Os desafios de não transformar inovação em commodity
No 2º episódio da série Transições, Daniel Chalfon, sócio da Astella Investimentos, fala sobre o equilíbrio entre conhecimento e suporte a novos empreendedores
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Luiz Gustavo Pacete
8 de agosto de 2019 - 6h00
Daniel Chalfon, sócio da Astella Investimentos, tem uma carreira marcada pelo trânsito entre o universo da publicidade e do empreendedorismo. Teve passagens por agências como McCann e DM9DDB, alternando investimento em startups. Sua última empreitada em agências foi em 2016, quando deixou a participação na LDC, ex-Loducca. “Eu era sócio de agência desde 2004 e, quando vendi minha participação na Loducca, não conseguia me ver como executivo em nenhuma empresa. Acho que não desenvolvi talento para isso. Eu já estava próximo do mundo de tecnologia e investimentos desde 2008, por causa da Endeavor, e foi quando comecei a fazer alguns coinvestimentos com os meus atuais sócios da Astella”, explica.
A compreensão e o acesso a setores tão variados, segundo Chalfon, foram essenciais para que ele conseguisse, agora como investidor, vislumbrar tendências e negócios em potencial, mas também ajudam a entender como contribuir para o setor onde construiu sua carreira.
“Acho que minha geração conquistou coisas incríveis para a publicidade brasileira, mas também penso que as pessoas de sucesso deixaram de reinvestir no setor. Conquistávamos sucesso e colocávamos o dinheiro em outra atividade. Muitos optaram por deixar o País, comprar imóveis, enfim, sacou o dinheiro do sistema e colocou em qualquer outra coisa. Eu cometi esse erro também”, admite. No segundo episódio da série Transições, Chalfon conta os aprendizados e desafios encontrados nesses dois ecossistemas: de inovação e criatividade.
“Inovação não é um programa ou departamento, muito menos uma atividade de marketing. É a essência.”
Meio & Mensagem – Como foi esse trânsito entre o mundo corporativo da publicidade e o dos investimentos?
Daniel Chalfon –Eu era sócio de agência desde 2004, e quando vendi minha participação na Loducca em 2016 não conseguia me ver como executivo em nenhuma empresa. Acho que não desenvolvi talento para isso. Até fiz algumas conversas, mas logo senti que estava desperdiçando meu tempo e o das pessoas e que meu caminho deveria ser continuar a empreender ou participar de alguma nova sociedade. Outra coisa que me veio muito forte foi a vontade de provar para mim mesmo que dava para mudar de carreira depois dos 40. Estudei muito o tema, e vi que tinha uma barreira difícil de transpor aí por várias questões em nossa sociedade, então achei que era um desafio legal o de recomeçar do zero nessa fase, mostrar que é possível, e pode ser bacana.
O que te levou ao ecossistema de inovação e investimentos, por que esse tema te chamou a atenção?
Eu estava próximo do mundo de tecnologia e investimentos desde 2008, por causa da Endeavor e foi quando comecei a fazer alguns coinvestimentos com os meus atuais sócios da Astella. Acertei um pouco, errei bastante, resolvi aprender indo para Harvard na época estudar Venture Capital. Mas aí a agência cresceu bastante, time maior, mais clientes… também empreender um negócio em paralelo no mundo da música, aí ficou difícil de dar muita atenção ao universo de tecnologia e me afastei do setor durante algum tempo.
De que maneira os aprendizados como sócio em agência estão sendo aplicados no dia-a-dia?
A gente aqui na Astella costuma dizer que o empreendedor tem que ter entre outras coisas 10 mil horas de voo para dar certo. E ter trabalhado quase 25 anos em comunicação me deu acesso a múltiplos setores e segmentos, conhecimento das estratégias e táticas de incontáveis grandes empresas, marcas, canais de distribuição e convivência com profissionais excepcionais. Poucas atividades te dão uma visão tão diversificada quanto à publicidade. Mais do que isso, ser sócio de uma agência é ter que entender primariamente de gente. Gente no time, os sócios, acionistas, clientes, o trade. E no mundo de investimentos em venture capital a nossa maior aposta é em gente, gente capaz de criar negócios incríveis em mercados enormes e que possam transformar vida das pessoas. Então o que conecta tudo é gente.
“Os grandes grupos de comunicação se sofisticaram e foram limitando as opções dos empreendedores com o olhar apenas no curto prazo.”
Quais são os ensinamentos dessa nova realidade que você aplicaria na publicidade?
Acho que minha geração conquistou coisas incríveis para a publicidade brasileira, mas também penso que como um todo cometemos dois erros importantes. A gente conquistava sucesso e colocava o dinheiro em outra atividade, muita gente optou por deixar o país, comprou imóveis, sei lá… enfim sacou o dinheiro do sistema e colocou em qualquer outra coisa. Eu cometi esse erro também. Mas acho que boa parcela desse fenômeno aconteceu em função dos contratos que amarraram os empreendedores da comunicação na hora que eles tiveram uma situação de liquidez com seus negócios. Os grandes grupos de comunicação se sofisticaram e foram limitando as opções dos empreendedores com o olhar apenas no curto prazo. Então reinvestir no próprio setor com uma visão de longo prazo é a primeira lição. O segundo é que deixamos a publicidade perder a atratividade para os melhores jovens talentos do mercado. Quando comecei a minha carreira nos anos 90 a publicidade era um lugar que atraia muita gente atrás do sonho de trabalhar em algo criativo, que te dava liberdade de expressão, mas também pagava bem. Isso se perdeu por diversos motivos. Hoje os melhores talentos querem empreender, e fico feliz de reencontrar esse espírito no meu universo de trabalho atual.
“Um produto para ser incrível tem que ser indispensável no seu segmento, fazer a vida de quem usa realmente melhor.”
Pode indicar quatro insights que sua experiência recente lhe gerou em termos de consumo, experiência, inovação e marketing?
Acho que a primeira coisa é que inovação não é um programa ou departamento, muito menos uma atividade de marketing. É a essência. Se você tem uma área de inovação ou um programa focado nisso pode ter certeza de que não está inovando nada, apenas fazendo PR. No consumo e no marketing eu diria que é o foco no produto e na distribuição. Um produto para ser incrível tem que ser indispensável no seu segmento, fazer a vida de quem usa realmente melhor. Mas no final a guerra é vencida na estratégia de distribuição. A história está cheia de produtos superiores que sumiram do mapa porque não tinham uma estratégia distribuição superior e escalável.
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