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Opinião

A verdadeira voz dos patrocinadores

Patrocinar é uma troca de valores de marca, mais do que de valores monetários


12 de junho de 2024 - 7h30

Amanhecemos com uma vitória (da humanidade) ao saber que os “torcedores” que gritaram ofensas racistas para Vini Júnior foram condenados à prisão na Espanha. Uma conquista inegável da luta antirracista e um grande feito para um atleta que nunca parou diante das adversidades e virou vitrine exatamente por se posicionar. Ao seu lado, pouco se ouviu das marcas que o patrocinam.

Patrocinar é uma troca de valores de marca, mais do que de valores monetários. Por ser o “porta-voz” de algumas das maiores marcas do mundo, é de se imaginar que ao estar com Vini, as empresas assinam junto seus contratos, seus sonhos, suas vitórias e também algumas derrotas. Outro dia a mesma Nike do nosso camisa 11 celebrou o sonho do francês Mbappe de ir ao Real Madrid. “Ame seus sonhos até que eles o amem de volta”, dizia o post. Portanto, patrocinar é compartilhar.

Por coincidência, uma outra marca fez-se ouvir nos últimos dias. A Vaidebet, empresa de apostas que havia celebrado o maior acordo de patrocínio da história do Corinthians, rompeu o contrato após a sequência de notícias sobre irregularidades na negociação do próprio contrato. Diante da falta de transparência ou ação do Timão, a empresa achou que a porta de saída era a melhor maneira de se manifestar.

Para quem viveu a carreira sob o slogan que diz que “não é o que as marcas falam, é o que elas fazem que importa”, a atitude da Vaidebet chama atenção, demonstra o que se espera quando os valores praticados não correspondem com o contratado. Sob o risco de perder visibilidade e até clientes dentre os mais de 30 milhões de loucos torcedores, a empresa preferiu ter uma posição que valoriza o que acredita e olhar para o futuro.

A entrada no mercado das empresas de aposta inflacionou os custos e criou uma grande dificuldade de diferenciação. Seja por estratégia ou pela oportunidade do momento, por enquanto, há pouco material para identificar qual a marca com a qual cada um mais se conecta. Além do caminhão de dinheiro em mídia, o patrocínio se torna uma forma de quebrar barreiras e gerar esta aproximação. Literalmente, conquistar a torcida apoiando seus sonhos e dando uma dimensão financeira da sua grandeza.

Por mais incrível que pareça, o que impressionou foi a atitude de se posicionar e, em um mar de marcas, confusão e gritaria, ousar estabelecer um limite e usar sua voz para traçar a linha do que acha correto. Algumas mudanças importantes na história do esporte aconteceram exatamente quando as grandes marcas associadas se posicionaram diante de questões como corrupção na Fifa ou no COI. A mesma Nike fez história ao encampar a posição de Colin Kaepernick na luta antirracista no futebol americano. Na época, a mensagem foi: acredite em algo. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo.

No mundo em que a visibilidade é tudo, o compromisso é baixo. Micro influenciadores se espalham ao ponto de qualquer discurso ser cada vez mais difuso e esquecível. Sob a desculpa de um mundo “cada vez mais polarizado”, o medo de se posicionar faz com que o caminho mais fácil seja suprimir a verdadeira voz das marcas. Os influencers que encontrem os nossos likes. E os valores ficam cada vez mais descartáveis, assim como jogar a culpa nos ombros do mensageiro.

Tomar atitudes concretas e de impacto massivo exigem força e convicção, seja para retirar o patrocínio de um Corinthians, seja para fazer manifestações antirracistas quando seu garoto propaganda acaba de fazer história fora das quatro linhas. Confiança é palavra de ordem quando patrocinar, entre as partes e também no que elas desejam mostrar. O que precisamos é de clareza sobre quem está do nosso lado em causas que não existem opções ou polarização, apenas o lado certo da história. Afinal, não basta ser contra o racismo ou a corrupção, é preciso ser antirracista e anticorrupção. E se o seu patrocinado diz “não sou vítima de racismo, eu sou algoz de racistas”, just do it Vini, just do it.

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