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Avanço tecnológico, carros autômatos e o desafio dos taxistas

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Opinião

Avanço tecnológico, carros autômatos e o desafio dos taxistas

O maior inimigo é o mesmo de muitos empresários, diretores de empresas e executivos de todos os mercados e indústrias: acreditar que é possível barrar os avanços da tecnologia e do digital, que trazem consigo novos modelos de negócio


25 de maio de 2016 - 11h49

A tecnologia é maravilhosa quando nos ajuda a estar mais perto das pessoas com quem nos importamos, a ser mais conectados, produtivos e informados, podendo compartilhar o que vemos e pensamos com o mundo, descobrir soluções para grandes problemas reais da humanidade e provocar a mudança nos mais variados cenários que nos são apresentados diariamente.

Em 2009, o Google começou um projeto bem ambicioso chamado The Self-driving-car Project (SDC), liderado pelo engenheiro e diretor do projeto, Chris Urmson, que tive o prazer de conhecer em sua palestra no SXSW deste ano, em Austin, Texas.

O projeto começou de forma bem tosca: no deserto, onde os carros andavam lotados de parafernálias e longe de tudo e todos para não machucar ninguém. Foram mais de dois anos só para aprender se o conceito iria funcionar. De lá pra cá, a tecnologia e o aparato tecnológico vêm evoluindo bastante, calcados em novos sistemas de leitura e aplicação de técnicas de inteligência artificial, de maneira que quanto maior a quilometragem dos SDCs, mais inteligente fica o sistema.

Câmeras garantem uma visão periférica de 360°, o zoom consegue antever o que ocorre 200 metros à frente do veículo e um milhão e meio de leituras a laser são feitas por segundo, garantindo que todo o entorno do veículo seja constantemente monitorado.

Hoje, funcionários do Google da Califórnia se inscrevem em um programa para ficar com um SDC por 30 dias com o intuito de testar o sistema e preencher uma pesquisa de opinião após esse período. Segundo Chris, os ‘test-drivers’ são unânimes: todos querem ficar com o carro por mais tempo do que o combinado. De acordo com os relatos, após uma semana observando o veículo fazendo tudo sozinho (os motoristas podiam pisar no freio, desligar o sistema e até dirigir o carro, se fosse preciso), as pessoas começavam a ficar mais confiantes e se sentiam mais seguras com o SDC. Afinal, a lógica funciona como a do Waze ou Google Maps: você insere o endereço de destino e o sistema já traça a rota e inicia a viagem assim que você aciona o comando adequado.

A grande epifania da experiência do usuário acontece quando ele percebe que é possível deixar de ser o timoneiro e passa a ser o capitão da viagem. Tirar a mão do volante, a atenção da estrada, estar no comando sem estar na operação. Com isso, ele usa o tempo que antes era dedicado à operação de uma máquina para outras atividades, como ler e-mails, jornais, fazer uma ligação importante ou simplesmente relaxar.

Durante o SXSW, o aplicativo Lyft (concorrente do Uber que conecta motoristas comuns a pessoas em busca de carona) tinha uma campanha pela cidade cujo slogan era “Riding is the new Driving” (“Pegar carona é o novo dirigir”); uma discussão que dá pano para manga e comunica que a prática da direção poderá ficar obsoleta rapidamente.

Segundo o próprio Google, em aproximadamente 20 anos, estima-se que 25% da frota americana será composta por SDCs, o que potencialmente transformaria faixas urbanas dedicadas a estacionamentos em espaços coletivos e arborizados, ciclofaixas e afins. Hoje, 90% do tempo de vida útil de um carro são de ineficiência, com o veículo parado em estacionamentos e garagens. Em outras palavras, o mundo poderia transportar mais gente com uma frota muito menor se esses veículos estivessem em circulação o tempo todo, funcionando como um serviço para o qual não é necessário ter um carro, apenas acesso a um aplicativo que pede um pra você, sempre que precisar. Uma baita inovação!

No Brasil e no mundo, discussões intermináveis sobre a legalidade do Uber e a legitimidade dos taxistas que se opõem estão apenas no início. Mas o Uber não é, de longe, o maior inimigo dos taxistas. O maior inimigo dos taxistas é o mesmo de muitos empresários, diretores de empresas e executivos de todos os mercados e indústrias: acreditar que é possível barrar os avanços da tecnologia e do digital, que trazem consigo novos modelos de negócio.

Então, a única estratégia passa a ser a insistência com todas as forças e recursos na manutenção do modelo atual, do status quo. É a busca por retardar ao máximo a redução progressiva e inevitável do velho, motivada pela chegada do novo. Sob essa perspectiva, as montadoras de veículos de hoje, por exemplo, podem ser comparadas aos taxistas de amanhã. Uma classe inteira lutando contra aquilo que ameaça a sua cadeia de valor.

É por isso que sempre caberá aos novos entrantes de uma indústria a reinvenção de seu modelo de negócio e cadeia de valor. Os players atuais estão bem avessos ao risco de colocar em prática ideias que possam danificar as margens atuais do negócio e, a fim de preservar o resultado no curto e no médio prazo, acabam por tomar decisões que assassinam a empresa no longo prazo.

Você sabia que da lista original da Fortune 500 de 1955, apenas 12% ainda existem? Ora, se elas eram as mais grandiosas, com mais recursos e ofereciam os melhores empregos para atrair os melhores talentos, o que deu errado?

A era digital acelera tudo e a economia colaborativa veio para ficar. Os princípios da sociedade de custo marginal zero, a lógica de compartilhamento e a internet das coisas vão virar de ponta-cabeça todas as indústrias e mercados, sem exceção. Vivemos hoje a “marolinha” que anuncia a vinda do tsunami. Então, adaptabilidade é o nome do jogo. E quem não muda morre.

Sendo assim, o verdadeiro inimigo dos taxistas não é o Uber, tampouco o próximo avanço tecnológico – que fará o Uber parecer velho. O pior inimigo deles é o mesmo de todos aqueles que estão trabalhando em indústrias que ainda não foram revolucionadas pelo digital: um olhar ultrapassado que te impossibilita compreender para onde caminha o mundo. E não tenha dúvidas, este é um inimigo letal.

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