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Opinião

Criatividade para contornar problemas logísticos

Nos Estados Unidos, a Amazon agora entrega os pacotes de compra direto no porta-malas do seu carro. Isso seria possível na América Latina?


14 de setembro de 2018 - 10h38

Crédito: iStock

Imagine essa situação hipotética: um estranho se aproxima de seu carro estacionado em frente ao seu escritório, no centro de qualquer cidade da América Latina. Ele pega um telefone e, alguns segundos depois, o porta-malas do veículo se abre. O desconhecido deixa uma caixa lá dentro, fecha a porta, verifica o celular e sai. Parece um pouco suspeito, não? Mas esse é um serviço de entrega real que a Amazon começou a testar em 37 cidades nos Estados Unidos em 2018. A dúvida é: isso funcionaria nos países latinos?

O serviço, que está disponível gratuitamente para assinantes da Amazon Prime, possui várias camadas de segurança. Os usuários têm que baixar o aplicativo Amazon Key e especificar o local onde o carro ficará estacionado, que pode estar dentro de um raio de duas quadras a partir do endereço previamente cadastrado por eles na companhia, além da sua placa, cor e marca. Uma vez que o entregador da Amazon localiza o automóvel, ele abre as portas usando o app, que é conectado por meio da Internet com os serviços de segurança do fabricante do veículo para que ele autorize o desbloqueio da fechadura.

Depois de deixar o pacote, o funcionário deve certificar-se de que o carro está fechado novamente. Sem essa confirmação, o sistema não mostrará a localização do próximo pacote a ser entregue.

Até agora, apenas os modelos posteriores a 2015 da General Motors e da Volvo que possuem os sistemas OnStar ou Volvo on Call poderão usar o serviço. A Amazon planeja incluir outras marcas em um futuro próximo.

Na teoria, o serviço de entrega no porta-malas não teria grandes problemas para funcionar na América Latina, visto que a tecnología OnStar está disponível no México e na América do Sul ela opera sob a marca ChevyStar, mas a companhia enfrentaria vários obstáculos logísticos e culturais.

O primeiro é que a gigante americana do e-commerce ainda não tem uma infraestrutura de distribuição de mercadorias em grande parte do subcontinente. Nos Estados Unidos e na Europa ela possui enormes armazéns automatizados, que permitem manter um grande estoque e enviar qualquer produto ao comprador em questão de horas.

Entretanto, na América Latina a empresa mal começou a plantar sua bandeira, com exceção ao México. Ela está em operação desde 2014 no Brasil, mas se concentrou na venda de livros e serviços digitais até o final do ano passado, quando começou a comercializar também produtos eletrônicos. No entanto, há sinais claros de que ela está pronta para expandir. No início do ano, a Reuters informou que a Amazon está negociando o aluguel de um depósito de 50 mil metros quadrados nos arredores de São Paulo e o jornal Clarín detalhou no final de 2017 os passos dados por ela para abrir seus escritórios na Argentina. A companhia também opera no Chile e na Colômbia desde 2017 e, no geral, é conhecida por investir grandes somas sem esperar por um retorno imediato, além de possuir enormes reservas de caixa. Então, a questão não é se ela terá uma rede de logística na região, mas quando.

Embora ela resolva essa questão logística, existem outras armadilhas pelo caminho. Uma delas é a baixa adoção de carros conectados à Internet na América Latina. O modelo de vendas de automóveis nos EUA é muito diferente do modelo latino. Por aqui, ele é gerado por compra direta em sua grande maioria, ao contrário de lá, onde o leasing é mais comum e faz com que os novos modelos estejam ligados a um fator de status, relacionado à poder aquisitivo. Ou seja, a substituição não é tão planejada e, por isso, é mais rápida. Apenas no México, 70% do parque automotivo em circulação são veículos que datam entre 1980 e 2010.

Ainda que se estime que o mercado global de carros conectados crescerá a uma taxa de 32,7% entre 2014 e 2020, de acordo com um estudo da Allied Market Research, a maior parte desse progresso será na região da Ásia, da Europa e no território americano.

Também não podemos esquecer os problemas de segurança, congestionamento e falta de infraestrutura que afligem as grandes cidades latino-americanas. Nossas raízes ainda não estão prontas para absorver um uso massivo de um serviço similar e, em paralelo, há a forte concorrência local com o Mercado Livre, que desde 1999 se estabeleceu como a principal referência para o comércio eletrônico na região. A empresa evita muitos dos problemas logísticos servindo como uma plataforma para a compra e venda de produtos entre usuários, que coordenam a entrega entre si.

Uma possível resposta para isso foi o lançamento do programa Prime no México, que inclui frete grátis para qualquer parte do país em dois dias. Isso contribuiu para dobrar as vendas da Amazon no México para US$ 502,2 milhões, em comparação com 2016, o que a posicionou como a maior varejista on-line dentre as mexicanas, segundo a Euromonitor International.

O que fica de lição disso tudo é que existe um oceano azul ainda não ocupado nesse quesito de pensar a conveniência da parte de entrega da jornada de compra. E é possível que nem toda a inovação venha da Amazon, já que iniciativas locais que se propuserem a resolver o problema com criatividade e conhecimento das circunstancias particulares terão vantagens competitivas.

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