Recordes e a sensação de que nada será como antes
Copa do Mundo feminina tem maior alcance midiático da história e, de quebra, amplifica a voz da luta por equidade de gênero
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Renato Rogenski
8 de julho de 2019 - 15h42
Em aspectos midiáticos, é possível dizer que a Copa do Mundo que acabou neste domingo, 7, foi uma “revolução francesa” para o futebol feminino. No Brasil, além de a Globo transmitir todos os jogos da seleção brasileira, pela primeira vez, a SporTV também exibiu 49 jogos do torneio (outros três foram realizados pelo Globoesporte.com). Além da Globo, na televisão aberta alguns jogos também foram transmitidos pela Band. Sob o ponto de vista mundial, a competição teve 130 emissoras envolvidas, com alcance em 135 países e mais de 1300 repórteres e fotógrafos produzindo notícias sobre o mundial.
Antes da final, partida em que os números globais ainda não estão consolidados, a disputa mais assistida foi entre Brasil x França, pelas quartas de final. O jogo foi visto pela televisão por mais de 50 milhões de espectadores no Brasil e outros 10,6 milhões na França. Tais números superam o recorde anterior, que era de EUA x Japão da Copa de 2015 (25 milhões). Outro resultado midiático expressivo foi registrado no Reino Unido, quando a semifinal entre EUA x Inglaterra foi exibida para 11,7 milhões de espectadores, a maior audiência da BBC no ano, segundo a própria rede.
Considerando apenas os jogos da seleção brasileira, a Globo registrou uma média de 23,3 pontos no Ibope. Contra a França foi o pico. Em São Paulo, o jogo com as anfitriãs do torneio registrou 32 pontos de audiência e 53% de participação entre os televisores ligados no horário, com aumento de 11 pontos na comparação com a média da faixa. Já no Rio de Janeiro, a partida marcou 30 pontos de audiência e 53% de participação, aumento de 6 pontos na comparação com a média do mesmo horário.
Mesmo com a seleção brasileira fora da final, a partida que coroou a seleção americana também se manteve próxima da média, na Globo. Em São Paulo, o jogo entre Estados Unidos e Holanda marcou 20 pontos de audiência, com 40% de participação e aumento de 8 pontos na audiência média da faixa. No Rio de Janeiro, foram 19 pontos, com 41% de participação e aumento de 4 pontos na média do horário.
Com a transmissão de cinco partidas da Copa do Mundo Feminina, incluindo os quatro jogos do Brasil e a final entre Estados Unidos e Holanda, a Globo alcançou mais de 101,1 milhões de pessoas no Brasil. “O país tem uma grande identificação com o futebol e um carinho imenso pela seleção feminina. A Globo fez uma cobertura completa da Copa do Mundo feminina na TV aberta, fechada e na internet e estamos muito felizes com o resultado. Só na TV aberta, mais de 101 milhões de pessoas foram impactadas pelas transmissões das cinco partidas que exibimos e o crescimento da audiência foi significativo entre diversos públicos”, comemora Joana Thimoteo, diretora de eventos de esporte da Globo.
Marcas no jogo
Aproveitando a explosão midiática, nesse período de Copa do Mundo de 2019, diversas marcas divulgaram ações de apoio ou simplesmente utilizaram o futebol feminino como plataforma para as suas ações. No Brasil, empresas como Guaraná Antarctica, Boticário, DMCard, Gol, Avon, Lay´s, Itaú, Coral, Google Brasil e Brahma entraram de alguma maneira no jogo. Entre as ações mais significativas, está a de Guaraná Antarctica. A marca de refrigerantes, que há 18 anos é patrocinadora oficial da seleção brasileira, criou uma espécie de manifesto em apoio ao futebol feminino. Para tentar progredir um pouco além do discurso, a marca realizou um ensaio fotográfico com as jogadoras Cristiane, Andressinha e Fabi Simões. O objetivo da ação, desenvolvida pela AlmapBBDO, é que essas imagens sejam negociadas com marcas interessadas e que o valor arrecado vá para as atletas e o projeto Joga Miga, que conecta mulheres que querem jogar futebol.
Guaraná Antarctica: mea culpa de impacto
Antes da competição, o Boticário criou a campanha “Com você eu jogo melhor”, com uma série de ações ligadas a equidade de gênero ao longo do ano. A principal delas foi incentivar todos os colaboradores da empresa a assistir aos jogos do Brasil na Copa do Mundo feminina, com horários especiais de jornada de trabalho para que isso seja possível, assim como foi feito no ano passado, durante os jogos da seleção masculina.
Dentro de campo, chamou a atenção da mídia o batom de cor roxa que Marta, a camisa dez da seleção brasileira, utilizou durante a partida contra a Itália. Questionada por uma repórter da Globo, a atleta admitiu ser um produto da Avon. Uma das promessas mais relevantes do cosmético é a sua duração de dezesseis horas sem borrar e, segundo a empresa, mantendo sua cor intacta. Tal atributo foi testado ao vivo, durante os 82 minutos em que a jogadora permaneceu em campo.
“O futebol feminino tem um grande potencial. Não apenas a seleção feminina. Cada vez mais, jovens jogadoras procuram espaço em clubes ou escolinhas para atuar na modalidade. Diversos grupos também estão se unindo para dar mais espaço para essas atletas, profissionais ou não. Então, assim como acontece no masculino, o futebol feminino precisa de incentivo desde a base até a chegada no profissional”, acredita Daniel Silber, gerente de marketing de Guaraná Antarctica.
Legado
Diante de tamanho sucesso midiática (e também as críticas sobre o desnível entre os valores de homens e mulheres no futebol), o presidente da Fifa, Gianni Infantino, anunciou ao fim da competição que deve dobrar seu investimento global no futebol feminino durante o próximo ciclo de quatro anos. O valor deve pular de US$ 500 milhões para US$ 1 bilhão. Além disso, a entidade também pretende dobrar o valor total de premiação para as seleções na próxima Copa. O valor deve chegar a US$ 60 milhões no campeonato de 2023, mas, ainda ficará bem longe dos US$ 400 milhões que as seleções masculinas receberão em 2022.
Em termos de mensagem, a Copa do Mundo 2019 também serviu para solidificar a reivindicação por equidade de gênero, incluindo investimentos e salários mais próximos entre homens e mulheres. Tal discurso recebeu durante o torneio duas vozes poderosas dentro de campo. Enquanto a atacante americana Megan Rapinoe criticou durante a Fifa antes da final, antes inclusive de ser premiada pela própria entidade como artilheira e melhor jogadora da Copa, Marta também deixou a sua marca no debate do empoderamento. Após marcar o gol que a colocou como maior artilheira da história das copas, a brasileira apontou para a chuteira que estava usando. Preto, sem a estampa de uma marca esportiva, o calçado trazia duas faixas azul e rosa, símbolo da ação Go Equal, que busca promover a equidade salarial.
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