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Opinião

A escala vale mais que a tecnologia

Erros, aprendizados, o crescimento rápido da Inloco Media e sua venda para o Magalu


10 de agosto de 2020 - 14h07

(Crédito: Tiero/ iStock)

No momento em que eu e meus primeiros sócios resolvemos seguir adiante com um projeto de faculdade e empreender, estávamos no meio do curso de Ciência da Computação da UFPE, em Recife. O ano era 2010 e estávamos falando sobre um assunto conhecido no meio acadêmico como Computação Ubíqua, a implementação ótima da Internet das Coisas (IoT). O questionamento que nos fizemos foi: como oferecer ao usuário final a capacidade de interagir com o ambiente e, de maneira segura, a personalização de seus dispositivos de IoT?

A viabilidade que encontramos se deu na associação do dispositivo pessoal de IoT, como o smartphone, ao seu respectivo contexto local. Então, criamos um sistema de geolocalização ultra preciso, que anos depois foi premiado pela Microsoft Research, ACM e IEEE como a solução de localização indoor via software mais precisa do mercado global, com 2.8 metros de precisão.

 No entanto, a tecnologia criada para endereçar nosso objetivo ainda estava longe de virar um produto comercial uma vez que não havia infraestrutura 5G para viabilizar o crescimento da Internet das Coisas, e que problemas de privacidade e segurança nesse âmbito não eram tão relevantes como hoje, fazendo de nós “loucos sem causa”. Por isso, foi preciso criar produtos alternativos, capazes de atuar em problemas reais do momento presente. O resultado foram vários negócios que deram errado: aplicativo para shopping centers, plataforma de navegação mobile em ambientes indoor

Depois de quatro anos de muitos erros e aprendizados, em 2014, surgiu um produto de sucesso: Inloco Media. Em dois meses, a empresa havia se tornado lucrativa e, em menos de um ano, passou a faturar mais de R$ 1 milhão por mês. Era muito dinheiro para um time sem nenhuma experiência no mercado, eu mesmo estava com 23 anos de idade. Os sócios sequer cogitamos distribuir os lucros entre nós: reinvestimos tudo no negócio, o que nos permitiu montar escritório em São Paulo e contratar mais pessoas para o time.

No começo, nos sentíamos seres de outro mundo, sem saber o que era um PI, sem entender a dinâmica do mercado, mas nos arriscamos. Mas fomos muito bem recebidos pelas agências e anunciantes que nos ensinaram tudo sobre a indústria. Foi um sucesso: crescemos muito rápido e logo viramos líderes nacionais do nosso nicho. Deixamos um legado importante, inventando o “retargeting offline”, o modelo de negócio de custo por visita, o CPV (cost per visit) e a integração entre mobile e OOH, o “OOH extension”, dentre outras inovações criadas no Brasil e replicadas no resto do mundo.

Por cinco anos, crescemos 100% ano a ano. Particularmente, eu estava muito realizado como presidente de uma empresa que voava, a frente de um time exemplar! Mas, em momento algum, esqueci do nosso foco e compromisso com a Computação Ubíqua. Estava consciente de que o negócio de publicidade era transitório e, sinceramente, era consumido pela frustração de ainda não ter tido a ideia do nosso próximo produto capaz de efetivar essa transição.

É importante lembrar que, durante o período de ascensão da Inloco Media, nem todas as oportunidades de negócio eram alinhadas aos nossos valores. Assim, tivemos a chance de reafirmar esses valores na prática, rejeitando qualquer tipo de atalho ou negociação que fosse contrário ao que acreditávamos e seguimos acreditando, como a ingestão de dados pessoais identificados em nossa base para fazer publicidade individualizada ou, ainda, a possibilidade de usar nossa tecnologia durante as eleições, mesmo que isso representasse dezenas de milhões de reais deixados na mesa. O caminho mais difícil foi, por muitas vezes, a única alternativa para nos mantermos fiéis aos nossos valores.

A Inloco Media, após cinco anos de seu lançamento, começou a sentir o peso da concorrência frente às Big Tech. Aprendemos que estávamos num mercado em que a escala era ainda mais importante que a tecnologia. Em novembro de 2019, um ano depois de sermos premiados como a melhor empresa de serviços de marketing do Brasil pelo prêmio Caboré, tivemos a primeira Black Friday com queda na receita em relação ao ano anterior.

Em paralelo, nossos novos produtos vinham tendo sucesso e decidimos que era hora de mudar de foco. Na semana passada, demos o primeiro passo em relação a deixar o mercado de mídia, mas sem deixar de reconhecer sua fundamental importância na construção daquela nossa visão de 2010, a de construir a plataforma da Computação Ubíqua! Agora, nossa missão é demonstrar àquilo que temos certeza, isto é que o Magazine Luiza levará a solução Inloco Media para um patamar completamente novo, beneficiando toda a sociedade. Ao mesmo tempo que tal operação, uma vez aprovada, permitirá dedicarmos tempo integral nesse sonho da Computação Ubíqua, onde começamos a implementar uma nova estratégia de atuar de frente com a nossa solução de identidade digital – Incognia –, tanto no mercado dos Estados Unidos, como no Brasil.

*Crédito da foto no topo: iStock

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