Mercado Livre esclarece planos para segmento farmacêutico
Executivos afirmam que empresa não será rede de farmácias e pedem modernização das regras do setor

Mercado Livre adquiriu a farmácia Cuidamos, em operação aprovada pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) (Crédito: Diego Thomazini Tamakhin Mykhailo/Shutterstock)
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 9, as principais lideranças do Mercado Livre esclareceram os planos da companhia para o setor farmacêutico após a aquisição da farmácia Cuidamos, operação aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Dias atrás, o órgão aprovou a compra do estabelecimento. A Target, nome fantasia da Cuidamos Farma Ltda., foi vendida pela Memed, startup que digitaliza receitas médicas e exames.
A Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) se posicionou junto ao conselho, levantando suspeitas sobre o negócio.
A entidade alega que o marketplace não forneceu todas as informações sobre a transação e parcerias futuras, o que poderia gerar um “incidente de enganosidade”, ou seja, a apresentação de dados incompletos ou falsos para que o Cade aprovasse a venda sem avaliar riscos reais à concorrência.
Entrada cautelosa e foco em aprendizado
Participaram da coletiva Fernando Yunes, vice-presidente sênior de commerce e líder do Mercado Livre no Brasil, Tulio Landim, diretor sênior de marketplace, e Adriana Cardinali, diretora jurídica de e-commerce no Brasil.
“Começamos a perceber um movimento do qual não compartilhamos os valores, então optamos por realizar uma conversa transparente e aberta”, afirmou Yunes, ao abrir a coletiva.
Segundo ele, o objetivo foi esclarecer interpretações equivocadas sobre a compra e o posicionamento da empresa em relação à regulamentação de medicamentos no ambiente digital.
Yunes explicou que o Mercado Livre adquiriu uma única farmácia física para operar no modelo 1P, quando a empresa compra e revende os produtos diretamente — único formato atualmente permitido no Brasil.
O propósito, segundo ele, é testar e entender o funcionamento do setor farmacêutico, desde logística e armazenamento até atendimento e conformidade regulatória.
“Não é nossa estratégia criar uma rede de farmácias. O que queremos é que as farmácias vendam dentro do Mercado Livre, mantendo o DNA de marketplace e de vendas no modelo 3P, em que o vendedor é responsável pelo estoque, pelo envio e pelo relacionamento com o cliente, e nós atuamos como plataforma de intermediação e pagamento”, reforçou o executivo.
Atualmente, a venda de medicamentos por marketplaces não é autorizada no Brasil, mas o Mercado Livre defende que o tema seja revisado.
“Por não ser uma possibilidade hoje, compramos uma farmácia para vender no modelo 1P. Em paralelo, estamos conversando com órgãos e autoridades políticas para modernizar as políticas de venda online”, disse Yunes.
Segundo os executivos, a empresa manterá uma única operação-piloto enquanto aguarda a atualização da regulamentação pela Anvisa.
Nos bastidores, o Mercado Livre segue em diálogo com órgãos reguladores e políticos para defender a modernização da RDC 44/2009, que atualmente restringe a comercialização de medicamentos por plataformas digitais.
Atualmente, a empresa opera no formato 3P no México, Colômbia, Argentina e Chile, onde farmácias parceiras vendem diretamente aos consumidores.
Já nos Estados Unidos, na China e na maior parte da Europa, a venda de medicamentos com e sem prescrição é permitida de forma regulamentada.
Modernização da regulamentação
A diretora jurídica Adriana Cardinali reforçou que a aquisição da Cuidamos foi aprovada sem restrições e também negou que a empresa atue com serviços de telemedicina, rebatendo alegações feitas também pela Abrafarma.
“Não prestamos serviços de telemedicina, nem temos intenção de verticalizar o setor. Nosso foco é oferecer infraestrutura tecnológica para que farmácias licenciadas possam vender de forma segura dentro da plataforma”, explicou.
A executiva destacou ainda que o marco regulatório precisa ser atualizado para acompanhar a realidade digital do País.
“A regulamentação atual permite venda por fax, mas não por marketplaces. É preciso refletir sobre as possibilidades de oferecer uma regulamentação moderna, que traga segurança e democratização ao setor”, completou.
Mais acesso e menos desigualdade
Para Tulio Landin, diretor sênior de marketplace, a entrada do Mercado Livre nesse ecossistema representa uma oportunidade de ampliar o alcance das farmácias e facilitar o acesso dos consumidores.
“O que queremos é possibilitar que mais pessoas tenham acesso aos medicamentos em diversos pontos do Brasil”, disse.
Ele defende que o modelo digital pode reduzir barreiras econômicas e geográficas. “As pequenas e médias farmácias ganham escala, enquanto as grandes redes ampliam sua capilaridade. Isso aumenta a competitividade e garante melhores preços e condições para todos”, concluiu.