Fabienne Colas: “Cinema deve espelhar a sociedade”
Criadora de filiais do Black Film Festival, produtora quer fomentar o cinema negro
Fabienne Colas: “Cinema deve espelhar a sociedade”
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Thaís Monteiro
19 de dezembro de 2019 - 6h00
Em novembro de 2020, Salvador recebe a primeira edição do Black Film Festival no Brasil. Dedicado a fomentar a indústria do cinema negro, o evento é filiado ao Black Film Festival de Toronto, Montreal e Halifax, organizados pela Fabienne Colas Fundation, instituição da atriz e produtora Fabienne Colas, que se dedica a promover a cultura como forma de integração social.
No Brasil, o evento na capital baiana é uma cocriação da fundação de Fabienne com a Zaza Productions, produtora estadunidense, e a brasileira Giro Filmes, liderada pelo cineasta brasileiro Belisário Franca e o profissional de marketing Maurício Magalhães. O festival já conta com o apoio da prefeitura municipal de Salvador e um projeto definitivo do evento será lançado em janeiro. “Já estamos conversando com uma empresa do sistema financeiro que tem todo o interesse nesse mercado e nesse projeto”, adianta Maurício Magalhães, CEO da Giros Filmes.
A entrada do Brasil no circuito de festivais liderados por Fabienne Colas partiu de um encontro de ideias. Haitiana fã do futebol e música brasileira, a cineasta começou seu contato com o cinema brasileiro em 2010, quando o filme Embarque Imediato, de Allan Fiterman, foi exibido em um dos festivais do Canadá. Desde então, o evento começou a receber filmmakers brasileiros e premiar filmes como Menino 23, do próprio Belisario, e Correndo Atrás, do Jeferson De. “Comecei a articular o quão interessante seria trazer esse movimento para o Brasil quando a Giro Filmes me propôs o mesmo”, conta Colas.O propósito do festival, a longo prazo, é fomentar mais parcerias internacionais com a indústria brasileira. A primeira edição busca trazer especialistas do Canadá, dos Estados Unidos e demais partes do mundo para Salvador com o objetivo de propor soluções de trabalho em conjunto. Para isso, o SBFF terá uma agenda com workshops e masterclasses para gerar integração. O primeiro passo, diz Fabienne, é divulgar a edição baiana nas demais filiais e para a imprensa nacional e internacional para conhecimento do público. Para ela, quanto melhor o festival de Salvador receber os filmmakerks internacionais, mais vontade eles terão de voltar para uma segunda edição: “A primeira edição vai dar o tom”.
Apesar de não ser atualmente um polo cinematográfico — São Paulo é o estado com mais salas de cinema, segundo um levantamento feito pelo G1 em 2017 — a capital baiana foi eleita por ser a cidade com maior quantidade de negros fora do continente africano, tem mais 80% de sua população formada por pretos e pardos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE). Portanto, o grupo quis sediar o evento em um local onde o público possa se ver nas telas e os filmmakers serem ouvidos. “É uma escolha natural, simbólica porque representação importa”, declara a cineasta. Com esse passo, ela também visa incentivar o desenvolvimento da indústria do cinema local. Ademais, Fabienne quer incluir o cinema como um atrativo turístico para Salvador, que já é conhecida pela culinária, música, dança e outras formas de arte que não necessariamente envolvam o aspecto audiovisual. Para isso, as empresas também trabalharão com os órgãos públicos de turismo.
Ao Meio & Mensagem, Colas compartilhou sua opinião sobre o cinema brasileiro e como contribuir para uma indústria cinematográfica mais representativa fora e dentro das telas.Quais são os diferenciais da produção audiovisual brasileira comparada à de outros países?
Filmes brasileiros são diferentes. Eles capturam uma realidade que só acontece no Brasil. São filmes incríveis que são universais. Mesmo que sejam histórias locais, eles podem ser entendidos por qualquer pessoa de qualquer parte do mundo. Eles podem se identificar nas histórias. É algo que eu não consigo identificar ao certo mas que faz as tramas especiais, interessantes, atraente para o mundo internacional. São filmes que vão para festivais internacionais, que estão vencendo prêmios, a maioria deles na verdade. Eu acredito que esse festival representa uma ótima notícia para filmmakers, especialmente negros, que agora têm uma casa para exibir seus filmes mas também para receber profissionais de todo o mundo.
Qual é o papel do cinema para o debate sobre representatividade?
Durante uma hora e meia um monte de gente senta em uma sala escura e assiste à tela e nos transformamos: nós sorrimos, rimos e até mesmo choramos juntos por conta de uma mesma história, uma mesma realidade.
O cinema tem um poder único de fomentar representatividade e diversidade. O cinema deveria ser o espelho da sociedade, representar sua demografia. O cinema é o veículo perfeito para tornar as pessoas mais próximas, para explicar a realidade de cada um para que juntos possamos entender melhor um ao outro. Durante essa uma hora e meia, ou qualquer que seja a duração do filme, um monte de gente senta em uma sala escura e assiste à mesma história na tela e nos transformamos: nós sorrimos juntos, rimos juntos e até mesmo choramos juntos por conta de uma mesma história, uma mesma realidade. Ao final do filme, todos nós podemos falar sobre o mesmo filme mesmo que não conhecemos um ao outro. Só o cinema pode fazer isso. É uma ferramenta de educação, fomenta o entendimento. Eu posso te contar minha história, você pode contar a sua e podemos todos nos entendermos melhor. Para mim, esse é o poder do cinema.
Como podemos melhorar a indústria nesse sentido?
A indústria do cinema já está atenta ao fato de que o cinema é uma ferramenta poderosa. É importante que filmmakers negros demandem inclusão e diversidade, assim como os cinéfilos. Isso tanto na tela quanto fora dela. Precisamos de mais filmmakers, produtores, roteiristas, editores de cor para que mais histórias de negros seja transformada em longas. São as pessoas nos bastidores que determinam que histórias vão ser contadas. Em todo o mundo a indústria do cinema está sofrendo com os mesmos problemas, não só no Brasil. No Canadá nós estamos demandando diversidade. Estamos tendo progresso mas não chegamos onde queremos estar ainda. Nós precisamos ser vigilantes, trabalhar duro para ter a certeza de que todos tenham uma voz e o direito de contar sua história, de ser visto. Para fomentar isso, precisamos apoiar instituições e eventos que debatam isso e procurem soluções em grupo, porque quando você inclui todo mundo da sociedade — negros, brancos, todos os tipos de pessoas –, a indústria fica mais rica e se beneficia, todos ganham.
**Crédito imagem do topo: Sinenkiy/iStock
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