Coca-Cola: tributos, reputação e fake news
Notícia da Folha sobre a saída da empresa da Zona Franca de Manaus gera debates e internautas resgatam informações inverídicas; empresa afirma que “não trabalha com ameaças”
A Coca-Cola esteve, durante a tarde desta terça-feira, 21, nos trends do Google como um dos assuntos mais buscados na internet brasileira. Isso ocorreu após a publicação de uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre a possibilidade de a empresa deixar a Zona Franca de Manaus como represália a mudanças tributárias.

Fake news também diz respeito às marcas
A notícia também gerou discussões políticas sobre “favorecimento desigual a multinacionais” e, em alguns casos, chegou a ser compartilhada acompanhada de outros links já desmentidos pela empresa e considerados fake news. Um deles, por exemplo, diz que a Coca-Cola estaria interessada em comprar o aquífero guarani. Meio & Mensagem já tratou deste tema nesta reportagem sobre marcas e fake news.
De acordo com Silvio Passarelli, diretor das Faculdades de Economia e Administração da Faap, o que ocorre entre a Coca-Cola Brasil e o governo é resultado da dinâmica da própria política de isenção de uma zona franca. “As empresas quando se instalam em uma zona franca se baseiam em algo proposto para calcular seus investimentos e se existem mudanças ao longo do percurso é natural que haja situações como essa”, explica.
Apesar de o consumidor entender a Coca-Cola como apenas uma, existem três diferenciações de como a empresa se identifica: The Coca-Cola Company, com sede em Atlanta; Coca-Cola Brasil, unidade de negócios da Coca-Cola Company no Brasil; e a marca Coca-Cola.
Em relação ao impacto do caso na opinião pública, Passarelli afirma que existem dois casos acontecendo ao mesmo tempo. “Os que conseguem ler as entrelinhas entendem o contexto e entendem que o governo precisa arrecadar. Por outro lado, no entanto, estão discursos mais nacionalistas que acabam tratando de críticas a multinacionais e à soberania do País”. O especialista sugere cuidado na análise dos fatos já que eles ocorrem em meio a um período eleitoral e em um momento delicado relacionado à proliferação de fake news.
Em nota enviada ao Meio & Mensagem, a Coca-Cola Brasil afirmou que não tem planos de deixar a Zona Franca de Manaus. “De onde, há 28 anos, sai o concentrado utilizado na produção de várias de nossas bebidas pelas 36 fábricas instaladas no país. O nosso compromisso com o Brasil é sólido e de longo prazo, numa trajetória que já soma 76 anos. Nossos valores e práticas incluem diálogo e transparência com governos e com a sociedade brasileira. Não trabalhamos com ameaças”, disse a empresa reforçando que, em 2017, investiu R$ 3 bilhões no Brasil.
Entenda o caso
A redução na alíquota do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), de 20% para 4%, em junho, seria o motivo de a Coca-Cola Brasil ameaçar retirar sua produção de xarope da Zona Franca de Manaus, matéria-prima base das bebidas. De acordo com a Folha, ainda que o governo tenha reduzido o imposto, a empresa alega que as mudanças reduziram os créditos tributários recebidos onerando a carga tributária.
A empresaria estaria motivada, inclusive, a transferir sua produção de xaropes para outro país da região. Ainda de acordo com a Folha, muitas empresas que produzem o xarope em Manaus são isentas dos tributos, logo o valor do IPI tornava-se crédito. “A empresa não pagava os 20% porque está na Zona Franca de Manaus. Mas na hora em que o xarope sai de Manaus para as engarrafadoras que estão em outros estados, elas ganhavam um crédito de 20%. Com a nova regra, o desconto passou a ser de 4%”, explica a Folha.

Empresas aderem ao movimento sem canudos
A Coca-Cola não está sozinha nessa reivindicação. Outras empresas reunidas na Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes (Abir), que também reúne Pepsi e Ambev, defendem que o governo aumente o imposto para ao menos 15%. Caso isso não ocorra, mais de quinze mil vagas de emprego podem deixar de existir na região. De outro lado está a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil que alega que “grandes multinacionais” são beneficiadas de forma desleal.