Criadores pretos são menos contratados para campanhas
Estudo realizado pela Squid, Black Influence, Sharp, Site Mundo Negro e YouPix mostra diferenças de pagamento e tratamento de diferentes raças no mercado de influência
Para tentar entender a repercussão do debate sobre diversidade e igualdade de remuneração no mercado de criadores de conteúdo, a Squid, Black Influence, Sharp, Site Mundo Negro e YouPix se uniram para entrevistar 767 creators e traçar um comparativo da atividade. O resultado foi o relatório “Black Influence: Um retrato dos creators pretos do Brasil”.

Brancos são os que cobram mais por publicação em suas redes sociais; o valor é 12% superior do que o cobrado por pretos (Crédito: Humphrey Muleba)
A maioria (64%) dos influenciadores entrevistados já participou de uma campanha publicitária. Porém, ao dividir as respostas por raça, é pouca a diferença entre criadores pretos que já realizaram uma ação e que nunca o fizeram. Entre esse grupo, 47% declarou que nunca participou de uma comunicação publicitária. É a menor participação entre as raças e a quantidade de creators pretos que estiveram nas ações é 17% menor do que a média do total de respostas “sim”. Depois de pretos vem amarelos (41%), pardos (34%), brancos e indígenas (14%). Dos entrevistados, 0,9% são indígenas, 2,9% são amarelos, 17,1% são pretos, 22,3% são pardos e 56,8% são brancos.

(Crédito: Arte/M&M)
Brancos são os que cobram mais por publicação em suas redes sociais (R$ 564). Esse valor é 12% superior do que o cobrado por pretos (R$ 496); pardos cobram R$ 459; e amarelos R$ 436. A raça indígena foi retirada desta análise por conta da baixa amostra de respondentes.

(Crédito: Arte/M&M)
De acordo com Monique Evelle, sócia da Sharp, hub de inteligência cultural, a pesquisa confirmou a hipótese de que pretos e indígenas não são incluídos no mercado e que os criadores brancos sçao melhor remunerados. “Isso só reflete que a disparidade racial também está no contexto da influência e agora o mercado, a partir dessa pesquisa, não terá mais desculpas para tentar garantir equidade racial e de valores entre creators brancos e não brancos”, argumenta.
Apesar da maioria dos entrevistados não saber responder se já receberam menos do que outro criador de conteúdo pelo mesmo número de seguidores e engajamento, afirmam que sim: 38% dos pretos, 32% dos brancos, 31% dos pardos e amarelos e 17% dos indígenas.Na percepção de Silvia Nascimento, diretora de conteúdo da plataforma Mundo Negro, ter pessoas negras envolvidas nos processos criativos e burocráticos das campanhas é a forma mais genuína de sanar tais desigualdades e questionar até que ponto as marcas estão comprometidas a contratar empresas de pessoas negras para ajudar nesse processo.
“Para mim, empresas como a Black Influence são o caminho. Nos Estados Unidos vemos agências “black owned” como a Burrell Communications, fechando campanhas incríveis com marcas importantes como MC Donalds, incluindo influenciadores e artistas negros nesses trabalhos que dialogam com a comunidade, e atraem a atenção de todos os públicos”, diz.
Percepção sobre mercado
Cerca de 71% dos indígenas e 64% dos criadores pretos não consideram o mercado de marketing de influência inclusivo. Pessoas amarelas são as que mais creditam o setor como inclusivo (por 86%), seguida por pardos e brancos (ambos 64%). Na soma geral, 60% dos respondentes considera o mercado de marketing de influência inclusivo.
Isabela Ventura, CEO Squid, contextualiza que, mesmo sendo um mercado novo na indústria da comunicação, não era de se esperar que o setor de criação de conteúdo e influenciadores fosse equilibrado nesse sentido, tendo em vista, inclusive, que pesquisas apontam que pretos não se sentem representados pelas marcas.
“O mercado publicitário foi construído com base em nichos. Aprendemos a nichar tudo: consumidores, gerações. Essa sempre foi a lógica da publicidade: dividir, segmentar, compartimentar tudo que for possível. Porém, se por um lado isso contribuiu, para o desenvolvimento desse segmento e da otimização de investimentos, por outro lado criou e reforçou estereótipos e preconceitos”, analisa.
**Crédito da imagem no topo: FG Trade/iStock