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Globo e Google

Líder da mídia brasileira coloca seu conteúdo na nuvem da gigante global e avança na publicidade programática para entregar mensagens customizadas aos espectadores


12 de abril de 2021 - 13h52

(Crédito: Ostapenko Olena/ iStock)

O mais importante grupo produtor de conteúdo de entretenimento e informação do Brasil e a maior empresa de mídia do mundo firmaram um acordo emblemático na semana passada, após um ano de negociações. A parceria, válida pelos próximos sete anos, prevê migração para o Google Cloud de todo o centro de dados da Globo, o que inclui o acervo da emissora brasileira e seu enorme tráfego de gravação, edição e pós-produção, da teledramaturgia ao jornalismo. Mas vai além: abarca o uso de inteligência artificial na criação de novos produtos digitais, a publicidade programática para entrega de mensagens customizadas ao comportamento do espectador e a inclusão do Globoplay como aplicativo nativo nas TVs digitais que usam o sistema Android.

Para o Google, é o mais importante acordo com uma grande produtora de conteúdo audiovisual em todo o mundo, e o maior contrato neste segmento já fechado pelo Google Cloud na América Latina. Por sua vez, a Globo ganha escala na produção e distribuição de mídia, e poderá reduzir sua infraestrutura e desativar seu parque tecnológico digital — o que pretende fazer num prazo de 24 meses.

Em que pesem os benefícios econômicos, os olhos da Globo estão mais voltados aos benefícios da transformação digital. Os movimentos seguem a senha dada pelo presidente executivo Jorge Nóbrega, em entrevista publicada por Meio & Mensagem no mês passado. “A criação de capacidade tecnológica é fundamental. Os novos negócios digitais são o mundo das parcerias.”

Empenhada em manter sua posição de liderança no País também na arena das mediatechs, a Globo precisa combinar eficiência em conteúdo e tecnologia. Por outro lado, concederá ganho de experiência na área de produção e distribuição de entretenimento e informação à gigante global que puxa a mídia digital, o meio que mais cresce e tira dinheiro publicitário da Globo e de outras empresas nascidas na mídia tradicional. No Brasil, de acordo com dados do Cenp-Meios, a internet foi o único meio que conseguiu driblar a crise do ano passado, avançando cerca de 1,6%,
enquanto a TV aberta retrocedeu 20%. O faturamento com publicidade da Globo caiu 17% em 2020. Mesmo assim, essa é a sua principal fonte de receita: respondeu por 60% (R$ 7,5 bilhões) do total de R$ 12,5 bilhões (-11%).

Já a Alphabet, controladora do Google, fechou o exercício passado com receita de US$ 182 bilhões (+13%). Apesar da queda na arrecadação publicitária no início da pandemia, a empresa registrou recorde no quarto trimestre de 2020: US$ 46 bilhões, cerca de 22% mais que no mesmo período do ano anterior. A publicidade responde por 80% da receita e o YouTube, que cresceu 45% no último exercício, gera 12% do montante total.

O alerta veio justamente da divisão que é foco do acordo com a Globo: a área de computação em nuvem, que responde por 7% da receita. Embora seja a que mais cresce, na velocidade de 44% no último ano, foi a única que deu prejuízo, mostrando que o negócio ainda não atingiu o break even. É aqui que o Google enfrenta seus maiores concorrentes, outras gigantes como Amazon e Microsoft, na disputa pelo crescente mercado de armazenamento, impactado positivamente pela aceleração da pandemia na digitalização e suporte ao trabalho remoto.

Outro desafio do Google que esbarra na Globo são os embates entre as gigantes de mídia e tecnologia e as produtoras de conteúdo nos processos antitrustes que apontam abusos de poder na distribuição de informação digital e questionam o uso de dados do público — neste último ponto, ainda há incertezas sobre os efeitos do fim dos cookies de terceiros na identificação dos usuários do Google Chrome para venda de publicidade, medida prometida para entrar em vigor em 2022.

As adaptações nas posturas de Globo e Google são reflexo da necessidade de transformação em vários setores da indústria de comunicação e mídia. Expressam, em universos de grandeza diferentes, formas de lidar com o domínio de mercados e a formação de alianças com concorrentes. Algo inimaginável anos atrás, quando artistas de outras emissoras sequer conseguiam aparecer nos intervalos comerciais veiculados na Globo.

*Crédito da foto no topo: iStock

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