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A fadiga de notícias

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Opinião

A fadiga de notícias

De cada 100 brasileiros, 54 evitam saber das notícias no seu cotidiano


1 de julho de 2022 - 6h00

(Crédito: Reprodução/Shutterstock)

O alerta veio do 2022 Digital News Report, do Instituto Reuters e da Universidade de Oxford (Inglaterra, Reino Unido). De cada 100 brasileiros, 54 evitam saber das notícias no seu cotidiano. Estão cansados. Já têm motivos suficientes para estarem tristes, não pretendem obter novas razões. Em 2019 eram 34% apenas os que apresentavam esse comportamento.

Os pesquisadores ingleses atribuem esse índice alto ao momento em que vive o Brasil, que ainda sofre com os mortos na pandemia e com o custo de vida estratosférico. No Japão, onde a qualidade de vida é mais estável, só 14 de cada 100 evitam notícias. Dinamarca e Finlândia contam 20%, enquanto na Alemanha esse índice é de 29%.

Mas a análise global dos dados revela pontos preocupantes. Essa fadiga de notícias é devido a fontes não confiáveis (29%), 14% alegam não ter tempo para se informar em um mundo que exige tanto do cidadão, enquanto 8% considera-se incapaz de entender a notícia. Ou seja, há culpa dos meios de comunicação para esse resultado ser tão ruim.

A esmagadora maioria dos meios de comunicação em ambiente digital ainda acredita que a melhor forma de gerar receita é pela publicidade programática. Esse erro de visão foi provocado pela sensação de que bastaria abrir espaços (inventário) nas páginas que, por um toque de mágica, a publicidade – e o dinheiro – apareceriam. Mas isso é de uma ingenuidade (e preguiça) impressionante.

A programática só funciona quando se tem uma enorme audiência – preferencialmente qualificada, identificada com algum nicho. Isso geraria mais impressões e melhoraria o CPM, por exemplo. Mas não faz sentido, são valores que se constroem proporcionalmente à qualidade dos conteúdos apresentados. O “clique fácil”, provocado por pets, sangue ou mulheres bonitas, vale muito pouco.

No mundo da programática não é preciso sair a vender propaganda: os administradores da ferramenta fazem isso. E, claro, abocanham a melhor parte. Quem buscou uma posição confortável, de apenas esperar o dinheiro pingar na conta sem fazer nada, aos poucos entendeu ter se enganado. Isso não funciona. É um bom complemento, mas não pode ser receita principal.

Os números que o relatório da Reuters traz são consequência de um desleixo na produção de conteúdo. O desinvestimento em inteligência, em bom jornalismo, em análise e opinião de qualidade, baixou o nível do conteúdo oferecido. Essas notícias não interessam a mais da metade da população, segundo o Digital News Report. Isso é grave. E mais grave ainda é não se fazer nada para reverter o quadro.

O DNR 2022 está recheado de informações – para quem ainda não está cansado de notícias. Por exemplo, as redes sociais ultrapassaram o alcance da televisão como fonte de notícias. Celular é o dispositivo preferido para 3 de cada 4 brasileiros. Já são 18% os brasileiros que aceitam pagar para receber conteúdo jornalístico digital. Ou que 27% ainda confia que os meios de comunicação no Brasil são independentes de interesses políticos e econômicos.

A boa notícia é a consolidação do digital como plataforma preferencial para o jornalismo. A má notícia é que muitos ainda não entenderam isso, nem como sobreviver nesse novo universo.

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