Regulamentação e concorrência: os desafios das bets no Brasil
No palco do Maximídia 2024, lideranças de marketing de bets brasileiras discutiram os desafios para se sobressair em um mercado acirrado
As casas de apostas online, as chamadas bets, nos últimos anos, se consolidaram como grandes anunciantes e patrocinadoras no Brasil, em um mercado já extremamente concorrido. O setor, atualmente, está na finalização de um processo de regulamentação, que promete, a partir de 2025, organizar o cenário local ao regularizar a atuação de algumas empresas e proibir o funcionamento de outras.

Líderes de marketing discutiram o setor nesta quinta-feira, 3, no Maximídia (Crédito: Edu Lopes/Imagem Paulista)
A regularização desse setor é esperada há seis anos e, por isso, as expectativas são altas. A legalização das apostas esportivas ocorreu por meio de medida provisória de 2018, durante o governo de Michel Temer. Em painel do Maximídia 2024, nesta quinta-feira, 3, Patrícia Prates, diretora de marketing da Superbet Brasil, considerou que a palavra do momento é segurança.
“Estamos falando sobre uma população que, nos últimos seis anos, aprendeu a apostar e que, agora, terá alguém para se encarregar em caso de alguma queixa. Haverá a garantia de que quem está operando no mercado está cumprindo as regras e será possível auditar isso”, opinou.
Para Patrícia, houve uma mudança radical de discurso – “do vamos regulamentar” para o “vamos proibir”. Isso também é, segundo ela, um ponto benéfico para a categoria. “É basicamente falar para a população jogar com as empresas que operam de acordo com a regulamentação. É um processo de segurança”.
João Paulo Haddad, CMO da Alfa, concordou em relação à sensação de segurança que o processo promoverá para os usuários, empresas e veículos parceiros de mídia. “A regulamentação vem coibir irregularidades e dar luz às empresas sérias, que estão trabalhando, que querem arrecadar impostos, contratar as pessoas de forma correta e fazer o dinheiro movimentar a economia do Brasil”, disse.
Também em concordância, o CMO da EstrelaBet, Renan Cavalcanti, ressaltou ainda que a regulação impactará na organização da própria concorrência do setor. “Nada mais justo que as empresas entrarem num processo de competição saudável, onde todos consigam ter confiança. Isso é benefício para o País, gerando renda e emprego”.
Da parte de dentro
Internamente, Haddad pontuou que um dos desafios tem sido organizar a casa de acordo com as deliberações governamentais. A Alfa começará a operar oficialmente a partir de janeiro de 2025, início do período em que o mercado estará regulamentado. “Estamos nos preparando para oferecer um produto de qualidade e dentro das regras”.
Ponto alto dessa preparação, comum a todos os players, é, conforme o executivo, a necessidade de trabalhar a massificação da noção de jogo responsável. E a regulamentação, nessa esteira, deve ajudar também nessa educação dos usuários brasileiros.
“A aposta precisa ser uma camada a mais de entretenimento no esporte favorito do jogador e não uma fonte de renda. Tem que ser comparada com um cinema, com a cerveja com os amigos e não com a receita de um investimento. Então, o jogo responsável será um grande desafio para o ano que vem e é responsabilidade de todos nós”, afirmou.
Além disso, Cavalcanti acrescentou que outro desafio está ligado justamente ao ambiente concorrido. Ao sobrarem apenas empresas autorizadas disputando os espaços de mídia, haverá o desafio de criatividade para conseguir se destacar no meio da multidão e conquistar a atenção dos consumidores. “A empresa como um todo precisa ter um olhar muito criativo para poder passar a mensagem correta”.
Diferenciação
Para se ter uma ideia do tamanho do setor, de janeiro a agosto deste ano, 219 bets investiram R$ 2,3 bilhões em compra de mídia em TV e digital, segundo dados da Kantar IBOPE Media. Em relação às propriedades esportivas, mais de 60% dos times das séries A, B e C possuem casas de apostas como patrocinadoras e já é possível ver campeonatos patrocinados por mais de uma empresa, o que é inédito no mercado publicitário.
Diante desse território acirrado, Patrícia falou que a comunicação atual das bets é como uma “grande feira livre em que todo mundo grita sobre bônus, saque rápido e odds”, que é a estimativa de quanto se pode receber com uma aposta. Assim, há um esforço constante de ampliar os pontos de contato, com base, inclusive, em outros interesses, extrapolando o futebol e os temas convencionais.
Um exemplo, citou, foi o Super Tricolores, encontro entre São Paulo e Fluminense, times patrocinados pela Superbet, em maio, em prol do desastre no Rio do Sul. “Tem ações de sucesso em que você entende o DNA da torcida e faz alguma coisa para se conectar com a verdade daquele universo. Ou seja, se faz relevante além das mensagens transacionais”.
Mesmo assim, Haddad acredita que é difícil as bets se distanciarem do esporte, porque é o momento mais quente para esse mercado. Segundo ele, existem estudos que apontam que dois terços das apostas acontecem ao vivo. Porém, há a expectativa de encontrar caminhos para descobrir outros territórios de paixão dos torcedores, como os festivais de música.
“A pessoa que é apaixonada por esportes também é apaixonada por música, culinária e outras coisas. O ponto de contato não precisa se só no esporte, mas temos que descobrir outros momentos e criar uma conexão específica para aquele público”, salientou.
Além do olhar para fora, Cavalcanti incluiu o olhar atento para a experiência do produto, alvo também de investimentos robustos do marketing das empresas. “Temos que entender o que faz ser divertido, o que faz o jogador fazer mais de uma aposta. Tudo isso para que, como um todo, ele consiga experienciar o elemento diversão”.
Organizando a casa
Nesta quinta-feira, 3, o Ministério da Fazenda atualizou a lista com todas as empresas de apostas online autorizadas a operar no País até dezembro. A lista inicial, divulgada na terça, continha 192 sites ligados a 89 empresas. Agora, são 205 páginas na internet associadas a 93 empresas.
Essa atualização de dados, conforme a Fazenda, se deu por conta de erros no sistema de recepção de notificações. As bets não listadas não podem mais fornecer jogos de apostas no Brasil até que consigam a autorização do governo. As exceções à regra são as casas de apostas que operam com concessões estaduais.
A partir da listagem, o Ministério da Fazenda recomendou que os usuários recolham, até o dia 10 deste mês, o dinheiro depositado nos sites de apostas que deixarão de funcionar. Isso porque, no dia seguinte, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começará a derrubar do ar as páginas irregulares. A estimativa da Fazenda é que entre 500 e 600 sites saiam do ar.