O papel das marcas em uma emergência climática: o processo
Toda pessoa é uma liderança ou referência para alguém em algo, e quem está à frente de uma marca tem mais poder ainda para melhorar o mundo às próximas gerações
O papel das marcas em uma emergência climática: o processo
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Estava pensando esses dias sobre ter filhos.
Aqui em casa, falamos sobre ter dois. O que provavelmente será complexo, já que seremos mães de duas crianças com ansiedade climática. Esse é o nome dado para aquele sentimento horrível de angústia com os impactos do aquecimento global e dos desastres naturais extremos, segundo a Associação Americana de Psicologia. Algo que você provavelmente vem sentindo ao acompanhar o que estamos vivendo no Rio Grande do Sul.
Enquanto estava refletindo sobre isso e pensando no que iria escrever aqui, Felipe Simi, que vocês talvez conheçam como fundador da Soko, me contou que uma pesquisa conduzida na Universidade do Novo México detectou presença de microplásticos em todas – vou repetir, TODAS – as amostras de tecidos de testículo de cachorros e seres humanos que foram analisadas, o que pode afetar toda a saúde reprodutiva em um futuro muito próximo e nos levar a um verdadeiro conto da Aia.
Quem não sabe do que eu tô falando, procure assistir à série ou ler o livro depois. E me desculpe por te contar isso e te gerar uma possível crise de ansiedade.
Os dias ultimamente estão assim, né? Um problema atrás do outro. Até meus textos eu sinto que estão ficando meio repetitivos, já que os problemas não mudam. Mas eu sei que você pode me ajudar a mudar o jogo e melhorar o mundo para os meus filhos. E para os seus também, caso você queira ou tenha algum(a) – neste texto especificamente, está até liberado pensar em seus cachorros ou plantas como filhos, ok? Tudo bem, desta vez. Precisamos mudar o futuro para todas as formas de vida. Inclusive para pets e begônias.
E eu sei que você pode ajudar, porque provavelmente é uma liderança para alguém. Ou uma referência em algo. Olha quanto poder você tem em mãos. Como provavelmente tem acesso a ferramentas e espaços que 90% do Brasil não tem. E eu tenho certeza de que tem algo que você pode fazer para ajudar a tirar o mundo da inércia.
Se você estiver à frente de uma marca, você tem mais poder ainda, porque suas escolhas têm energia potencial para gerar mudanças em escala. E este texto existe por isso, porque acredito que as marcas, de forma geral, podem ter um papel muito mais assertivo e relevante do que estão tendo hoje.
E é por acreditar tanto nisso que dividir sete pontos que fazem parte de um processo para que empresas encontrem seu papel em um cenário de emergência climática:
A questão fundamental: qual o lugar da sua marca no cenário de crise ambiental e social atualmente? Quais impactos negativos decorrem da existência da cadeia de produção, de distribuição e de consumo dela? Aqui, impactos positivos são interessantes, mas procure principalmente pelos negativos.
O sentido da vida: por que essa empresa existe mesmo? Qual papel ela tem no mundo? Não vale dizer que é o de vender produto, ok? Qual o motivo da existência dela? Se você não tiver uma resposta social aqui, é importante parar, repensar e desenhar detalhes sobre a marca.
Adiante-se. Ou saia do atraso: como você pode dar vida a esse propósito de forma perene, clara e verdadeira? Como pode transformar impactos negativos em positivos? Está tudo bem fazer isso visando construção de marca, aumento de relevância e lucro. Mas precisa ser feito com responsabilidade.
E no momento de uma crise:
Saiba quando é melhor ficar em silêncio: se você tiver ações para serem executadas ou divulgadas quando uma crise climática ou social ocorrer, considere fortemente cancelar. Isso vale pro always on em redes sociais.
Avalie: por algum motivo você não tem como cancelar a ação? Revise todo o conteúdo em busca de pontos que possam ser problemáticos e que mostrem uma desconexão da marca com o cenário. Considere realizar pequenas edições, adiamentos e mudanças na estratégia de mídia.
Faça alguma coisa: o que sua marca pode fazer nesse cenário que tenha ligação direta com o core business dela? Essa resposta virá muito mais rapidamente para marcas que tenham feito os tópicos 1, 2 e 3 antes. Olhe o exemplo da Ambev que, em poucas horas, mobilizou fábricas para envasar água no lugar de cerveja e destinou milhões de litros para doação no Rio Grande do Sul.
Não protagonize: eu sei, às vezes é tão difícil aprovar ações internamente que vão te cobrar por mais retorno imediato. Mas resista e não aceite colocar o ego da marca à frente da urgência que a ação endereça. As pessoas são protagonistas, não a empresa.
São sete tópicos.
Não vou fingir que são passos simples de realizar. Mas são possíveis e urgentes.
São ferramentas de reputação e de relevância. E formas de cuidarmos do futuro e de sermos lideranças em impacto, não só na CLT.
Como sempre: eu confio em vocês.
Façamos isso pelos nossos filhos. Inclusive os de quatro patas.
P.S.: Este texto é parte de uma série de conteúdos inéditos produzidos para inspirar as marcas mais corajosas do mundo a ocuparem um novo lugar de relevância na sociedade. Além do texto, a série conta com vídeo e entrevista produzidos em parceria com o Festival Mundial de Publicidade de Gramado.
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