes mesmo do anúncio oficial da contratação, o clube já sentiu os impactos financeiros de sua escolha. Cinco marcas que patrocinavam ou apoiavam o time anunciaram o rompimento dos contratos: Góis & Silva, Nutrends, Cardiocenter, Kanxa e Magsul. Na opinião do consultor, a atitude dessas empresas não causou espanto. “Vejo essa decisão das marcas de deixar o clube como algo bem natural. Episódios recentes de crises com atletas no universo esportivo em todo o mundo já demonstraram que, para as empresas, a máxima do ‘falem mal, mas falem de mim’, já não funciona mais”, acredita o consultor.
Na opinião de Muniz, a curto prazo, a contratação do jogador (condenado em 2013 a 22 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado e libertado no mês passado, por um habeas corpus) só traz impactos negativos ao clube. “As pessoas já estavam, de certa forma, indignadas com a soltura do Bruno. E, logo em seguida, o anúncio da contratação inflamou ainda mais as reclamações”, analisa. Para o profissional, é difícil não atribuir a atitude do Boa Esporte a uma estratégia oportunista. “É praticamente inevitável não pensar nesse cenário. Se ainda fosse um clube com histórico de preocupação com questões sociais e recuperação de indivíduos, essa negociação ainda faria sentido. Mas, da forma como foi, causa a impressão de ter como meta apenas conseguir visibilidade”, acredita.
De acordo com o consultor, o pior saldo resultante dessa contratação nem é a perda de patrocinadores, mas sim a enorme rejeição causada no público de todo o País. “Claro que a perda de receitas de patrocínio prejudica muito um clube, mas creio que eles consigam contornar isso porque sempre há empresas que também compram esse discurso oportunista e queiram se vincular ao clube. Mas o maior passivo que o Boa Esporte terá é a antipatia da sociedade. Embora com situações totalmente diferentes, eles conseguiram exatamente o oposto da empatia que a Chapecoense despertou nas pessoas na ocasião da tragédia”, compara Muniz, citando a forte comoção que o clube catarinense gerou após o desastre aéreo ocorrido na Colômbia, em novembro de 2016.
Questionado sobre algum efeito positivo da contratação de Bruno para o clube, o consultor acha que é pouco provável que a equipe mineira colha algum fruto de sua estratégia. Mas, caso isso aconteça, deve demorar um longo tempo. “Para que essa contratação seja vista com bons olhos é necessária a combinação de duas variáveis. A primeira é a absolvição de Bruno das pendências judiciais e, a segunda, é seu comportamento como cidadão e atleta. Se daqui a um longo tempo, o jogador realmente for bem sucedido no clube e receber a absolvição judicial, o Boa Esporte terá como trunfo o fato de ter sido o único a apostar em sua recuperação”, pontua.
Visibilidade efêmera
O profissional faz questão de ressaltar que, se a contratação de Bruno foi motivada apenas para gerar visibilidade ao clube na mídia, a estratégia, em breve, se mostrará ineficiente. “Regionalmente, o time ainda terá muita repercussão e atenção da imprensa e do público. Mas, em aspecto nacional, a tendência é que o assunto seja, aos poucos, esquecido, voltando à tona apenas em circunstâncias especiais, seja por conta do desempenho do Bruno em campo ou de alguma reviravolta judicial”, aposta.