Opinião

Além do engajamento: o futuro da opinião pública

Mídia digital não apenas vem acelerando o ritmo com que as notícias circulam, mas redefinindo quem tem influência de pautar o debate

Igor Coelho

Fundador do Flow Podcast e CEO do Grupo Flow 12 de novembro de 2025 - 6h00

A maneira como a opinião pública se constrói mudou radicalmente nos últimos anos. As conversas que antes aconteciam em redações, universidades ou mesas de bar, agora se desenrolam em tempo real nas redes sociais. Nesse novo momento, o alcance é imediato e a pluralidade de vozes nunca foi tão ampla, mas a fragmentação da informação também cresceu na mesma proporção. A mídia digital não apenas vem acelerando o ritmo com que as notícias circulam, mas redefinindo quem tem voz, influência e poder de pautar o debate público.

Essas transformações revelam uma mudança profunda no processo de formação da opinião pública. A percepção do sentido coletivo passou a se espalhar pelas redes sociais. Hoje, criadores de conteúdo, comunicadores independentes e cidadãos comuns compartilham o poder de definir o que ganha visibilidade e relevância. E essa dinâmica democratiza o acesso e diversifica as vozes, mas também traz tensões: a velocidade com que a informação se espalha nem sempre vem acompanhada de verificação, e muitas vezes a emoção chega antes do fato.

De acordo com o Digital News Report 2025, do Reuters Institute, o Brasil está entre os países mais digitais do mundo na maneira de se informar. Mais da metade dos brasileiros (54%) prioriza plataformas online como principal fonte de notícias. Entre elas, Instagram e YouTube lideram, com 37% dos entrevistados utilizando cada uma, seguidos de WhatsApp (36%), Facebook (28%), TikTok (18%) e X (9%). O relatório também aponta o avanço de novos formatos, como podcasts (10%) e chatbots de inteligência artificial (9%), que ampliam as formas de consumo e refletem o interesse por conteúdos mais explicativos e conversacionais.

No cenário internacional, o Pew Research Center, divulgado em 2025, confirma a mesma tendência. Nos Estados Unidos, 53% dos adultos afirmam obter notícias com alguma frequência nas redes sociais. O Facebook segue como principal canal (38%), acompanhado de YouTube (35%), Instagram e TikTok (20%) e X (12%). As redes, portanto, deixaram de ser um canal alternativo e se tornaram parte orgânica da dieta informacional de milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, o público busca mais do que informação: busca conexão. As redes sociais funcionam como espaços de troca e identificação, em que estar informado significa participar ativamente das conversas e se sentir parte de algo maior. Nesse ambiente, o engajamento amplia o alcance, mas não pode substituir a credibilidade e veracidade. O valor da informação está na combinação entre relevância e utilidade pública — e na capacidade de gerar reflexões que fortaleçam o debate coletivo.

Com a descentralização, a confiança se fragmenta. A credibilidade já não depende apenas de grandes marcas de mídia, mas também se constrói em comunidades menores, em torno de vozes percebidas como competentes, íntegras e acessíveis. Por isso, espaços de diálogo que abordam temas de interesse público com equilíbrio e profundidade tornam-se essenciais para contextualizar e traduzir as narrativas que circulam nas mídias digitais. Eles ajudam a transformar volume em compreensão, oferecendo curadoria, contexto e disposição para lidar com complexidade sem ceder à pressão do feed.

Nesta era de velocidade inédita, o maior desafio — e a maior oportunidade — é construir espaços dedicados ao diálogo honesto e ao pensamento crítico. O ambiente digital não é apenas uma ferramenta, é o palco onde o futuro da opinião pública está sendo definido. Temos a responsabilidade de usar a pluralidade de vozes e a coragem para o debate como antídotos contra a polarização. É assim que vamos transformar o ruído informacional em conhecimento e reinventar o diálogo para uma sociedade mais consciente e democrática.