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Opinião

Inimigo invisível

Medo não detém proliferação do novo coronavírus, mas abala planos de empresas e marcas, compromete o sucesso de grandes eventos e alimenta indústria das fake news


9 de março de 2020 - 10h48

(Crédito: Ada Yokota/ iStock)

A sensação de medo da propagação de um vírus, que requer em seu combate, entre outros fatores, práticas básicas de higiene pessoal, não combina mesmo com o evento que se colocou nos últimos anos na linha de frente da inovação global. O temor em relação à disseminação do novo coronavírus causou o cancelamento da edição 2020 do South by Southwest, programado para acontecer de 13 a 22 de março.

O anúncio foi feito na sexta-feira, 6, por Steve Adler, prefeito de Austin. Já os organizadores disseram-se “arrasados” com a decisão do governo local e ressaltaram que a situação é inédita na história de 34 anos do SXSW. Informaram ainda que pretendem reagendar o evento, além de oferecer uma experiência online aos participantes inscritos. Nas últimas semanas, a programação já havia sido abalada com desistências de participantes de peso, como Amazon, Facebook, HBO, Netflix e Twitter.

É sintomático dos nossos tempos, em que a ousadia e o arcaico se encontram em cada esquina, que, agora, quando deveríamos falar de temas como a evolução na relação da sociedade com a tecnologia, o impacto social, político e ético da inteligência artificial e a reinvenção da criatividade em contextos determinantes, como a resolução de grandes conflitos, estejamos nos preocupando em lavar as mãos corretamente. É o mundo da contradição.

Evidentemente, não é razoável expor vidas humanas a riscos graves e iminentes, mas reações corporativas desmedidas, que contribuem para o aumento do pânico, também são questionáveis. Não é só a proliferação do novo coronavírus que precisa ser atacada. A apatia, especialmente no ambiente empresarial, causa efeitos danosos a executivos e marcas, e o poder de reação diante de situações de risco pode ser revelador de suas reais personalidades.

Apesar disso, é inevitável reconhecer que o início de uma pandemia afeta a confiança e o estado emocional de muitas pessoas, e, a partir daí, os efeitos na economia e na sociedade são drásticos.

A Covid-19 já é o problema de saúde responsável pelo maior abalo nas viagens de negócios e nas conferências da indústria nas últimas décadas. O AdAge lançou na semana passada o Coronavirus Industry Event Tracker, onde monitora eventos cancelados, como o MipTV, em Cannes, e o MWC, em Barcelona; e adiados, como o Dubai Lynx, organizado pela Ascential (dona do Cannes Lions) e transferido de março para setembro.

Na lista dos mantidos, pelo menos por enquanto, constam o Festival Internacional de Criatividade de Cannes e a Olimpíada de Tóquio. A propósito, na edição impressa desta semana, Meio & Mensagem publica o primeiro capítulo da segunda parte da série especial Marketing na Olimpíada, iniciada em novembro e dezembro do ano passado.

Nesta e nas duas próximas semanas, reportagens abordarão o desafio de agências e anunciantes para aproveitar as oportunidades do real time marketing, os investimentos das marcas de material esportivo em tecnologias que devem ser lançadas este ano e como o Japão está usando o evento para renovar sua imagem perante o mundo. Se a Covid-19 deixar, a série será concluída em julho e agosto, já durante a realização dos jogos.

Enquanto isso, um dos melhores remédios contra o novo coronavírus é a informação correta. E, neste ponto, a maior dificuldade é vencer a nuvem das fake news e se convencer de que se entregar à histeria não faz bem à saúde.

*Crédito da foto no topo: Mike Yukhtenko/ Unsplash

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