A reputação de centavos do bilionário Elon Musk
Um líder do seu quilate, com o capital que gerencia, com o patrimônio que detém, não pode se dar ao luxo de incorrer nos deslizes que ele comete
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Muito se fala sobre a rivalidade feminina. Que as mulheres são competitivas, que adoram se sobressair, chamar mais a atenção, ser mais bonitas, mais inteligentes e também mais bem-vestidas que as suas pares. De fato, as mulheres concorrem. Qualquer pessoa que tem o privilégio de conviver com elas, que tem mais que dois neurônios, e uma certa capacidade para observar o que acontece ao redor, percebe que elas disputam o tempo inteiro. Mas, qual o ser humano, ou qualquer outro ser vivo, que não compete? A biologia impele todas as criaturas, sem exceção, a um constante enfrentamento. É um imperativo da natureza.
Sim, as mulheres concorrem. Porém, a competitividade entre elas, na minha opinião, é mais sofisticada. “Fazemos tudo de forma velada”, me confessou certa vez uma amiga muito querida. Tendo a concordar com ela. Nós, homens, por exemplo, em geral somos mais óbvios. Basta uma provocação do rival que a tendência é logo declarar guerra, querer sair no braço, ou comparar o tamanho dos respectivos órgãos reprodutores. Como fez Elon Musk, CEO do X (ex-Twitter), ao desafiar Mark Zuckerberg, CEO da Meta, para uma luta num ringue em meados deste ano.
Este artigo, a propósito, é para falar sobre a bilionária perda de valor da marca Twitter, a reboque das atitudes no mínimo controversas do bobo da corte do Vale do Silício. Me refiro a Musk com palavras pouco lisonjeiras, contudo usadas pelo próprio: “Eu me faço de bobo no Twitter e muitas vezes dou um tiro no próprio pé, me causo todo tipo de problema… não sei, acho vagamente terapêutico me expressar no Twitter. É uma maneira de levar mensagens ao público”, declarou o próprio à jornalista Roula Khalaf, do Financial Times, em reportagem publicada em outubro passado, quando adquiriu a plataforma por US$ 44 bilhões.
A terapia de Musk em praça pública online anda custando caro ao Twitter… oops… ao X. De acordo com reportagem publicada pelo Meio & Mensagem, com informações do Ad Age e da Bloomberg, o Twitter pode ter perdido com o rebranding entre US$ 4 bi e US$ 20 bi do seu valor de marca. A matéria destaca que, segundo agências e especialistas internacionais, a plataforma pode ter jogado fora anos e anos de construção de prestígio com a mudança do nome.
Outra ênfase é dada na fuga de anunciantes, com a mudança da percepção de marca do Twitter. A reportagem enfatiza que as empresas, preocupadas com as atitudes polêmicas de Elon Musk, sobretudo em como ele parecia incentivar os tweets que violavam as regras de conteúdo da própria plataforma, resolveram cancelar os seus anúncios, levando as receitas de publicidade da ex-rede do passarinho azul a despencar em 50% desde outubro passado, segundo o próprio empresário.
Um dos analistas entrevistados afirmou que a marca pessoal Elon Musk pode ser mais forte do que a do Twitter. Se o adjetivo forte tiver sido usado como sinônimo de relevante, eu discordo completamente. O dono da Tesla não tem o mesmo prestígio que a marca Twitter possuía. Musk é um ser humano narcisista, com traumas pessoais profundos. Como bem descreveu a Time, ele tem “uma necessidade patológica de prometer grandes coisas, não cumprir, e se manter no centro das atenções”.
Elon Musk é um homem de bilhões, porém com uma reputação de centavos. Não há estratégias de gestão da imagem e de relações públicas decentes por trás, o que é grave, muito grave, para alguém na posição em que ele se encontra. A sua reputação não fomenta a geração de oportunidades concretas. Muito pelo contrário. Com exceção da base de seguidores fanáticos, que dizem “amém” para tudo o que ele faz, a marca pessoal Elon Musk não conta com a confiança da parcela séria da opinião pública mundial.
Um líder do seu quilate, com o capital que gerencia, com o patrimônio que detém, não pode se dar ao luxo de incorrer nos deslizes que ele comete. Musk investe em áreas diversas, de soluções voltadas à resolução de problemas de mobilidade urbana, a iniciativas com foco em fontes de energia renovável em larga escala, passando ainda pela exploração do espaço. Alguém com tamanho poder e influência, que ambiciona o status de “arquiteto do futuro”, não pode colocar a sua imagem para jogo da forma como ele faz.
Arrisco dizer que Elon Musk será lembrado no futuro como (mais um) egocêntrico idiota, que até realizou uma coisa aqui, ali, acolá, porém não entregou o que de fato prometia. Como ele é bilionário, o adjetivo que usarão para classificá-lo daqui a alguns anos provavelmente será “excêntrico”, que é o rótulo que as pessoas utilizam para se referir a ricaços presunçosos como ele. Vou além: Elon Musk corre o sério risco de entrar para a história como um capitalista retrógrado, que desenvolveu negócios que puseram em risco o bem-estar da espécie humana.
Falando em espécies, uma das sociedades mais belas da natureza é comandada “extraoficialmente” por fêmeas. Me refiro às leoas, que mantêm comunidades matriarcais em que as tarefas são divididas. Num bando, que pode chegar a 13 fêmeas, as leoas cuidam dos filhotes umas das outras. A alcateia, inclusive, é mantida por fêmeas da mesma linhagem, ao longo de várias gerações.
São exímias caçadoras: perseguem, emboscam e matam as presas. O “rei da selva”, que leva todo o crédito, na verdade desfruta do trabalho duro empreendido pelas fêmeas. A propósito: o leão reprodutor, não raro, até costuma ser substituído por outro mais forte da mesma espécie. As disputas por território entre eles, os machos, até são comuns. No entanto, são elas, as fêmeas, perfeitamente capazes de enfrentar e afugentar os indesejados, que ditam as regras no pedaço.
Elon Musk, que é bobo mas não burro, deveria fazer uso de um dos maiores atributos dos Homo sapiens sapiens, que é a racionalidade. Não perder tempo com disputas primitivas, neandertais, que ele vem travando com os concorrentes. Os nossos parentes hominídeos, deveria saber o bobo da corte do Vale do Silício, foram extintos.
É uma Lei da natureza (bela, porém implacável): ou se adapta, ou morre.
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