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Opinião

Bem-vindos à geração C!

Que é marcada pelo medo do vírus e do confinamento, e o desejo de voltar ao cotidiano e ao contato com seus amigos; também, com novas prioridades e ressignificação de valores


1 de dezembro de 2020 - 20h19

(crédito: EvgeniyShkolenko/iStock)

A vida contemporânea foi “hackeada” pela Covid-19, sendo um golpe direto aos hábitos e costumes do ser humano. As medidas de distanciamento em nível global implicaram no desafio de buscar entretenimento e formas de estudar dentro de casa, substituindo a ida aos estabelecimentos ou a realização de atividades sociais ao ar-livre.

Se havia tendências preexistentes e projeções para os próximos dez anos, a pandemia veio acelerar várias e propor outras, por exemplo, uma nova “Geração C(oronavirus)”, saída dos centennials (os nascidos a partir de 1997) e alphas (2010 em diante). Uma geração marcada pelo medo do vírus e do confinamento, e o desejo de voltar ao cotidiano e ao contato com seus amigos. Também, com novas prioridades e ressignificação de valores. Um grupo de crianças e adolescentes que aprecia muito mais o vínculo familiar: ativos nas responsabilidades dentro de casa e conscientes sobre a importância da higiene pessoal. Abertos a compartilhar mais momentos com seus entes queridos, desde a hora do almoço/jantar até um filme por streaming ou um jogo de mesa.

Dessa vez, para eles, a fronteira entre o online e o off-line é nula, não fazem distinções. Ter aulas online e administrar seu tempo de estudo passou a ser habitual. Compartilhar momentos virtuais com amigos como se juntar no Twitch para ver uma partida de Fornite ou ver um show via YouTube já é um clássico. Cosharing e gamification. Dois termos em inglês para comportamentos padronizados no cotidiano dos mais jovens.

Aplicamos à geração C com exatidão a reflexão do escritor Alessandro Baricco em seu livro The Game: “Seu habitat é um sistema de realidade com uma dupla força motriz, onde a distinção entre mundo verdadeiro e mundo virtual se converte em uma fronteira secundária, dado que um e outro se fundem em um único movimento que gera, em seu conjunto, a realidade”.

Com mais crianças menores de 18 anos em casa, a internet se converteu no bastião do ócio, aumentando mais de 70% as experiências vinculadas a conexões digitais nos últimos quatro meses, com jogos online e consumo de vídeos como suas atividades preferidas.

Mas, mais tempo no universo digital implica em maiores cuidados: uma criança de 12 anos pode ser facilmente identificada através de seus últimos movimentos registrados online, permitindo que terceiros saibam com exatidão a que colégio frequenta ou em que bairro vive, quais são suas marcas favoritas, seus interesses e hobbies preferidos. Extrair suas fotos nas redes sociais que usa e assim, também, mapear sua família e amigos.

Para os especialistas, a combinação nação “distanciamento social + internet” se converteu em “a tormenta perfeita” para o assédio de menores e, como consequência, as consultas de pais se triplicaram nos últimos meses, segundo o Grooming Argentina da Infobae.

A tecnologia diverte, educa e, inclusive, empodera, mas também intimida e pode chegar a ser complexa e perigosa se não tomarmos os cuidados necessários. Quando a consultora internacional Kids Insights pesquisou mais de 3,5 mil crianças entre 3 e 17 anos na América Latina e perguntou à sobre as principais preocupações eles tinham ao usar a internet, a privacidade de seus dados apareceu como o maior temor.

Segundo a Unicef, 175 mil crianças se conectam pela primeira vez na internet a cada dia ao redor do mundo. Se buscam entretenimento, estão expostas ao risco de serem contactadas por pedófilos e golpistas, verem conteúdos abusivos, e que seus dados sejam coletados através de sites, apps e/ou redes sociais para fins comerciais.

Por tudo isso, é necessário que os adultos se aproximem de seus filhos e tenham mais conversas honestas sobre os cuidados que se deve ter ao usar a internet: supervisionar o uso de redes sociais como Instagram, TikTok e Snapchat; conhecer o tipo de conteúdo que assistem dos youtubers e influencers preferidos; conscientizá-los sobre não compartilhar dados pessoais em sites e apps sem prévia autorização; não aceitar contato de estranhos que querem entrar em diálogo via chats em WhatsApp, Facebook etc.

Assim como para saber se você gosta de um rótulo de vinho foi necessário prová-lo, ou se fez a aula de ginástica de forma correta foi necessário assisti-la, ou, antes de comprar um veículo, provavelmente pediu um test-drive, as plataformas digitais e os videogames (tanto em celulares quanto em consoles) requerem o mesmo exercício: sentar, perguntar e aprender o que é, como funciona, para que serve. Aproximar-se de maneira curiosa, sem o viés alarmante que, muitas vezes, transmitem os portais de notícias.

Desse modo, e se ainda não aconteceu com você, amanhã não vai parecer louco se seu filho te convida para ver um show através de uma smart TV ou se te pede para investir em bitcoin ou ethereum saberá que nos videogames que hoje em dia frequenta já obtêm e troca “tokens” (créditos). Tal qual o que acontece com as criptomoedas no “mundo dos adultos”, eles, a geração C, já vivem em um mundo “tokenizado”.

**Crédito da imagem no topo: Piranka/iStock

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