Criando Significado
Um mergulho ao mundo interno através do uso de práticas colaborativas no estudo de comportamento
Um mergulho ao mundo interno através do uso de práticas colaborativas no estudo de comportamento
12 de setembro de 2017 - 13h12
O que pode ser mais incontrolável e imprevisível do que o comportamento humano? Pensamos uma coisa e fazemos outra, dizemos ‘sim’, quando sentimos ‘não’ e por aí vai. Quem não vive diariamente isso na pele?
O desejo e a tentativa de observar, entender e prever o comportamento humano é a base da pesquisa de mercado. Só que… Com frequência aceitamos e acreditamos em um conhecimento que é gerado através de pesquisas que parcialmente acessam a natureza humana em toda sua complexidade.
Como seria bom se pudéssemos observar o inobservável, que nossos olhos fossem câmeras de George Orwell escondidinhas em cada cômodo das residências das pessoas. Só que não, não temos essa capacidade e ela tampouco nos seria útil. Pois aquilo ao qual não temos acesso, que é o que antecede e provoca o comportamento, acontece em um lugar bem mais secreto do que entre as paredes de nossas casas. Acontece dentro de nossas cabeças, corações ou até mesmo barrigas, como os alemães, que poeticamente sentem borboletas na barriga quando se apaixonam.
Temos que ser criativos para conseguir trazer a verdade à tona. Ops, aqui quase me arrependo de escrever a palavra ‘verdade’. Afinal o que é verdade? Ou, o que é mais verdade: o que penso ou o que faço? O ‘sim’ ou o ‘não’? Então, substituo a palavra verdade por ‘mundo interno’, que é aquele lugar onde se desenrola o drama ao qual não temos acesso. O drama que antecede as ações, que define, de fato, se casamos ou compramos uma bicicleta.
Muito já foi alcançado no sentido de desvendar o mundo interno. A etnografia, o design, a psicologia, a antropologia já emprestaram tanto a nós, profissionais de pesquisa. Temos ao nosso dispor diversas técnicas que estimulam a espontaneidade e sinceridade, e fogem do tradicional. Fogem do: ‘vocês estão sendo observados, gravados e filmados, mas fiquem à vontade, viu?’. Porém, como dizia o Velho Guerreiro, algumas pessoas vieram aqui para confundir e nos apresentar ainda mais possibilidades de fazer voarem nossa criatividade e imaginação.
Imagine você um ambiente de confiança, sinceridade e honestidade. Um espaço criado com tal cuidado e acolhimento, onde as pessoas se sintam motivadas a se expor, falar de suas vidas, medos, anseios e desejos de forma sincera, pois sabem que serão ouvidas – ouvidas naquele sentido que a gente há muito tempo esqueceu o que significa – respeitadas em suas diferenças, e que cada fala será celebrada como deve ser, como uma contribuição preciosa.
Feche os olhos e imagine uma roda de quatro, doze, vinte pessoas discutindo os mais variados temas com propriedade, destrinchando cada um em sua complexidade. O número de participantes já nem importa, pois o que se cria e passa a ter voz é uma inteligência coletiva que, de forma colaborativa, confere sentido àquilo que nos rodeia. Ações corriqueiras do cotidiano passam a ter significados profundos, pois o significado sempre esteve lá. Ele só não era ouvido. Imaginou? Pronto, você está em um grupo colaborativo.
De tempos em tempos percebo que elejo quase que naturalmente palavras preferidas, e ‘colaborativo’ se tornou uma das palavras que mais gosto de ouvir ultimamente. Dá uma certeza de que ‘estamos juntos aqui pro que der e vier!’ E essa mesma certeza – esse sentimento poderoso – é muito bem vindo em estudos de comportamento. Em um grupo colaborativo, estamos todos juntos colaborando, construindo e entregando algo realmente valioso. Na colaboração quem ouve, quem fala e quem faz estão no mesmo plano, sem verticalidade. E o ganho é enorme para todos.
E aí, topa entrar na roda?
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