Assinar

Bem-vinda, criatividade artificial!

Buscar
Publicidade
Opinião

Bem-vinda, criatividade artificial!

A AI continua evoluindo, quebrando tudo, e está começando a desafiar as indústrias criativas, incluindo uma geração pioneira de robôs cientistas


19 de agosto de 2019 - 15h00

(Crédito: Franck V/ Unsplash)

Em Julho, pesquisadores do Lawrence Berkeley National Laboratory apresentaram o trabalho do algoritmo Word2vec, que filtrou o conteúdo de artigos científicos sobre termoeletricidade, procurando por possíveis furos de percepção em equipes científicas de alto nível. Completo desconhecedor dos fundamentos daquela ciência, o sistema trabalhou na associação de palavras encontradas nos artigos publicados da área, com termos que não apareciam nos textos científicos. Assim, identificou materiais com alto potencial de desempenho que eram simplesmente desprezados pela indústria.

Isto pode mudar tudo, meus amigos. O Word2vec tem capacidade para associações indiretas, fazendo conexões pouco óbvias, inexistentes na fonte original. Em outras palavras, tem capacidade de associação criativa. “O algoritmo pode ler qualquer material de ciência, e consegue fazer conexões que nenhum cientista poderia”, disse o pesquisador Anubhav Jain. “Às vezes ele faz o que um pesquisador faria; outras vezes ele faz associações interdisciplinares.” O sistema tem capacidade de pensar fora da caixa.

Operando de forma semelhante, os testes do GPT2, sistema desenvolvido pela OpenAI, empresa inicialmente suportada por gigantes da indústria de tecnologia como Elon Musk e Reid Hofman, tiveram resultados surpreendentes em tarefas diretamente criativas.

Conforme reportado pelo The Guardian, em um anúncio recente de resultados de testes, a companhia conta que “alimentado com a sentença de abertura de 1984, de George Orwell — ‘Era um dia claro e frio em abril, e os relógios marcavam treze horas’ — o sistema reconheceu o tom vagamente futurista, o estilo literário e continuou sozinho: ‘Eu estava no meu carro a caminho de um novo emprego em Seattle. Abasteci, coloquei a chave, e liguei. Eu simplesmente imaginei como seria o dia. Daqui a cem anos. Em 2045, eu era um professor em uma escola qualquer numa parte pobre do interior da China. Eu comecei com história chinesa e história da ciência”. Assim, dando início à criação de um romance inédito, no estilo de Orwell.

Conseguir respostas a tarefas puramente criativas não implica, necessariamente, a desconstrução da indústria, embora o rompimento da mentalidade e do paradigma sejam claros. No entanto, sistemas como esses nos instrumentalizam para uma expansão gigante da criatividade.

Também, nada impede que espaços criativos fundamentalmente humanos, por exemplo a música, sejam ocupados pelos sistemas de inteligência artificial. No início do ano, a alemã Endel, aplicativo que gera ambientes sonoros customizáveis para o relaxamento e foco, assinou um contrato sem precedentes com a Warner, para a produção de 20 álbuns gerados pelo seu algoritmo.

A empresa, que propõe uma nova maneira não apenas de consumir, mas de criar música, acabou abrindo um caminho inovador dentro do modelo tradicional de negócios. Oleg Stavitsky, CEO da Endel, explica: “Nosso foco está na criação de ambientes sonoros personalizados e adaptáveis em tempo real, mas estamos felizes em dividir esses álbuns pré-gravados para demonstrar o poder dos sons e da nossa tecnologia”.

Logo mais, o tempo em que nos dedicávamos anos seguidos debulhando e reconstruindo estilos de outros criativos pode ficar para a história. Ou não. As possibilidades são enormes, se olharmos para este momento com curiosidade e criatividade renovados. Se olharmos para o craft, para a habilidade de construção estética, como uma narrativa em reconstrução. Deixando o que é mecânico e repetitivo ser explorado por uma nova inteligência, podemos revelar um outro tipo de mantra, outra qualidade no processo que nos coloque em fluxos criativos ainda mais poderosos. O tempo da criatividade artificial chegou.

*Crédito da foto no topo: Toa Heftiba/ Unsplash

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo