Opinião

A conveniência e o hábito da mudança

Tendência de se manter na zona de conforto contrasta com a inabalável certeza da transformação

Fernando Murad

Editor de Meio & Mensagem  11 de agosto de 2025 - 6h00

Quem nunca se sentiu confortavelmente instalado em sua zona de conforto, sem a menor disposição de mover uma palha? Ao mesmo tempo, em vários momentos da vida, somos impelidos rumo ao desconhecido em busca de realizar sonhos pessoais ou profissionais, mesmo que isso bagunce completamente nossa rotina e exija novos esforços e habilidades.

Carregando em nossos genes a experiência adquirida por gerações e gerações de seres humanos caçadores-coletores, não é de se estranhar uma certa tendência a não mexer no time que está ganhando. Ainda mais quando a principal questão da vida é encontrar a próxima refeição — e não se tornar uma para um predador que cruzar o seu caminho.

No entanto, a constante transformação da natureza, de uma maneira ou de outra, sempre nos move. Afinal, a humanidade não passou de nômades que caçavam animais selvagens e coletavam plantas comestíveis para uma sociedade hiper conectada à toa.

À medida que avançamos, é comum que algumas revoluções deixem de ser notadas como tal, de tão presentes em nossas vidas. Por exemplo, a energia elétrica, a água encanada, as linhas de telefone e, mais recentemente, a internet. Ou será que millennials, GenZ e Alphas conseguem imaginar um mundo sem essas tecnologias?

Mesmo pequenas mudanças de hábitos têm impactos gigantescos. A introdução do sabonete e a prática regular da lavagem das mãos tiveram reflexos significativo na medicina, especialmente no combate a doenças infecciosas.

Por mais que uma inovação transforme nosso jeito de ser ou de viver, uma característica é determinante para acelerar sua adoção: a conveniência oferecida. Ou seja, a solução de um problema que nos aflige.

Na era das redes sociais e do culto à imagem, a obesidade adulta no mundo mais que dobrou desde 1990 e a adolescente quadruplicou. Em 2022, 43% dos adultos com 18 anos ou mais estavam acima do peso, enquanto 16% viviam com obesidade. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Medicamentos agonistas de GLP-1, que ficaram popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras, se tornaram uma revolução neste cenário. As vendas dos pioneiros Ozempic e Wegovy transformaram a Novo Nordisk na empresa de capital aberto mais valiosa da Europa.

Relatório da JP Morgan Research de 2023 projetou que o mercado global de GLP-1 deveria ultrapassar US$ 100 bilhões até 2030. O crescimento deve acelerar com a queda da patente da semaglutina, em 2026, o princípio ativo de Ozempic e Wegovy. Em maio, a Eli Lilly trouxe ao Brasil o seu Mounjaro e, na semana passada, a EMS se tornou o primeiro laboratório brasileiro a entrar no segmento, com o lançamento de dois medicamentos: Olire, para o tratamento de obesidade, e Lirux, para o controle de diabetes tipo 2. Cimed e Hypera devem ser as próximas.

O avanço dos agonistas de GLP-1 não afeta apenas o mercado farmacêutico, como mostra a reportagem de capa de Meio & Mensagem desta semana, assinada pela repórter Taís Farias. O impacto no estilo de vida dos pacientes que utilizam o fármaco pode reduzir os gastos em algumas categorias de alimentos, em especial petiscos doces e salgados e produtos de panificação. Por outro lado, uma maior disposição a interações sociais pode impactar o setor de entretenimento, a cadeia de bem-estar e a área de vestuário.

A cada mudança, uma oportunidade.