Opinião
Novo normal da liderança empresarial
Policrise exige estado de alerta contínuo e amplia a necessidade de uma das principais receitas da boa comunicação: a escuta ativa e genuína
Policrise exige estado de alerta contínuo e amplia a necessidade de uma das principais receitas da boa comunicação: a escuta ativa e genuína
São muitas as tensões políticas, econômicas, sociais, ambientais, sanitárias e humanitárias que impactam todos e se sobrepõem, num fenômeno citado de forma recorrente no mercado: a policrise.
Nas palavras do historiador Adam Tooze, é quando “o todo é ainda mais avassalador que a soma das partes”. A expressão não é nova, mas nunca esteve tão em evidência – foi usada até pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em seu discurso no G20, no Marrocos, no ano passado, para exemplificar como o cenário crítico global tem desdobramentos no Brasil.
Em vez de policrise, Haddad poderia ter mencionado a permacrise, conceito semelhante, que vira e mexe surge nos debates, traduzindo uma era de instabilidade que veio para ficar.
Para o universo corporativo, esse contexto exige um estado de alerta contínuo, pois as policrises sempre geram danos reputacionais, seja para as empresas seja para seus executivos.Nesse cenário de instabilidade, onde muitas vezes a sensação é a de insatisfação generalizada, amplia-se a necessidade de uma das principais receitas da boa comunicação: a escuta ativa e genuína.
E, nesse novo normal, os líderes precisam ter coragem de serem transparentes e abertos a feedbacks que apontem rápidas mudanças.
A velocidade das transformações, sobretudo na tecnologia, e a incerteza diante do presente e do futuro obrigam as organizações a encararem de frente as múltiplas ameaças que se apresentam, recalcular caminhos que até então davam certo e repensar com frequência seu modo de fazer negócios.
O relatório 2024 da consultoria canadense GlobeScan aponta a comunicação como fundamental para navegar nesse meio turbulento de simultâneas crises, devendo ser ferramenta estratégica para inspirar e mudar mentes e comportamentos. O estudo aborda a estreita relação entre uma narrativa coerente e ações sólidas. E a clareza em assumir, praticar e comunicar os compromissos éticos, sociais e ambientais.
As empresas devem se questionar continuamente: minhas atividades estão de acordo com as expectativas da sociedade e, portanto, dos meus clientes? Minhas metas de crescimento contemplam o bem-estar das pessoas? Ofereço um ambiente atraente para os melhores talentos?
Esse panorama complexo e volátil pode parecer assustador para as organizações, mas pode ser enxergado como oportunidade para mudanças nos modelos de liderança e gestão da reputação. Ao adotarem uma abordagem mais inclusiva e transparente, que valorize o diálogo e a colaboração com todas as partes interessadas, líderes empresariais poderão reunir os instrumentos necessários para enfrentar, de forma competitiva e sustentável, as variadas crises que permeiam o mundo corporativo.
É verdade que os interesses dos acionistas sempre terão grande peso nas decisões da companhia e que a qualidade do produto e/ou do serviço importa muito paraa manutenção de sua credibilidade. Mas esse cuidado não é suficiente. É preciso levar em consideração os interesses de outros grupos, como dos colaboradores, do meio ambiente e da opinião pública, ou seja, de todos os seus stakeholders.
Navegar no cenário de policrises exige líderes resilientes, antifrágeis e que se esforcem ainda mais em ouvir, envolver e mobilizar diferentes grupos de partes interessadas, enxergando-os como parceiros para encontrar soluções coletivas.
A opinião do público tem, sim, o poder de estabelecer a cifra de uma empresa. É esse alinhamento que vai garantir a reputation economy, um conceito ainda pouco explorado, mas que nunca foi tão crucial para a sobrevivência e o sucesso de uma marca.
As organizações precisam aprender a gerir a sua reputação assim como os relacionamentos. A confiança humana é como o ar que respiramos. Sem ela não há relações pessoais ou profissionais.
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