Cinema se beneficia de lançamentos e cresce em 2025
Exibidoras destacam a boa agenda de lançamentos e apostam em experiências e programas de fidelidade para atrair mais pessoas às salas

Lilo & Stitch foi o filme com maior bilheteria no Brasil no primeiro semestre de 2025 (Credito: Reprodução)
Na primeira semana de julho, reportagem da Folha de S. Paulo, baseada em levantamento do portal especializado Filme B, apontoy que o primeiro semestre de 2025 foi o melhor, em termos de faturamento, desde 2019.
Segundo a reportagem, de 1 a 30 de junho, as salas exibidoras do Brasil faturaram R$ 1,2 bilhão com as vendas de 61,2 milhões de ingressos. Esses dados englobam todas as produções, tanto as nacionais quanto as estrangeiras, exibidas pelas salas de todo o Brasil.
Fazer o público voltar a frequentar os cinemas é o principal anseio da indústria desde a fase pós-pandemia de Covid-19, quando o setor foi duramente abalado pelas medidas de restrição. Antes, no entanto, as exibidoras já não viviam dias tão fáceis.
A difusão das plataformas de streamings, com opções variadas de filmes e produções, bem como a janela cada vez mais curta, que faz com que lançamentos das telonas rapidamente cheguem aos serviços on demand, trouxeram mais dificuldade em convencer as pessoas a pagar para assistir a filmes nos cinemas.
O primeiro semestre de 2025, no entanto, parece ter sinalizado que há caminhos para uma recuperação do setor. Cinemark e Cinesystem, duas grandes redes exibidoras que atuam no Brasil, pontuam que a primeira metade do ano foi positiva, em termos de negócios.
Embora não abra os dados específicos dos resultados no País, a Cinemark revela que a performance brasileira superou a da rede nos Estados Unidos e no restante da América Latina.
Para José Octavio Freitas, diretor de programação do Cinemark, há dois fatores que contribuem para essa retomada: uma clara recuperação do cinema nacional, com títulos que tiveram potencial de atrair muita gente às salas, aliada ao que ele classifica como cadência mais positiva de lançamentos de filmes.
“A performance de Ainda Estou Aqui, O Auto da Compadecida 2, Chico Bento, Vitória e Homem com H, somadas, acumularam um público muito próximo ao que Lilo & Stitch entregou, que é o primeiro filme a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria em 2025”, conta Freitas, citando o live action da Disney.
A Cinesystem também registrou boa movimentação em seu parque exibidor nos primeiros seis meses de 2025. A empresa revela ter tido um incremento de 21,8% de público e de 24% de renda na comparação com o primeiro semestre do ano anterior, com mais de 3 milhões de espectadores no período.
Assim como o executivo do Cinemark, Samara Vilvert, gerente de marketing da Cinesystem, também atribui aos títulos o mérito da atração de mais pessoas às salas.
“Os filmes são a principal matéria prima do nosso trabalho e quanto mais longas com bom potencial de adesão do público, maiores as chances de termos um bom desempenho. Esse foi um primeiro semestre com filmes de bastante apelo, como Lilo & Stich, Um Filme Minecraft e Mufasa: O Rei Leão.
Também destacando a força do cinema nacional para esse momento de retomada, Samara cita o exemplo de Ainda Estou Aqui, que mesmo lançado em 2024 seguiu rendendo receitas de bilheteria neste ano, sobretudo pelo sucesso da produção nas premiações. O longa foi a primeira produção brasileira a vencer um Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Filmes atrativos
Além das exibidoras, em si, o novo fôlego dos cinemas nesse primeiro semestre é corroborado pela Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras Multiplex (Abraplex).
Marcos Barros, presidente da associação, afirma que os títulos lançados neste ano tiveram grande potencial de atração. Além de Lilo & Stitch, que ultrapassou a marca de 10 milhões de ingressos vendidos no País, o executivo destaca Como Treinar seu Dragão, Um Filme Minecraft e Thunderbolts.
A Abraplex também frisa o peso do cinema nacional nessa conta. Além de Ainda Estou Aqui, Barros também cita Vitória, Homem com H e O Auto da Compadecida, que contribuíram para atrair brasileiros às salas.
“Isso é muito importante porque temos plena convicção de que o sucesso do filme brasileiro é fundamental para o desenvolvimento e a sustentabilidade do parque exibidor. E dados corroboram essa afirmação: todos os anos em que o filme brasileiro performou bem, registramos, também, recorde de público total nos cinemas”, destaca o presidente da Abraplex.
Apesar da melhora, a associação ressalta que, a despeito da recuperação gradual do primeiro semestre, os indicadores do setor cinematográfico ainda não voltaram ao patamar de 2019, permanecendo cerca de 30% dos níveis registrados naquele ano.
Além dos filmes
Contar com bons títulos parece ser a estratégia mais óbvia para os exibidores conseguirem ampliar a frequência em suas salas. Além disso, já há algum tempo, elas também vêm recorrendo a outras alternativas para tornar suas salas mais atrativas.
Vinicius Porto, diretor de marketing da Cinemark, pontua que desde o início de 2025 a rede vem investindo mais em ações de experiências. “Queremos que a jornada do nosso público não se limite a apenas assistir a um filme. Trabalhamos fortemente com pilares que consideramos fundamentais para a boa experiência de quem visita uma de nossas unidades”, explica.
Exemplos, segundo ele, são as Sessões-Experiência, voltadas a fãs de determinados filmes, além de campanhas como O Dia da Pipoca e “O Herói é Você”, essa última criada para a estreia do novo Superman.
Aproveitar ideias de ações a partir dos títulos também é uma estratégia que a Cinesystem vem adotando. Na estreia de Quarteto Fantástico, por exemplo, a rede brincou com a proposta do longa e ofereceu ingressos grátis a quadrigêmeos que fossem a alguma de suas salas. No ano passado, na época da Olímpiada, quem se chamasse Rebeca ou Beatriz ganharia ingresso grátis, em celebração às medalhistas olímpicas brasileiras.
“Para além das campanhas sazonais temos também nossas ações fixas, como a Quinta do Beijo, que troca beijos por desconto em ingressos na bilheteria, as sessões especiais, como Cinepets e Cine Azul, e participamos de ações nacionais, como a Semana do Cinema, Mostra Internacional de São Paulo, dentre outros”, conta Samara.
Incentivar a fidelidade do público tem sido a questão-chave do Cinemark, que em abril do ano passado reformulou o Cinemark Club, programa que oferece uma quantidade determinada de ingressos a partir de um pagamento mensal. A rede continua com benefícios de meia entrada para os clientes Vivo, Bradesco e Elo, além de collabs com empresas parceiras.
O diretor de marketing ainda destaca que os pilares de Alimentos e Bebidas são outra fonte de negócios, que vem permitindo parcerias com marcas para collabs e criação de produtos exclusivos.
“Temos acompanhado de perto e trabalhado para atender a esta necessidade do cinéfilo junto com ações que promovem o diferencial de experiência na Cinemark”, diz Porto.
Pirataria e janelas curtas
Após um primeiro semestre positivo, a meta para as exibidoras é, no mínimo, sustentar e, se possível, ampliar os números para o restante de 2025 e próximos anos.
Na visão da Abraplex, conseguir esse feito depende dos seguintes fatores: produções que tenham potencial de atração do público, junto de políticas eficazes de combate à pirataria e a regulamentação da janela de lançamento dos filmes no streaming.
A respeito da questão da janela do streaming, Marcos Barros ressalta que essa é uma questão estratégia para produtores, distribuidores, plataformas e público e acredita que, atualmente, o prazo em que um filme vai do cinema ao streaming é muito curto.
“Além de garantir a adequada rentabilização das obras audiovisuais, brasileiras e estrangeiras, a janela é fundamental para mitigar a pirataria, estimular o boca a boca e maximizar a performance futura dos títulos. Hoje, a média da janela para entrada no streaming no Brasil é muito curta, cerca de 45 dias. Isso compromete, principalmente, os filmes de médio e pequeno porte”, diz.
Ele também coloca a pirataria como um fator a ser combatido, já que o único momento em que os cinemas rentabilizam é, de fato, quando aquele filme está em cartaz, o que acaba prejudicado quando diversas cópias irregulares do longa circulam pela internet.
À parte dessas considerações, considerando o calendário dos filmes, a expectativa é positiva. A porta-voz da Cinesystem cita Superman e Quarteto Fantástico como títulos que ainda devem render boa bilheteria, além de estreias como Invocação do Mal 4, Zootopia 2, além de relançamentos de clássicos como Tubarão, Toy Story e Harry Potter.
“Mas também seguimos realizando ações promocionais que tenham como foco incentivar a ida aos cinemas não só pelo desconto, mas também pela diversão e ineditismo da campanha”, pontua Samara.
Octavio Freitas, do Cinemark, adianta que a rede seguirá pensando em iniciativas para atrair os consumidores, desde ativações até soluções e benefícios.
“Do lado da produção e distribuição, seguimos contando com a quantidade, qualidade e diversidade de títulos, para conseguir atrair uma gama mais variada e garantir que a experiência do cinema continue tocando diferentes públicos”, afirma.