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Opinião

Fala que eu te escuto

Em breve usaremos a voz como a principal forma de interagir com nossos computadores e celulares. Estamos prontos para esse novo comportamento?


19 de julho de 2016 - 10h00

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Imagine a seguinte cena: você entra no metrô cheio de pessoas e todas elas conversam baixinho, aparentemente consigo mesmas. Elas sorriem, respondem a perguntas e reagem ao que ouvem por um minúsculo fone sem fio. Poderiam estar em ligações telefônicas normais não fosse um detalhe: ao invés de pessoas, estão interagindo com máquinas.

Se você assistiu o filme “Her” (2013), essa cena vai lhe parecer familiar: ambientado em um futuro próximo, a produção mostra uma realidade onde conversas entre pessoas e computadores portáteis, por meio da boa e velha voz, é algo comum, até banal.

Esse futuro já é uma realidade — em alguma medida. Se no filme a assistente pessoal chamava-se Samantha, hoje temos a Siri (da Apple), a Alexa (da Amazon) e o “Ok Google”. Eu mesmo já converso com meu celular com frequência, pedindo para que ele faça chamadas de dentro do carro ou ligue o timer quando eu coloco um peixe no forno.

Esses assistentes não são tão espertos, ou charmosos, como a Samantha, mas são bastante esforçados e estão evoluindo numa velocidade assombrosa — assim como a intimidade dos brasileiros com eles. Basta, por exemplo, observar algumas tendências de busca no Google:

Imagem: Google Trends

Imagem: Google Trends

De olho neste potencial global, as gigantes da tecnologia estão expandindo essas possibilidades para além dos celulares. Somente a Amazon já vendeu mais de 3 milhões de unidades do Echo, uma espécie de caixa de som conectada ao seu wifi que responde a comandos de voz na sua casa. Você pode, por exemplo, pedir para o dispositivo tocar sua playlist, acender as lâmpadas da sua casa, abrir as cortinas e criar uma lista de compras. O próprio Google já anunciou que vai entrar na brincadeira e em breve colocará no mercado o Google Home:

Estima-se que em 5 anos o total de buscas por voz ou imagem seja de 50% do total das buscas.

Recentemente a Apple anunciou novidades em relação à Siri. Ela estará disponível também nos computadores Mac e desenvolvedores poderão utilizá-la em seus aplicativos. Você poderá simplesmente dizer: “Siri mande um Uber me buscar” e pronto. Bem mais fácil.

Em um futuro próximo, o maciço uso da voz, o avanço da inteligência artificial e do deep learning irão mudar comportamentos ao redor do mundo. Não à toa bilhões de dólares estão sendo investidos nesse segmento por gigantes como Google, Facebook, Amazon, Microsoft e Baidu.

Um novo comportamento emerge


Talvez a gente não se dê conta (por estarmos no olho do furacão), de muitas mudanças de comportamento que o digital nos trouxe. No entanto, basta olhar ao redor a quantidade de pessoas mudas e curvadas diante de seus smartphones.

Não toleramos mais bater perna para achar um produto difícil, simplesmente clicamos e compramos. Não visitamos mais agências de viagens, acessamos o Trip Advisor. Não frequentamos bares e restaurantes para conhecer gente, delegamos aos algoritmos do Happn essa tarefa.

A realidade é que o digital nos acostumou a eliminar barreiras e “fricções” na relação com produtos, serviços e outras pessoas. Esperamos que tudo seja rápido e simples. Não conseguimos imaginar como fomos capazes de viver de outro modo no passado.

Com a massificação do uso da voz e da inteligência artificial, então, podemos esperar uma nova e profunda transformação. Estaremos muito perto da chamada “Computação Ubíqua“, onde a relação entre homens e máquinas se tornará quase invisível.

Em 3 ou 4 anos acharemos engraçado o tempo que perdíamos digitando ou clicando em telas e, principalmente, o tempo que levávamos para resolver problemas.

Não iremos tolerar chegar em um café e nossa bebida não estar nos esperando. Não iremos clicar em um monte de links para comprar uma passagem aérea, simplesmente vamos pedir “a passagem mais barata para o Rio na próxima sexta a tarde”. Conversaremos com as marcas, por meio de robôs ultra eficientes.

Seremos consumidores muito mais mimados, com expectativas muito diferentes das que temos hoje sobre qualidade e eficiência. Novas experiências com marcas e produtos serão criadas.

Será interessante acompanhar grandes marcas (e instituições) disputando espaço com novos modelos de negócio que irão transformar o varejo e a indústria. E o mais importante: não estranhe se encontrar alguém falando sozinho pelos cantos. Ah! E se quiser sossego no metrô, lembre-se de levar os fones!

 

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