O gigante, quase sempre, gentil
Mauro me recebeu, carioca como ele, já VP de Marketing, numa empresa cheia de cultura
Mauro me recebeu, carioca como ele, já VP de Marketing, numa empresa cheia de cultura
Ele passava pela catraca, me via no segundo andar do prédio do escritório e berrava: ‘Seu time perdeu, como sempre. Compense isso com uma boa ideia, pelo menos’. Meu time era, felizmente ainda é, o Flamengo. Ele era, porque infelizmente morreu no último domingo, o tricolor Mauro Multedo, um dos caras mais talentosos e generosos que conheci no campo, às vezes tapete, às vezes várzea, corporativo. Mauro me recebeu, carioca como ele, já VP de Marketing, numa empresa cheia de cultura, uma das maiores marcas do planeta, que ele soube, como poucos, transformar numa aspiração do brasileiro, numa coisa pop, traduzindo genialmente conceitos globais que, nas suas mãos grandonas e dedos de nhoque, pareciam ter nascido no Brasil. Esse era o Mauro profissional. Brigão, expulsava pessoas da sua sala para, no momento seguinte e, na frente de todos, pedir desculpas sinceras.
Apoiava todo plano de PR que fosse diferente, que questionasse o estabelecido. Fazia você se desdobrar em argumentos para convencê-lo. Uma vez convencido, virava seu companheiro de trincheira, morreria por sua ideia, por seu projeto. Também estava sempre buscando apoiar alguém, olhar por alguém. Ainda que parecesse fazer isso como um caminhão Scania num jardim de orquídeas. Sabia ser amigo, conhecia a arte de oferecer um pedaço de pizza num momento difícil, conseguia ser quase carinhoso, como um membro sensível da Família Soprano ou um personagem de Mad Men. Era da velha escola, no que isso pode ser bom ou assustador. No trabalho, era fácil se exasperar com ele. Fazia qualquer um ter que se esforçar muito para quebrar seus argumentos e sua voz enorme. Mas ele fazia isso pela marca, pela ideia. Ou para se divertir com sua irritação. Mesmo nos piores momentos, tudo terminava com um abraço, um sorriso, um pedido de desculpas, ou uma nova discussão, uma nova ideia. Pouca gente, nesse mundo de branding, me ensinou tanto, ainda que não tenhamos trabalhado diretamente. Nos divertimos na mesma empresa de 2011 a 2015, dividíamos uma pizza às quintas feiras à noite em Pinheiros, São Paulo, um bom tempo depois de ambos termos saído da companhia. Tem gente que trisca nosso caminho por algum tempo e tatua sua influência na gente. Mauro fez isso. E agora o que vai fazer é falta, muita falta.
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