Influenciadores indígenas e a busca por maior representatividade
Criadores de conteúdo, como o casal Tukumã Pataxó e Samelá Sataré-Mawé, trabalham como influenciadores e comunicadores para expor sua cultura e identidade aos seguidores
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Renan Honorato
19 de abril de 2023 - 6h00
Com a reformulação do nome para “Dia dos Povos Indígenas”, a data desta quarta-feira, 19 de abril de 2023 marca o primeiro ano em que a nomenclatura “Dia do Índio”, que passou a ser considerada pejorativa, deixa de ser usada oficialmente pelo Estado brasileiro.
Ao mesmo tempo, representantes dos mais de 800 mil indígenas vão tentando galgar, degrau a degrau, maiores espaços na mídia. Recentemente, a Globo contratou o escritor Daniel Munduruku como ator e conselheiro para uma de suas novelas.
Na publicidade, em 2022, a Mynd admitiu em seu casting o Kauri, conhecido como “Daldeia”. O indígena tem 28 anos e faz parte da aldeia Karapijuty, localizada no Amapá. Com envolvimento na criação artística e na música, durante a pandemia, ele viralizou no TikTok depois de publicar um vídeo mostrando a festa tradicional do seu povo.
Segundo a ativista Samela Sateré-Mawé, a publicidade e a comunicação precisam ser aliadas à causa, porém, não apenas para buscar representatividade dos corpos indígenas, mas na própria existência cultural e material dessa pessoas. Além de ativista, Samela faz parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), é creator no projeto Amazônia de Pé e colunista no Colabora, portal de jornalismo independente.
“Recentemente, uma marca de celular veio nos procurar para fazermos uma campanha e a primeira coisa que nos perguntaram era onde morávamos, se era na aldeia, numa oca ou na cidade, numa casa ‘normal’”, conta o influenciador e companheiro de Samela, Tukumã Pataxó, que tem 222 mil seguidores no Instagram.
Originário da região da Coroa Vermelha, na Bahia, Tukumã foi apresentador de quadro gastronômico no podcast Papo de Parente, produzido pela Globoplay. “Fizemos uma temporada de oito episódios e estamos esperando a confirmação se haverá uma segunda temporada. Mas gostei muito de fazer porque adoro falar sobre pratos, tipos de cozinhas diferentes”, conta.
Tukumã e Samela Sateré-Mawé, residente no Amazonas, estiveram no Baile da Vogue, cujo tema era “Sonho de Uma Noite de Verão”. “Nós sofremos racismo lá, não dentro do evento, mas no caminho para entrar, no tapete vermelho, algumas pessoas começaram a gesticular e fazer barulhos, como ‘uuu’”, relembra Tukumã.
A comitiva indígena era composta, além do casal, de Txaí Suruí, ativista indígena, e Day Molina, estilista que desenhou os trajes do grupo para o evento. Day é criadora da Nalimo, marca de roupas feita por mulheres que tem a sustentabilidade como principal material.
“Apesar de a indústria têxtil ainda trazer muitos malefícios ao meio ambiente, nós estávamos apresentando nossos corpos indígenas dentro de um espaço elitista e historicamente segregador para confrontar esses estereótipos”, analisa Samela. Independentemente da ação exercida, todo trabalho realizado por um indígena é um trabalho de desconstrução dos estereótipos que a colonização, a mídia e o mercado sempre ajudaram a preservar ao longo dos anos, diz Samela.
Outra personalidade que tem trilhado as passarelas pelo mundo é Noah Alef, de ancestralidade Pataxó. “O choque de um indígena aldeado em contato com a cidade é grande, principalmente pelas questões de vida, moradia e dinheiro”, diz.
Apesar de não ter passado a infância isolado na aldeia, Noah se mudou para São Paulo aos 19 anos, quando foi agenciado pela Way Models. Depois, andou por tapetes vermelhos na Alemanha, França, Inglaterra e, agora, reside na Austrália. “Sou o primeiro modelo indígena brasileiro. Quero tentar servir de exemplo para uma geração que pode se espelhar na trajetória e acreditar que somos capazes”, afirma.
Segundo a maioria dos entrevistados, as marcas muitas vezes buscam a representação indígena mais pela imagem e narrativa de diversidade do que para exercer um impacto social na ponta. “Na imagem, as marcas querem ser diversas, mas, quando você olha dentro da empresa, não tem tanta diversidade. Nenhum olheiro (agente que descobre modelos) foi procurar pessoas na aldeia porque, se tivesse passado por lá, teríamos muito mais representatividade”, acredita Noah.
“Se uma pessoa me vê com o celular, sou questionado, mas ninguém questiona o genocídio indígena, né?”, indaga Noah. De modo geral, as redes sociais se mostraram uma alternativa para se contrapor aos discursos hegemônicos, permitindo que influenciadores e grupos indígenas pudessem amplificar a voz e a abrangência dos saberes ancestrais, além de permitir oportunidades de trabalho. “No dia em que uma empresa pensar em chamar um indígena para discutir sobre meio ambiente dentro da companhia, isso vai ser revolucionário”, diz o modelo.
Leia a reportagem “Conexão pela sustentabilidade” na edição que comemora os 45 anos de Meio & Mensagem abordam os aprendizados, as mudanças de comportamento e os novos hábitos dos ambientes de trabalho criativos. A edição pode ser acessada de forma gratuita no acervo digital de Meio & Mensagem.
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