O novo papel da China no mundo
O Oriente deixou de ser fonte de inspiração para se tornar parte da identidade das grandes marcas
A hegemonia do Ocidente parece estar sendo desafiada agora também na comunicação. Não apenas passamos a usar produtos asiáticos todos os dias, mas top séries e filmes da Netflix sempre contam com pelo menos um título oriental (ou até mais de um).
Nós assistimos a séries, doramas, reality shows, nos influenciamos pelos hábitos, pela comida, pela moda, além de jogarmos jogos chineses que retratam lendas milenares, usamos o TikTok, Kwai, e compramos nos aplicativos chineses. Isso tudo muda a maneira de como vemos o mundo, desejamos e consumimos.
Algumas marcas já entenderam. O papel do Oriente não é mais de coadjuvante no mundo.
O crescimento da China nos últimos anos transformou como as marcas se relacionam por lá. O mercado de luxo, que sempre teve como epicentro a Europa e os Estados Unidos, agora tem um terço do seu resultado vindo do mercado consumidor chinês.
A própria Louis Vuitton, que colocou uma loja em formato de mala gigante em Paris, este ano inaugurou sua segunda grande loja em formato de navio e colocou onde? Nova York? Não, Shanghai.
E não só isso, a última campanha da marca, a “L’Âme du Voyage”, é totalmente ambientada em pitorescas – e, diga-se de passagem, maravilhosas – paisagens da China como Guilin, Datong e Zhangjiajie.
A Adidas tem feito uma clara aproximação, adaptando seu estilo e comunicação ao mercado chinês. No último mês, lançou uma coleção celebrando o símbolo nacional chinês, em uma parceria com a artista Dorophy Tang, colocando pandas gigantes vestidos de roupas esportivas da marca distribuídos pela cidade de Chengdu – lar dos pandas gigantes na China.
No início do ano, a Adidas também já tinha lançado uma coleção especial em comemoração ao Ano Novo Chinês, “Year of the Snake”. Até o segmento pet, que cresce vertiginosamente na China, entrou no radar da marca que, com a Trefoil Pet Collection, criou uma coleção da Adidas para pets pela primeira vez no mundo.
Estée Lauder e L’Oréal já vêm traduzindo rituais e preferências asiáticas também nos seus produtos globais. Ingredientes como chá-verde e arroz fermentado, tão presentes na rotina milenar chinesa, agora estão em lançamentos que cruzam fronteiras.
E quem amplifica esse movimento? Criadores de conteúdo asiáticos que hoje são, de fato, influenciadores de milhões de consumidores no Ocidente.
Um estudo da McKinsey (2023) mostra que 45% das marcas globais de moda já incorporam elementos de design asiático em suas coleções. No mesmo período, plataformas asiáticas reportaram crescimento de 25% nas vendas de produtos com estética asiática em mercados ocidentais.
A Ásia passou a ser não apenas fonte de inspiração como também se tornar parte relevante da identidade das grandes marcas. As fronteiras culturais estão cada vez menores, a influência asiática tem ganhado cada vez mais espaço no palco global e o digital acelera ainda mais essa curva.
O que nasce nas marcas e campanhas se espalha rapidamente por plataformas e marketplaces e, agora, chega num piscar de olhos no consumidor final – onde quer que ele esteja.