Assinar

Divertida Mente 2 tem a ansiedade como protagonista: o que marcas têm a ver com isso?

Buscar

Divertida Mente 2 tem a ansiedade como protagonista: o que marcas têm a ver com isso?

Buscar
Publicidade
Opinião

Divertida Mente 2 tem a ansiedade como protagonista: o que marcas têm a ver com isso?

Já aviso que este não é um artigo sobre o filme nem contém spoilers


28 de junho de 2024 - 8h30

Agora já é fato. Divertida Mente 2, filme de animação da Pixar e Disney, já é blockbuster no Brasil, batendo o recorde de bilheteria em seu fim de semana de estreia, com 4,5 milhões de espectadores. Eu sou uma nessa contagem, confesso. Estava ansiosa para assistir, empolgada pelo filme de estreia da série, que já havia me conquistado. Não por acaso, meu sentimento era mesmo de ansiedade, aquela expectativa que nos tira do momento para acompanhar algo que está por vir. E parece que não era apenas eu que me sentia assim. A sala do Cinemark no Shopping Iguatemi em São Paulo vibrava na mesma sintonia, com pessoas de todas as idades.

Já aviso que este não é um artigo sobre o filme nem contém spoilers. Apenas uma reflexão sobre a nossa sociedade, que combina minha visão tríplice, como especialista em branding, psicóloga e cidadã curiosa (ou talvez fosse melhor assumir de vez, ansiosa). Sem dúvida, de forma única na história, vivemos sob a febre da ansiedade coletiva. Somos cada vez mais intolerantes à espera. O tédio nos aflige e apenas a velocidade tem valor. Tudo que sinaliza o movimento contrário é boicotado. Escutamos mensagens do WhatsApp na velocidade 2x e a mesma coisa nos podcasts, mesmo que algumas palavras escapem. Optamos pelas entregas prime para garantir rapidez. O food tem que ser fast, o slow food bem que tentou, mas foi pouco emocionante e hoje quase não se ouve mais nada a respeito, foi saindo devagarinho. Os stories no Instagram, pulando de post em post, ditam um ritmo em que não raras vezes damos mais um toquinho para agilizar ainda mais um pouco. Afinal, esperar para quê?

É tanta ansiedade que, não à toa, voltando ao filme, o personagem central desta vez é a Ansiedade. A ida ao cinema já vale pelo retrato maravilhoso da nossa sociedade! Se achávamos que a Barbie e o Ken no ano passado foram o espelho de quem queremos ser, sem dúvida Divertida Mente 2 e a personagem Ansiedade são páreos duros e transcendem qualquer posicionamento de gênero, o que a torna ainda mais universal. Nossa identificação acontece com vários personagens do filme, mas com a Ansiedade é imediata. Se ela chega na adolescência, como mostra a narrativa, a partir daí não nos larga mais. Definitivamente, somos uma sociedade ansiosa. O livro Geração Ansiosa, que em breve chega ao Brasil pela Companhia das Letras, escrito por Jonathan Haidt, psicólogo e professor da Universidade de Nova York, vem para não deixar dúvidas sobre a oportunidade da temática do filme. Embora o foco do livro seja os adolescentes, o crescimento dos quadros de ansiedade não é apenas “privilégio” dos jovens, infelizmente. Esse é um mal coletivo dos tempos atuais.

Mas, afinal, o que as marcas têm a ver com tudo isso? Como parte do mundo contemporâneo, as marcas também são impactadas pela cultura e reagem a ela. Além disso, não podemos esquecer que as marcas só existem por conta das pessoas. São pessoas que criam estratégias para elas e são pessoas, do outro lado, que as consomem. Pessoas ansiosas levam a marcas ansiosas, simples assim. É isso mesmo: as marcas fazem parte dessa mesma roda e sofrem do mesmo mal. Para pegar apenas a superfície do mal que a ansiedade causa às marcas, são comuns as iniciativas que acontecem antes da hora, com muito pouca reflexão (mesmo que não faltem reuniões e alinhamentos). E, por conta disso, tem sido bem comum vermos marcas recuando de alguma colocação, tirando do ar peças que, precipitadamente, foram ao ar quando não deveriam. Lembram de alguma? Deixo aos leitores completarem com exemplos de marcas ansiosas.

É essa mesma ansiedade, que, em seu lado mais perverso, também gera negócios, acelera o consumo e o desejo de consumidores chegarem à frente dos outros. A estratégia da Apple e o anúncio de novos modelos do iPhone ano após ano, é uma clara forma de estimular nossa ansiedade. Na recente disputa por um par das Havaianas em collab com a Dolce&Gabbana, a fila rodava o shopping, todos ansiosos por conseguir o privilégio de pagar R$ 350 e sair de lá postando a conquista da compra. Fico até um pouco incomodada e reflexiva sobre nosso papel social como atuantes em Branding e comunicação. Quanto dessa ansiedade coletiva não devemos colocar como de nossa responsabilidade? Essa matemática dos índices assustadores do mal que afeta a sociedade é da nossa conta também. Eu já vesti a carapuça. Acho que temos muito a repensar sobre isso e como gerimos marcas a favor ou contra a saúde mental.

Há quem diga que a ansiedade é o excesso de futuro. Se for isso, com a pressa que estamos, o futuro deve estar logo ali. Se a ansiedade deixar, vamos esperar para ver! Enquanto isso, recomendo fortemente a todos assistirem Divertida Mente 2.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo