Antirracismo de conveniência

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Opinião

Antirracismo de conveniência

No país mais negro fora da África sobra apropriação, falta intencionalidade e investimento efetivo na pauta


17 de novembro de 2023 - 19h19

Mais um novembro chega ao nosso calendário e com ele uma grande sensação de frustração, já que a pauta racial está sendo cada vez menos explorada pelas marcas brasileiras, que por vezes preferem silenciar ou se isentar do tema, que é um importante decisor para quase 60% da população do Brasil, que é negra.

Importante porque é sobre se sentir pertencente às comunicações e decisor, porque de acordo com uma série de estudos já publicados, as pessoas tendem a não consumir produtos de marcas que não representam a verdadeira identidade brasileira. Porém, quando o problema passa a ser uma questão de negócios, as empresas correm o sério risco de perder uma grande parcela de seus consumidores por preferirem ignorá-los em suas campanhas publicitárias, algo que definitivamente não é estratégico.

Existe uma falsa percepção de que os problemas que abrangem o tema estão resolvidos, simplesmente com a inclusão de um ou outro ator negro em um filme, a contratação de um influenciador ou qualquer outra migalha que sempre nos é dispensada.

Fato é que todos nós somos amplamente beneficiados diariamente pela cultura, intelecto, produções e, sobretudo, pela ancestralidade negra, às vezes de forma inapropriada e sem o mínimo de retorno financeiro que é necessário para que tudo isso seja sustentável e permaneça, uma vez que só traz benefícios a todos os lados envolvidos.

Ouço por vezes nas minhas andanças, marcas que se reconhecem como parte do problema e enxergam valor na pauta, mas não se movimentam o suficiente para fazer o necessário e preferem sempre o mea-culpa de que “infelizmente nem o nosso time interno é diverso, não queremos nos apropriar dessa pauta que valorizamos tanto e por isso não contrataremos vocês”, completam.

Há falta de interesse em agir para transformar essa realidade, enquanto sobram desculpas para a não contratação de empresas, projetos, patrocínios e qualquer coisa que envolva a pauta racial.

As marcas precisam participar de discussões importantes da sociedade e tomar seus lugares à mesa, pois possuem o poder enorme de amplificar mensagens e formar a opinião das pessoas – esse é o papel social que desempenham.

Estamos muito além de novembro e outras tantas datas importantes, e a comunidade negra precisa ser considerada no orçamento anual das nossas marcas, como acontece com as datas comemorativas e do varejo, já que não há e não deve haver qualquer distinção. Para além disso, é preciso valorizar a atuação de empresas que se dispõem a fazer parte da transformação dessa realidade com seriedade, respeito e de forma genuína, para que o consumidor se sinta como parte dessa história. Sem isso, continuaremos errando, com tantas possibilidades que temos para acertar.

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